quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Vésperas de Samhain- um poema de Rui Mário



 RUI MÁRIO               










Vésperas de Samhain

         (a um caminhante sorridente)



                  Tarde oculta de luzes

                            não explicadas.

                             Desordenadas

                   pois outra é a ordem

                                        viagem

         inesperada de pedra e gelo

             de solitária noite branca

                                              fria

        de deixar saudade no corpo

                                             todo

                   e talvez um ou outro

                                         suspiro

                                         respiro

          final de quem está sempre

                                        ausente

                                       presente

           de montanha a que jamais

                                       se chega

                                          jamais.

             Era assim naquele tempo

                                             lunar

             templo simples de chorar

                                     silêncio(s)...

          Agora permaneces simples

                              como planta(s)

    de alta cilindrada sobrevivente,

                                               ente

                  de se saudar ao passar

                                           nessas

              altas passagens solitárias

                                        imensas.

Chega a deusa de pedras brancas

                                     e avanças

outra vez como todos os minutos:

     avanças de braços abertos, de

                                              veia

                                              veio

                   de sangue que é dado

                                    como festa

                                            fresta

               para um Mundo por vir.

           Passam e passas: cada um

                                      paisagem

                                          Eterna.

                                      Descansa.

                            Poente pousado.



Rui Mário

31 Out 13 (17.15) Aguda


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Nem tudo são rosas no paraíso ou 10 questões sobre o Património de Sintra


JOÃO RODIL

No próximo ano comemoram-se 20 anos da elevação de Sintra a Paisagem Cultural da Humanidade, pela UNESCO. É louvável e justo que se comemore esta efeméride, pois levou o nome e as belezas de Sintra mais além, trouxe mais pessoas com vontade de conhecer as nossas paisagens e monumentos, obrigou os portugueses e, muito particularmente, os sintrenses a defenderem e a zelarem por este lugar único no mundo. Temos, hoje, uma maior consciência patrimonial e ambiental. Estamos mais atentos e despertos para acudirmos ou denunciarmos atentados contra a Natureza ou a nossa História.

Mas nem tudo são rosas neste glorioso Eden que Byron tão bem soube cantar. Sintra merece mais e melhor. E para atingirmos outros níveis de excelência não são necessários projectos megalómanos, nem tiradas demagógicas e desculpas esfarrapadas com as quais já estamos habituados a conviver. Basta amor ao espírito do lugar.

Sem querer apontar o dedo ou melindrar alguém ou alguma instituição, porque o que está feito, feito está, e o que não está ainda vai a tempo, obrigo-me a deixar aqui dez questões sobre o património de Sintra. Porque me preocupo. Porque amo esta terra.

1.     Quem fiscaliza os espaços históricos, na posse de particulares, inseridos na área de Património Mundial? Tem a Câmara de Sintra, o IGESPAR, o Ministério do Ambiente, alguma entidade fiscalizadora das obras nessas propriedades? Alguém sabe o que se passa no interior do Paço dos Ribafria, em pleno Centro Histórico? Alguém sabe que obras foram feitas na Quinta da Penha Verde? Alguém sabe quando é que a Quinta do Relógio será recuperada? E o Convento da Trindade, ainda permanecem na casa e na cerca todos os seus valores artísticos?

2.     O património sob a alçada do Patriarcado é uma incógnita. Obras de dimensão foram feitas na Quinta do Saldanha. Sabemos quais e que possíveis danos causaram? As igrejas e capelas – mesmo as do Centro Histórico, como São Martinho, Misericórdia, Santa Maria – estão quase sempre encerradas ao público. Não seria bom abrir esses espaços, numa coordenação entre as paróquias e a Câmara Municipal?

3.     Quanto ao património da responsabilidade da empresa Parques de Sintra – Monte da Lua, apesar de reconhecer o bom trabalho efectuado em muito dele (Chalet da Condessa, Monserrate, Pena, Castelo dos Mouros, etc.) existem, no entanto, algumas questões pertinentes, sobretudo para a nova direcção que se avizinha. Para quando a recuperação da Quinta da Amizade? Vão deixar desaparecer de vez, já que se encontra em avançado estado de ruína, o Chalet da Tapada do Mouco, casa do Infante dom Afonso? E o Palácio de Queluz? Já existe um projecto de recuperação e restauro?

4.     A Quinta da Regaleira, nas mãos da CulturSintra que, parece, vai deixar de existir e a responsabilidade passará para a Câmara Municipal, é um espaço que dá lucro. Muito mais poderia dar, em meu entender. Mas, então, não podemos deixar de perguntar, passados tantos anos da sua aquisição, para quando as famigeradas obras de restauro do palácio? Vamos continuar, eternamente, com as salas emplastadas por painéis de contraplacado? Não seria de aplicar alguma da verba ganha nessa recuperação?

5.     Infelizmente, muitos dos edifícios degradados no Centro Histórico de Sintra são propriedade do Município. Basta assinalar o vasto conjunto de casas abandonadas das Escadinhas do Hospital ou a do Rio do Porto, que eram duas e uma delas já foi recuperada por um particular. Uma instituição com responsabilidade máxima no seu território, como é o caso da Câmara Municipal, tem que dar o exemplo. Exigir aos outros aquilo que não faz é imperdoável.

6.     Tenho ouvido falar do súbito nascimento de várias unidades hoteleiras em Sintra. Parece que estão para vir aí vários desses estabelecimentos. São úteis e necessários, pela fixação do turista no concelho, pela criação de emprego, pela geração de riqueza. Mas isso não pode ser feito a qualquer preço. A Câmara adquiriu o Hotel Netto e agora diz-se que o problema é o dinheiro que custa manter a sua fachada! Mas poderia ser de modo diferente? Não se sabia, de um saber obrigatório, que a fachada era para manter? É a Câmara que deve obrigar a manter todas as fachadas e, obviamente, obrigar-se a si própria. E a Quinta da Torre dos Ribafria? Aquele valiosíssimo património da História de Sintra e do país vai ser apenas uma unidade hoteleira, com obras e gestão a cargo de privados? Então e o Palácio dos Gandarinha? Esse celebérrimo esqueleto em pé (ainda), verdadeiro postal turístico para quem entra na vila de Sintra?

7.     Há, no Centro Histórico, por inépcia ou ignorância, alguns pedaços do património verdadeiramente esquecidos. Um deles, e que me dói particularmente, é o medieval Celeiro da Jugada. Não se pode adquirir aquele espaço, recuperá-lo e torná-lo público? E para quando um restauro integral do V Passo da Via Sacra, em frente ao Museu Ferreira de Castro? E a reposição das duas cobaias junto ao monumento ao Dr. Carlos França? Sintra é feita de pormenores. Todos eles são importantes na dimensão universal do seu património.

8.     Três destacados edifícios, todos eles carregados de História longínqua, que se encontram devolutos e, por enquanto, sem destino que se conheça. Falo do antigo Hospital de Sintra que pertenceu, ou ainda pertence, à Misericórdia. Que solução? E o edifício dos Correios, encerrado há tempos? Mais recentemente, a antiga Casa da Câmara, mais conhecida como Museu do Brinquedo. Para que vai servir? Não me digam que vai ser mais uma unidade hoteleira… Acho que ali ficaria muito bem um espaço museológico da caricatura e do cartoon ligado a Sintra (Stuart Carvalhais, Francisco Valença, Bordalo Pinheiro, Vasco de Castro, Maria Almira, Leal da Câmara, José Smith, etc.). Fica aqui uma sugestão para o nome: Museu do Traço.

9.     O trânsito na Vila de Sintra. Filas intermináveis de automóveis e autocarros a expelirem fumo horas a fio, no coração de um espaço que se diz Paisagem Cultural da Humanidade. Que preocupações ambientais e patrimoniais temos nós que permitimos este absurdo? Não são medidas pontuais que resolvem este grave e nocivo problema. Mais silo menos silo, mais parque menos parque, a solução deve passar por um projecto integrado. Porque não voltar a colocar o Eléctrico a fazer o trajecto Estefânia – Vila, passando pela estação de comboios? Creio que seria uma solução positiva com duas faces: por um lado, o Eléctrico não é poluente e, por outro, poderia rentabilizar aquele histórico meio de transporte, mesmo na época baixa. Porque não utilizar autocarros não poluentes a fazerem o transbordo dos parques e silos? Porque não restringir o trânsito e estacionamento a moradores, com horários definidos para cargas e descargas?

10.   O Património Imaterial de Sintra. É urgente a sua difusão e o seu aproveitamento, como mercado cultural de excepção. Valorizar esse património é valorizarmos a nossa memória, a nossa identidade. A Literatura, nacional e estrangeira, relacionada com Sintra é, talvez o maior monumento que possuímos. As nossas lendas, usos e costumes são verdadeiramente únicos e deveras cativantes para quem nos visita e com eles contacta. Não se fixam turistas apenas com hotéis. É preciso muito mais. Cultura, diversão, espaços de lazer e de contemplação. Sem o trânsito caótico de hoje, pode trazer-se cultura para as ruas, esplanadas e música, teatro ao ar livre e poesia. Muita poesia, sobretudo, que é, actualmente, coisa escassa no coração humano.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Chalet das Cotovias – Um policial clássico passado em Sintra

MIGUEL REAL

Com força literária inusitada, publicado em 2013, O Chalet das Cotovias, de Carlos Ademar, antigo inspector da Polícia Judiciária e professor na Escola Superior de Polícia, resgata para a literatura portuguesa o romance policial clássico segundo o tradicional modelo de Georges Simenon e Agatha Christie (o policial como espelho das taras sociais e psicológicas da comunidade) e dos seus famosos inspectores da polícia Maigret e Poirot.

Trata-se de uma narrativa de intriga e mistério, de pendor realista que, extrapolando a ocorrência policial específica, intenta constituir-se como espelho histórico da sociedade, afirmando a fidelidade ao real e a veracidade escrupulosa da História, determinada a partir do ponto de vista dos documentos objectivos. No caso de O Chalet das Cotovias, aborda uma história real a partir de fontes reais, envolvendo-as numa trama narrativa exigente.

Em O Chalet das Cotovias, trata-se de retratar os grupos sociais emergentes do Estado Novo ao longo das décadas de 1930 e 40, bem como a especial comunidade de habitantes femininos do Chalet das Cotovias em Sintra. Perfazendo as vezes de Maigret, desponta o chefe de polícia Manuel do Rosário, tão heterodoxo nas investigações quanto o seu homólogo francês.


Assim, por via das investigações em torno do desaparecimento do advogado Luís Lencastre e do aparecimento do seu corpo num descampado em Sintra, o autor, vocacionado por ofício e mestria para a escrita do romance policial, como a sua obra romanesca o prova e este romance o manifesta de um modo absoluto, explora tanto o universo de possibilidades de resolução do mistério policial, segundo metodologias de investigação próprias do período em questão, quanto a descrição de costumes sociais e de mentalidade psicológica do momento histórico, tendo em conta, sobretudo, a aversão moral na época ao lesbicismo, uma época puritana, fundada numa ética rural e católica fundamentalista, que intenta morigerar o liberalismo e o positivismo morais da I República.

No caso da investigação policial, o romance explora todas as possibilidades urdidas pela caracterização das personagens e pelo desenvolvimentos dos factos, desde a possibilidade de vingança política e de ciúme (Arnaldo Veiga, cuja mulher, Margarida, se tornara amante de Luís Lencastre,  e os seus dois serventuários, descritos como autênticos “cães-polícia”) até à de ajuste de contas financeiro (o advogado Costa Valente), passando pela hipótese de roubo e assassinato (os mendigos “Matagatos”  e “Zarolho”).

A solução, só atingida no final do romance, constitui um verdadeiro achado e corre o risco (justo e legítimo) de ficar na história do policial português devido ao seu carácter insólito, ainda que perfeitamente lógico.

No caso da segunda vertente, o de se constituir como retrato da sociedade, João Céu e Silva escreveu no “QI” do “Diário de Notícias” de 3 de Agosto de 2013, que O Chalet das Cotovias opera a “perfeita reconstituição histórica de uma época fundacional do país que sobrevive até hoje”, isto é, evidencia com rigor a formação da polícia política (a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) e a criação da Legião Militar, mostrando que o modo como ambas as instituições arregimentam os seus servidores tem mais a ver com interesses pessoais do que com a defesa de propósitos ideológicos.

No Chalet das Cotovias, em Sintra, sucedem-se reuniões de senhoras que não se limitam ao chá, à quermesse ou bazar ou ao jogo de distracção. Frequentado por Florbela Espanca e Fernanda de Castro, intelectual e mulher de António Ferro, o ideólogo de Oliveira Salazar, as reuniões são animadas por Ju, dona do Chalet, que mantém relações de sentimento carnal com Gabi, Zefa e Maria. A irmã de Luís Lencastre, Rosinha, participa nestas soirées, e o advogado sai de Lisboa e dirige-se para o chalet, em Sintra, onde desaparece.

Ju, avassalada por uma sociedade puritana, fundada nos bons costumes da família burguesa, e por uma ideologia salazarista nascente, baseada na tripla instituição moral purista de Deus, Pátria e Família, fecha o chalet de Sintra e parte para o estrangeiro.

Sob a repressão política, a censura intelectual e a pobreza social, Portugal dormirá o longo sono de 48 anos do Estado Novo, até ressuscitar no dia 25 de Abril de 1974 e as novas Jus não precisarem de exilar-se para darem livre curso à sua sexualidade.

O Chalet das Cotovias,

Parsifal, 332 pp., 14,94 euros.

domingo, 26 de outubro de 2014

Maçã podre

CARLOS CAMACHO

Em Fontanelas e Gouveia, grandes zangas se deram por questões de partilhas.

Famílias inteiras cortaram relações por questões relacionadas com a divisão da herança dos pais e avós. Era comum caminharem para Sintra em disputa de uma extrema de meio palmo  ou três pinheiros mansos. Qualquer coisa que não estava em modos, tribunal, quando não terminava tudo com uma sacholada nas fontes.

Gastavam dez vezes o valor da herança em advogados tarimbados nestas disputas de aldeia e iam sendo chupados a troco da promessa de que iriam ganhar a acção. Somavam-se as perdas de meios-dias a caminhar para o advogado, de chapéu na mão e passo acautelado. O ego não perdoava e sair vitorioso era a paga maior, independentemente do custo. Era um ponto de honra levar de vencida a contenda. Era preciso que a aldeia ficasse a saber quem tinha razão!

 “Não queres lá ver que o teu irmão quer o pinhal? Queria mais nada, não?” Dizia a Bombarda ao Tóino Marreco em jeito de aviso, não fosse o marido prometê-lo ao irmão.

Se ela olha mais alguma vez assim para mim, vou-lhe à cara”, dizia a Clotilde ao Chico Gordo depois das picardias no enterro da sogra por causa do cordão de oiro.

O Zé Rabeca foi ameaçado de forquilha pela Marieta, depois de lhe dizer que só ficava com a Terra do Alto se o matasse. Esteve quase...

Já a coitada da Lisete teve que fugir. Se não desse um pulo para o lado, o João Manias, que era cunhado, passava-lhe com o tractor por cima por causa de uma talha de barro, em disputa ia para 6 anos.

No meio de tanta picardia, existiam alguns que simplesmente deixavam as coisas correr, quer por não terem posses para litígios, serem pessoas mais pacatas ou simplesmente não era da sua índole gerar discórdia e criar conflitos.

O Tóino Marreco, opinioso e banana, a aturar a Bernarda há mais de 30 anos, que era cabra como tudo (em vez de ser duas casas estragadas foi só uma), quando os velhos fecharam os olhos e tocou a partilhas, prepararam tudo para ficar com as Terras de Semeadura, Pinhais e Pomares de Maçã Reineta, afastadas da aldeia mas com bom rendimento. Valiam muito mais do que Serrados, Quintais e bocados cheios de pedra dentro da aldeia, quer pela sua dimensão, quer pela sua utilidade. A Bernarda “pintou a manta” ao Moca e à Ernesta. Ameaçou, fez banzé no posto leite, queixou-se na loja das ratas, foi falar com as vizinhas a dizer mal dos cunhados, chamou-lhes tudo, falou com a bruxa da Várzea, prometeu um cordão à Sra. de Fátima, só para levar a dela avante e ficar com o quinhão melhor. O Moca, coitado, sem posses nem ânimo para contrariar a cunhada nem o irmão, lá concordou e assinou a partilha e o seu prejuízo. À data o Dr. Ulisses, vizinho de longa data, pessoa séria e experimentada nestas lides e com as vistas rasgadas até à nuca e sabendo da contenda, disse-lhe para não se preocupar que eles iriam ficar a ganhar, com o passar do tempo.

Nem mais.

Os pinhais foram consumidos por um valente fogo no Verão seguinte. Ficaram só cavacos e pontas queimadas. As terras de semeadura deixaram de ter utilidade, já que eles estavam a caminhar para velhos, sem forças, a jorna encareceu muito e não eram propícias a maquinaria. Deixaram de ter rendimento e ficaram de campo, bem como os pomares de Maçã Reineta que tinham que ser podados, cavados, sulfatados e raposados à unha. A herança desvalorizou para uma quarta parte ao fim de cinco anos. Já do lado do Moca e da Ernesta, os Quintais, Serrados e outros bocados dentro da povoação valorizaram para a construção, passando a valer dez vezes mais do que na altura da partilha, quando entrou um PDM que excluiu para construção todos os terrenos que estavam fora do perímetro urbano, onde se encontravam aqueles que lhes tinham sido negados. Passados dez anos o arranjo do Moca e da Ernesta era muito melhor do que o do Tóino Marreco e da Bernarda. Nessa altura o Moca, que tinha ficado com a conversa do Dr. Ulisses na ideia, perdeu a vergonha e perguntou ao vizinho:

Ó Sr. Dr. Ulisses. Porque é me disse para não me apoquentar com a minha cunhada?

Responde-lhe prontamente o Dr. Ulisses:

 “Ó Moca. Maçã podre cai sozinha, não é preciso apanhar”.

E caiu...

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sugestões para uma reforma autárquica

FERNANDO MORAIS GOMES
 
Trinta e oito anos de experiências autárquicas, demonstram que é chegado o momento do virar de página no quadro territorial, de competências e de gestão das mesmas. Litoralizado o país, florescendo conurbações interligadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, sobretudo, impõe-se um novo quadro, porque realidades há que exigem novas abordagens, unificando concelhos ou reajustando outros, pesem os bloqueios de paróquia que mais se devem afirmar no quadro de afirmação cultural que na representação institucional.
Por outro lado, mais ágil e adequado se afigura um modelo eleitoral em que as candidaturas sejam para a Assembleia Municipal, sendo presidente o candidato da lista mais votada, e os demais tendo assento na Assembleia, esta com poderes reforçados. O presidente, livre de escolher a sua equipa, apresentaria programa à Assembleia, poderia ser objecto de censura, em tudo acompanhando o modelo actualmente usado com o Governo. Sugeriria que, introduzindo a “nuance” da obrigação de, derrubado um executivo, os opositores deverem apresentar alternativa clara, a sós ou em coligação, em nome do princípio da governabilidade (moção de censura construtiva). Os membros da vereação poderiam ser livremente nomeados e demitidos pelo presidente, e este teria poderes reforçados, havendo vantagens na presidencialização do presidente da câmara, evoluindo do actual modelo para outro mais eficaz. O mesmo quadro para as juntas de freguesia, igualmente sujeitas a reorganização territorial
No quadro da gestão, haveria que criar sistemas de gestão partilhada de serviços e pessoal, num quadro inter-municipal e regional, numa economia de meios e reforço de recursos. Porquê a proliferação de serviços de águas, lixo, cultura, protecção civil por cada município, quando num quadro integrado se poderia obter vantagens de gestão, força de reivindicação, e operacionalidade reforçada?
O quadro das despesas deveria contemplar a maleabilidade do outsourcing, a eliminação de serviços duplicados e o das receitas, derramas sobre as mais-valias a favor de obras ou acções de interesse comunitário e maior participação na fatia dos impostos nacionais. O cheque para a cultura, em que 1% dos impostos e taxas cobrados serviria para financiar um fundo de promoção cultural gerido pela autarquia e pelos agentes culturais, e as isenções de parte do IMI para os proprietários que reabilitassem seriam outras medidas bem vistas.
No quadro do planeamento, prioridade à reabilitação urbana, agilizando os planos de pormenor, reduzindo os pareceres de entidades sempre que haja plano director aprovado e dispensando prazos de apreciação quando os pedidos se ajustassem a plano-tipo que a autarquia disponibilizaria. O recurso a empresas externas para a apreciação de projectos ou a manutenção de equipamentos num quadro de igualdade de oportunidades seria igualmente interessante.
No que a Sintra concerne, seria curial um número de vereadores não superior a 7 e uma assembleia municipal reduzida em 1/3. Já quanto às freguesias, porque não elaborar quadros de pessoal partilhados, ou as mesmas poderem recorrer aos serviços municipais em igualdade de circunstâncias que a Câmara Municipal?.A gestão das áreas da educação, saúde, polícia municipal, cultura ou cobrança de impostos poderia ser feita num âmbito intermunicipal, através de serviços dependentes de associações de municípios ou comunidades intermunicipais, por exemplo.
Claro, tudo isto são só ideias e sugestões. Seria no entanto útil que os visados tivessem uma palavra a dizer em vez de virem a ser surpreendidos com uma reforma autárquica feita a partir de cima e às pressas, e numa lógica meramente economicista.