Se ainda precisa fosse qualquer demonstração suplementar
para confirmar como Sintra continua armadilhada, os feriados espanhóis entre
os dias 4 e 8 deste mês de Dezembro, que tiveram o condão de exportar para este
extremo sudoeste dezenas de milhar de viaturas, acabaram por confirmar como não
há sequer uma hora a perder relativamente às soluções que cumpre concretizar
imediatamente.
Neste quase fim de ano e, apenas há meia dúzia de dias, tendo
celebrado a redonda data das duas décadas da classificação pela UNESCO de
Sintra como Paisagem Cultural da Humanidade, gostaria de partilhar com os
leitores, pela enésima vez, algumas
preocupações acerca de um assunto indissociável, qual seja o do acesso às
sofisticadas peças de património paisagístico e edificado da sede do concelho.
Afectas à administração e gestão da Parques de Sintra –
entidade que, pela terceira vez, acaba de ser considerada como a melhor do
mundo em conservação do património – Castelo dos Mouros, Palácio e Parque da
Pena, Palácio e Parque de Monserrate e Palácio Nacional de Sintra, são autênticas
jóias da coroa que, de facto, não
poderiam estar mais bem entregues.
Implantadas em plena Serra, nos pontos altos, a meia encosta
ou pontificando no Centro Histórico, suscitam a procura anual de cerca de dois
milhões de visitantes que, muito natural e justamente, Sintra pretende cativar,
no sentido de cá passarem o máximo do seu tempo disponível, com as inerentes
mais-valias.
Para o efeito, imprescindível se torna que a significativa
percentagem de tais visitantes, que chega a este destino conduzindo a sua
viatura, a possa estacionar civilizadamente, tal equivalendo à já decidida mas
ainda não concretizada instalação dos imprescindíveis parques periféricos.
É impossível pensar noutros termos, noutro tipo de parques,
já que os de proximidade, a exemplo do que aconteceu com o projecto do subterrâneo
na Volta do duche, foi liminar e terminantemente condenado, aliás, porque tal
hipóteses de solução até já tinha sido abandonada em qualquer latitude com
idênticas características
Portanto, só por fatal ignorância, infelizmente, como tenho
continuado a assistir, alguém poderá hoje advogar tal opção que, cumulativa e sintomaticamente,
é deveras contundente para a memória de imensa quantidade de militantes da
defesa do património, gente como eu e tantos amigos de Sintra, de todos os
pontos do país e estrangeiro, incluindo artistas, mulheres e homens das Artes e
das Letras, que tanto se empenharam, impedindo a construção de um parque de
estacionamento a poucas dezenas de metros do coração de Sintra.
Há quinze anos, a mobilização dos cidadãos conseguiu evitar
uma aberração. Será ainda preciso vincar e repetir que essa força residual de
cidadania persiste? E que, surgindo
qualquer novo projecto de réplica, a mais ou menos duzentos metros, quer
no Vale da Raposa quer nas suas imediações, o resultado será idêntico? Porque,
caros leitores, se há quinze anos, já não era possível, agora muito menos!
Portanto, parques periféricos! Inequivocamente, parques
periféricos, com a máxima celeridade, nos locais já selecionados, a partir dos
quais funcionarão carreiras de transportes público para todos os destinos, incluindo
os pontos altos da serra, destinos aos quais, pura e simplesmente, deixarão de
aceder quaisquer veículos particulares através da Rampa da Pena. Naturalmente, tal
não contunde com a devida manutenção e requalificação das pequenas bolsas de
estacionamento já existentes.
Como tenho acompanhado o processo de perto, sei que a Câmara
Municipal de Sintra está igualmente preocupadíssima com a situação. Na
realidade, Sintra não tem mais quaisquer
folgas. Os prazos estão esgotados e, neste momento, com a autoridade
democrática que detém, depois de ouvidos todas as partes interessadas, uma vez
decidida a moldura integrada de soluções, só
resta actuar.
A classificação atribuída pela UNESCO há vinte anos continua
a exigir só o melhor de nós. As tais jóias da coroa pressupõem que, a
montante, tudo funciona no sentido de que o próprio acesso já seja uma atitude
cultural e civilizada. Desgraçadamente, com a sucessiva protelação de medidas
que, afinal, são inevitáveis, não temos dado prova cabal de capacidade que se
nos impõe. Concluo como iniciei,
enfatizando que não há sequer uma hora a perder.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
Sem comentários:
Enviar um comentário