Diálogo imaginário entre D.Fernando II e um nobre:
- Estou a pensar fazer um palácio soberbo no cimo da
Serra de Sintra... Adquiri o velho convento ali existente, a cerca que o
envolve, assim como o Castelo dos Mouros e as quintas e matas em redor...
- Vossa Majestade não sabe em que apuros se vai
envolver...
- Porquê? O ar é puro, a vista magnífica, o arvoredo
soberbo... Aquela Serra é mágica e o palácio que pretendo erguer será um
cântico em pedra, uma oração à eternidade, um vislumbre do Paraíso...
- Vossa Majestade é um visionário mas dou-lhe por
garantido que irá encontrar mais escolhos do que mar chão, até que tal obra se
conclua. Até parece que já estou a ver: o Grupo de Amigos da Serra irá colocar
em causa o transporte de materiais e o gigantismo da obra, as árvores a
derrubar, a vozearia dos operários, o espezinhar dos caminhos, quiçá o calcar
de vestígios arqueológicos ainda por estudar e recuperar... A Associação de
Benfeitores do Monte da Lua irá certamente questionar Vossa Majestade pela
alteração do perfil da paisagem, pela nova edificação que alterará a vista do
cume de tão soberba serrania e que impossibilitará a plena visão das nuvens em
determinadas épocas do ano... A Liga de Proteção das Aves fará sessões
invetivando contra a destruição do habitat natural da carriça e do chapim
real... A Confraria dos Devotos de Nossa Senhora da Pena irá questionar a
destruição da capelinha, ainda que a mesma esteja em ruínas já bem antes de
1755, mas Vossa Majestade sabe bem que a polémica, em Sintra, anda sempre de
mão dada com o início de qualquer obra... O povo interrogar-se-á pelos gastos
da Coroa e em tudo verá grossa despesa sem necessidade, com tanto palácio que
já por aí há... Como vê, Vossa Majestade, vai meter-se numa carga de
trabalhos...
- Entendo, velho e fiel amigo, são sábias e
corretas as tuas palavras...Mas, no final, será tão magnífica a obra que suplantará qualquer dúvida ou objeção. Palavra de Rei!...
Sem comentários:
Enviar um comentário