JOÃO CACHADO
Subordinado ao título Noite em São Petersburgo que, por sua
vez, se enquadrou numa programação que teve como linha de força A
Universalidade do Romantismo, terminou no passado dia 11, em Queluz, a
quadragésima nona edição do festival de Sintra.
De tal ordem foi o gabarito deste serão que não poderei
deixar de lhe dispensar dois pequenos parágrafos de referências muito
genéricas. E, fundamentalmente, para confirmar o actual alto momento das
carreiras de Elisabete Matos e de Sergei Leiferkus cujas vozes, preciso é ter
em consideração, são de absoluta referência mundial.
Acompanhados por Artur Pizarro, que é só o maior pianista
português da actualidade, fizeram um programa totalmente afecto a exigentes
peças de Tchaikovky e Sergei Rachmaninov. Foi tal a expressividade dispensada à
interpretação das obras, que o público - infelizmente sem acesso a uma tradução
para Português dos poemas russos sobre os quais trabalharam os referidos
compositores, algo que não devia acontecer - até conseguiu partilhar o geral
entendimento tão somente sugerido pelos títulos.
Grande entusiasmo, geral satisfação, os correspondentes e
calorosos aplausos foram notas salientes que, naturalmente, se inscrevem no
imenso rol de notáveis momentos da já longa história do Festival de Sintra. E,
a propósito da sua história, posso dar-vos conta de que está em curso a
avaliação da edição finda e de que já se prepara a próxima.
À meia centena é mais caro…
O número redondo da quinquagésima edição – que não coincide
com meio século devido a uma interrupção de oito anos – a comemorar em 2015, já
determinou ao Presidente da Câmara o público compromisso de que haverá meios
especiais e verbas adequadas à celebração da efeméride, em termos tão
esperançosos, que não se coibiu de usar a hipérbole de uma programação digna de
Salzburg, matéria que já tive oportunidade de desenvolver em anterior artigo.
De acordo com o que foi oportunamente divulgado, já sabemos
que, no próximo ano, o Festival distinguirá a figura tutelar da Senhora
Marquesa de Cadaval com especiais atitudes programáticas. Será de prever, por
exemplo, que se faça um particular esforço em trazer até Sintra grandes figuras
da actual pianística mundial, algumas das quais galácticas que, na juventude e
início das respectivas carreiras, beneficiaram daquele mecenato.
Julgo que, igualmente, será altura de convocar pianistas
portugueses intimamente relacionados não só com a génese mas também subsequente
história do Festival, programando recitais e concertos, juntando-os em mesas
redondas, conferências e atitudes análogas. Por outro lado, obedecendo a linhas
de intervenção que eram caras à Senhora Marquesa, propiciar nos programas a
integração de bandas de música, pensar na motivação do público jovem e na sua
conquista para iniciativas informais, etc.
Como aconteceu há dez anos, veria com muito interesse a
possibilidade de promover uma grande Conferência de Abertura, a proferir por
uma conhecida figura da Cultura Portuguesa, tratando um assunto relacionado com
o mundo da Música gerador da maior adesão de público indiferenciado. Natural
será que, de maior fôlego ou como opúsculos, surjam obras sobre a História do
Festival de Sintra. Por outro lado, assim esperamos, deverão ter lugar uma boa
exposição documental, um ciclo de conferências, a disponibilização de materiais
afins das vertentes áudio e audiovisual
para consulta e venda, um ciclo de cinema, etc.
Belíssimos sinais
Sei que o Vice-Presidente da Câmara está a coordenar uma
equipa de colaboradores que, em íntima articulação com o actual Director
Artístico Prof. Adriano Jordão, prepara a programação da edição cinquenta. E
tudo isto de tal modo que, em Setembro, possa ser submetido à consideração das
grandes empresas portuguesas com capacidade de patrocínios substancialmente
significativos.
Desse modo, tal como pretende Rui Pereira, será
previsível garantir a operacionalidade de importantíssimos factores como
publicidade nos melhores media, a divulgação da iniciativa e o envio dos
programas para o circuito internacional dos promotores de viagens de turismo
com o propósito de poderem incluí-los nos seus pacotes de oferta dos circuitos.
Finalmente, cumpre-me chamar a atenção para um detalhe
importantíssimo. Se tudo correr tão bem como parece poder vir a acontecer, a
fasquia voltará a ser erguida ao nível dos melhores pergaminhos do Festival de
Sintra. Ora bem, tal significa que, posteriormente, já não poderá haver
concessões a qualquer baixa de nível.
João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia