sábado, 7 de fevereiro de 2015

Coisices de moça

ZÉLIA NOGUEIRA
Esta manhã estava aquele frio fininho característico desta zona húmida de Colares, a rua enlameada pintava-me os sapatos e eu vestia um casaco grande comprido e grande de afecto também...foi da minha mãe.
Andei como sempre a uma velocidade proibida até perceber o tal barulho que me caracteriza, o de quem está ofegante depois de uma meia maratona e fui diminuindo a marcha até á paragem de autocarro...que cerebro estranho que nega as fragilidades, que falta de inteligência e teimosia absurda...!
Pelo caminho a garça que habita por aqui levantou voo e como são elegantes as garças!! Hoje olhei para os patos com olhos de ver e percebi que eles voam como se os seus corpos pesassem quilos a mais porque parece que "aventam" a cabeça para a frente num esforço grande para que o resto do corpo acompanhe e não se "esbaldeire" pela ribeira, ou no meio das couves ou das alfaces.
Quando vou a Lisboa gosto de olhar para os prédios e imaginar o acordar dos que ainda não se levantaram e os olhos e rostos de quem lá habitará, afinal eu cresci num primeiro andar de um prédio e lembro-me dos hábitos, dos sons, dos tapetes postos ao ar pelas donas de casa primorosas, o cheiro a torradas que saía de um ou outro andar...dos maridos que desciam apressados para ir trabalhar para a Cuf ou para Lisboa e havia o autocarro pejado de pessoas e depois o barco em horas de ponta atulhado até á outra margem...tão antiga esta minha lembrança ui!!!
Há prédios feios, bonitos, tristonhos, solitários, outros alegres e ainda os arrojados na construção, afinal a linha de Sintra é um mix...entretem-me, faz-me pensar em "coisas nenhumas" de importancia alguma... entretém!
Hoje a sala de espera tinha tetos altos e aquele edificio muitos anos. Estavam espalhadas ordenadamente pelo espaço cadeiras semelhantes aquelas do posto médico no Barreiro perto do parque Alfredo da Silva onde eu ia com a minha mãe quando era miudinha e tinha espirrado uma vez ou tossido duas ou três, a minha mãe era uma zeladora mestra.
Olhei para todos os cantos daquela sala com móveis muito antigos e bonitos, com um espelho enorme que tinha mal disfarçado a fechadura aparafusada na moldura de madeira, deverá ter pertencido a um roupeiro talvez e havia no meio de tantas coisas com idade, Orquídeas lindíssimas com um ar tão juvenil que quase destoavam de todo o resto...e passou um senhor bonito, mulato, enfermeiro ou médico talvez, que atravessou a porta de vai-vem e para que não fizesse barulho porque o silencio ali era tão agradável, amparou-a já depois de transposta...e lá estava aquela mão bem desenhada e elegante com uma aliança a segurar o barulho...
Gosto de mãos de homem que não escondem uma aliança, um pacto, um elo...!
Na volta e quase a chegar a casa contei ao Edgar que tenho mais um médico novíssimo e giraço e o Edgar gargalha porque me conhece de ginjeira, sabe que sou desbocada e sabe que nada supera o riso lindo que tem...a mais aquele cabelo grisalho precoce que ele deixa que eu cuide!
Coisices de moça!

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