Sirvo-me
da posição designada por sentada enquanto usufruo da espera que me foi
concedida nas instalações do Instituto das Pessoas que estão à Espera onde, na
sala de espera do dito estabelecimento se atulham outras pessoas em actividade
de espera. Algumas observam o ticket numerado que colheram no mecanismo
distribuidor de tickets numerados que é visível logo após a entrada no
instituto. Para se estar à espera é necessário retirar um deles, caso contrário
não há qualquer possibilidade de estar em espera. Portanto, qualquer ser vivo
de aspecto humano que se sinta na necessidade de atravessar um intervalo
temporal preenchido por espera, vê-se na obrigação de extrair um ticket assim
que se coloca no interior deste edifício. Cada um desses tickets traz impresso
um número serial que indica que posição ocupa na fila de espera o cidadão que
levou a efeito o acto de o retirar do mecanismo onde ele pendia na ânsia de ser
levado por alguém que por ali passasse. Tendo entre mãos ou entre dedos,
conforme o caso, o pedaço de papel numerado retirado do objecto que distribui a
numeração serial e ordenada, o cliente que anseia por esperar deverá, de
seguida, dirigir-se para a sala de espera que foi instalada ao abrigo de um dos
vastos compartimentos existentes no interior do imenso edifício que é o
Instituto das Pessoas que estão à Espera. Uma vez executada a rápida deslocação
entre o mecanismo distribuidor de tickets e a sala de espera, quem aí chega
torna-se de atenções viradas para a busca de um lugar vago onde se sentar com o
intuito de se tornar a si próprio alvo de uma mais confortável posição para
suportar a espera que o espera enquanto espera que o mostrador colocado no alto
de uma das paredes exiba o número correspondente ao do seu ticket.
A
sala de espera é possuidora de dimensões gigantescas, mede uns cem metros de
comprimento por outros tantos de largura e o seu tecto está afastado do chão
umas cinquenta unidades métricas. Dezenas e dezenas de filas de cadeiras
percorrem a sala, estando cada uma das cadeiras colocadas lado a lado com a
cadeira que se encontra a seu lado e todos os assentos estão virados para a
parede frontal, oposta àquela onde foi colocada a porta de entrada para esta
divisão, de modo a que quem lá se senta fique de olhos direccionados para o
gigantesco mostrador que exibe o número do ticket que acabou de ser chamado.
Sempre que este número se altera para o seu seguinte, respeitando a ordem
crescente, faz-se ouvir por toda a sala um exacerbado sinal sonoro alertando o
dono do ticket com o número correspondente que chegou a sua vez de estar à
espera. A sua vez de estar à espera porque a sala de espera é apenas o local
onde se aguarda que chegue a vez de se estar à espera.
Quando
a pessoa é chamada, transporta o precioso ticket que confirma que é a sua vez
de ser atendido e desloca-se para fora da sala de espera através de uma porta
edificada numa parede lateral que a faz encaminhar por um longuíssimo corredor
para a sala de atendimento. Aí, a pessoa a quem o destino sorriu com a
faculdade de se poder vir a encontrar em espera, ruma para junto do funcionário
que ocupa a mesa que chamou o número em questão e senta-se na cadeira
propositadamente colocada à mesa de cada funcionário, primeiro porque os
variados funcionários dessa divisão estão também de posições sentadas e,
segundo, porque se torna mais confortável para o cliente, visto que é exigido
que este seja questionado com um pequeno inquérito consistindo em perguntar o
nome, a morada, a profissão, a razão que o faz recorrer ao Instituto das
Pessoas que estão à Espera, por que razão deseja esperar e por quanto tempo
deseja esperar.
O
passo seguinte da demanda pela espera é dado quando o funcionário da
instituição prepara um documento com os dados recolhidos do cliente e onde é
prostrada uma carimbada que oficializa, juntamente com a assinatura do dito
funcionário, o pedido de espera por parte do cliente. Este, após entregar a
devida quantia requerida pelo serviço, recebe o referido documento, desune-se
da cadeira em que repousava o corpo e encaminha-se para uma porta que o leva a
entrar e a percorrer um amplo, luminoso e extraordinariamente longo corredor,
tão extraordinário que o seu fim se perde na distância que normalmente
entendemos por longe.
Após
uma árdua e extenuante caminhada abrindo caminho através do desmedido corredor,
o cliente, agora com o título de esperante, vê-se perante uma porta por onde
penetra de modo a permitir que se mostre fisicamente diante de um outro dos
milhares de funcionários que são competência do Instituto das Pessoas que estão
à Espera. Sentado a uma secretária de dimensões soberbas e completa de variadas
coisas e objectos, onde é francamente visível um avantajado monte de papeis que
se desenvolve segundo o eixo do Y, este outro funcionário estende uma mão ao
cliente pedindo-lhe a documentação que obteve na sala de atendimento. Após
consulta minuciosa da mesma, entrega ao requerente uma cópia do documento e uma
pequena chapa metálica com um número gravado na sua superfície. Esse é o número
do compartimento cedido ao indivíduo que quer esperar.
Por
uma outra porta é feita a transposição para uma enormíssima sala que alberga os
compartimentos de espera. Esta sala possui dimensões tão extensas que ocupa uma
grande parte do já de si enorme edifício do Instituto das Pessoas que estão à
Espera. Ao entrar nesta sala, um dos funcionários aí presentes pede que lhe
seja entregue a cópia do documento e a chapa metálica. São estes os
funcionários encarregados de zelar pela boa espera de cada um dos clientes. São
eles que os encaminham até ao compartimento que lhe foi cedido.
A
sala que alberga os compartimentos de espera é idealizada segundo centenas e
centenas de corredores que serpenteiam pelo interior nos vários andares de
altura do Instituto. Cada um desses corredores tem as suas paredes laterais
cobertas por portas que encerram os compartimentos de espera, o local onde o
esperante é encerrado enquanto fica à espera. Cada compartimento pouco maior é
do que uma pessoa e possui uma cama de solteiro e uma casa de banho, nada mais.
As refeições diárias são trazidas e entregues em mão ao esperante por um
funcionário.
O
esperante é guiado para o compartimento que lhe é emprestado e após o decorrer
da totalidade de tempo que o cliente deseja estar em espera, um dos
funcionários é encarregue de o guiar para fora do compartimento de espera, para
fora da sala dos compartimentos de espera e para fora do edifício do Instituto
das Pessoas que estão à Espera.