“A Parques de Sintra arrancou em dezembro com as obras de recuperação do
Jardim Botânico nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz. Esta intervenção,
com um investimento superior a meio milhão de euros, faz parte do projeto
global de recuperação do Palácio Nacional e Jardins de Queluz, cujas obras
arrancaram em janeiro de 2015. (…)
Esta intervenção surge ainda como resposta à urgente necessidade de
recuperação, salvaguarda e valorização do património cultural e paisagístico
que os jardins de Queluz compreendem, com o intuito de lhes devolver o caráter
lúdico e interpretativo, respeitando a sua composição e a sua relação com a
envolvente. (…)”
[Início das obras de recuperação do Jardim
Botânico nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz. 15 Dezembro, 2015]
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Quando deparamos com frequentes notícias
deste teor, sempre nos ocorre o facto de se tratar de obras que, em todos os
domínios, são extremamente significativas, envolvidos que estão valores como a
ética da recuperação do património, a estética, a soberba qualidade das
intervenções e os custos afins. Porém, tendo em consideração que, no caso da Parques
de Sintra, os recursos financeiros têm origem, praticamente
exclusiva, no produto das bilheteiras, ainda mais surpreendidos ficamos.
É neste contexto que, de facto, se enquadra a
pertinente questão que passo a colocar. Como regatear o preço dos ingressos se,
tão manifestamente, se entende, avalia e conclui acerca do alto discernimento e
proveito com que são aplicadas as verbas assim geradas? E, assim acontecendo,
durante três anos consecutivos, quando, cumulativamente, a mesma entidade
promotora das obras é reconhecida como a melhor do Mundo em recuperação do
património?! Ah, se coisas semelhantes sucedessem em tudo «o resto», não só em
Sintra mas também em todo o país!...
De qualquer modo, como se verifica em todas
as latitudes, é invariavelmente caro o preço do bilhete para visita a qualquer
monumento congénere. Não pode ser de outro modo. Por isso e para isso,
previamente preparam os visitantes a respectiva bolsa. Sabem que é caro. É
caro, torna-se caro e, naturalmente, também por este factor tão determinante, a
concretização da visita se transforma num evento perfeitamente extraordinário,
raro. Repare-se que se trata de um «investimento» cultual que a família decide
aplicar, necessariamente, em detrimento de outras opções.
Famílias haverá às quais jamais se lhe coloca
sequer a questão de aceder a um tal espaço, não porque não disponham da verba
para o efeito mas porque, pura e simplesmente, é coisa que não lhes interessa.
Não foram nem estão motivadas, ignoram olimpicamente, têm diferentes opções. Em
contrapartida, outras pensarão, frequentemente, em aproveitar todas as
oportunidades de acesso o mais conveniente possível.
A propósito, como não propor um pequeno
exercício. Imaginem, por exemplo, uma família de Coimbra, de Castelo Branco ou
de Beja, de recursos médios, com um mínimo de interesses de ordem cultural.
Quantas vezes visitará a Pena em vinte anos, ou na vida inteira? Talvez uma,
duas, quando o(s) filho(s) andava(m) na escola, por ocasião de alguma especial
comemoração? E os Palácios de Queluz, da Vila, de Monserrate, o Castelo dos
Mouros ou o Convento dos Capuchos?
Pois o mesmo acontece na Áustria, país que
bem conheço, com uma família de Melk - cidade que faz parte da Paisagem
Cultural de Wachau, classificada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO - de
visita a Salzburg. Nem mais nem menos! Visitará uma vez os famosos Festung
Hohensalzburg ou Schloss Hellbrunn. E, tanto em Sintra como em Salzburg, todos
ficarão com uma extraordinária memória para o resto das suas vidas…
Estes «investimentos culturais» das famílias
nacionais e estrangeiras serão, aliás, tanto mais ou menos frequentes quanto
mais «viradas» elas estiverem para o mundo da Cultura e menos focalizadas nos
centros comerciais e similares «superfícies» alcatroadas, cimentadas ou
arrelvadas... Aliás, como não poderia deixar de acontecer, a verdade é que tal
conclusão também é evidente no caso de Sintra porquanto, mesmo com o ingresso
gratuito aos domingos, é perfeitamente residual a percentagem de munícipes que
usufruem essa vantagem tão generosa.
Daí que não me canse de lembrar e aconselhar
os residentes no concelho de Sintra a efectuarem as visitas nos fins de semana,
na medida em que os 'nossos' monumentos dependentes da PSML gozam desse
privilégio absolutamente excepcional, durante todos os 52 domingos do ano.
Convém não esquecer que, em relação aos espaços dependentes do Ministério da
Cultura, os portugueses apenas beneficiam de regime algo semelhante no primeiro
domingo de cada mês, portanto, apenas 12 vezes por ano…