quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Discussões e Desentendimentos.


CARLOS M. FERREIRA
Autor do livro "Philoronia"
Seremos nós tão evoluídos quanto acreditamos?
 Contrariar é chamar à atenção. É o que parece ser a única forma de possuirmos algum individualismo.
Num mundo onde o rebanho é a nossa principal referência, é inevitável a emergência da necessidade de uma diferenciação em relação aquilo que nos rodeia. Sendo a controvérsia a base da expressão dessa necessidade.
Por vezes, entramos numa troca de argumentos em que não se tenta apenas chegar a uma conclusão. Ao invés, a divergência surge por necessidade de demonstrar a nossa unicidade. Mesmo concordando com a tese do nosso opositor, é muito possível que venhamos a discordar da mesma se estivermos inseguros em relação ao nosso valor, assim como à validade da nossa experiência.
Reagimos por impulso (negação) e não de forma racional (perceber, filtrar e assimilar a informação recebida àquela que já possuíamos).
Encontramo-nos seres possessivos, focados em encontrar e guardar a sete chaves o que é "nosso". Até ao nível das nossas crenças.
Vivendo na chamada era da evolução temos,  no aspeto panorâmico da situação, um mundo em constante crescimento tecnológico, todavia governado por macacos. Animais instintivos dominados por medos que têm por base a ignorância. Medos originados pela falta de conhecimento. Até de nós próprios.
Talvez devêssemos começar a focarmo-nos mais no nosso desenvolvimento enquanto espécie antes de continuar a desenvolver o que nos rodeia.
É como se o Mundo estivesse concebido para nos dar tudo o que precisamos, mas nós, ao não conseguirmos entender as nossas próprias necessidades, começamos a alterar o Mundo para que este preencha aquelas que achamos que possuímos.
Mas as verdadeiras necessidades ficam por satisfazer e então ficamos frustrados, e a frustração leva ao desespero, que leva à atitude de continuar a fazer o mesmo e desejar obter resultados diferentes. Acabando assim por suprimir a questão fulcral: "quem somos nós? De que precisamos realmente?". Não o entendendo ficamos confusos, e cada briga acaba por ser uma tentativa de colocar a culpa dessa confusão num outro qualquer.
Não sabemos quem somos. E o resultado traduz-se em discussão e desentendimento.