domingo, 22 de setembro de 2013

Sobre o debate de 19 de Setembro

TEATROMOSCA

Na ressaca do debate que teve lugar na Casa de Teatro de Sintra, que pontos essenciais podemos anotar sobre os projetos e as propostas das candidaturas à Câmara Municipal de Sintra para a área da cultura?

Estiveram representadas 5 das 10 que se apresentarão a votos no dia 29 de setembro… Podíamos começar por mencionar este facto que revela tanto sobre o modo como os nossos pretendentes a autarcas olham para a Cultura. Mas ficaram muitas ideias pouco estruturadas e pr
opostas pouco realistas que não chegam para que possamos considerar que as candidaturas têm um programa para o sector.

Todos os candidatos estão de acordo quanto à necessidade de descentralizar equipamentos e iniciativas por todo o território do concelho. Mas nenhum foi para lá da proposta do betão armado. Das ideias feitas aos clichés, voltámos a ouvir a velha tirada: “Há por aí tantas sociedades recreativas com palcos e tudo”. Ah! Que saudades destas ideias progressivas!

Falaram-se de vários “espaços sociais de afirmação cultural” – que, já há 20 anos, o sociólogo José Madureira Pinto diferenciava, tendo em conta o seu grau de institucionalização e reconhecimento de legitimidade cultural, por espaços da “chamada cultura erudita”; espaços das indústrias culturais; espaços das “subculturas dominadas e emergentes”; espaços coletivos, públicos ou reservados; e espaços domésticos - sem que os candidatos, ou outros representantes de cada uma das candidaturas, tivessem sido capazes de apresentar projetos reais (e realistas) para cada um deles. Ficámos todos muito centrados nos dois primeiros “cenários”, tecendo comentários, mais ou menos inflamados, sobre a necessidade de acabar com as disparidades existentes no concelho de Sintra. Todas as candidaturas falavam, ou acenavam com a cabeça em sinal de concordância, sobre a necessidade de entregar a programação de alguns dos equipamentos culturais do concelho a entidades privadas. E lá vinham uns acenos de cabeça. Uns para a fotografia. Outros mais convictos. Mas, afinal, entregar a tarefa da programação a quem? Como? Que espaços? Passaria isso pela criação de consórcios que integrassem técnicos da CMS e agentes culturais sintrenses, tendo em vista a dinamização de equipamentos como o Auditório Municipal António Silva, o Centro Cultural Olga Cadaval ou a Casa da Cultura de Mira Sintra? Passaria pelo convite a um ou dois criadores/ diretores para assumirem o cargo de programadores culturais destes espaços? E que modelos de financiamento desses projeto? Que vetores programáticos seriam traçados para esses equipamentos? Nada se concretizou… Ficámos a perceber que os candidatos assinalam os mesmos problemas que nós, mas que têm menos ideias para os solucionar. E, melhor, ficamos a perceber que, mesmo aqueles (partidos) que têm responsabilidades no estado em que as coisas estão, são críticos em relação a tudo isto! Mas o que fizeram eles entretanto? Será mesmo possível acreditar em alguma promessa?

E os financiamentos… para que servem os financiamento? E como devem ser geridas as candidaturas à atribuição de subsídios? E que apoios para as novas estruturas e para os novos criadores? Que critérios para a atribuição de verbas? E propostas para um melhor acompanhamento (não falamos só de “vigilância”) dos projetos? Nada!

E será que alguma das candidaturas (das que estiveram presentes, claro!) foi capaz de surpreender os presentes com projetos inovadores? Alguma coisa? Ah, bom… Em algumas cabeças, lá deve ter voltado a soar o alarme do betão: “Vamos recuperar a Quinta da Ribafria e convertê-la numa Casa das Artes”; ou “Há duas antigas fábricas em Sintra que podem ser aproveitas: a Fábrica da Messa e a Fábrica da Melka”; “Precisamos de mais equipamentos espalhados por todo o concelho, que não só no centro histórico”. Claro que sim. Mas isto ainda é apenas navegar à vista, meus senhores! Então e depois? Com esses espaços recuperados, reinventados, o que fazer com eles? O mesmo que fizeram com o Centro Cultural Olga Cadaval? Entregá-lo a uma empresa municipal para acabar desligado do território em que se insere, sem qualquer ideia de programação, sem futuro? Ou fazer o mesmo que fizeram ao Auditório Municipal António Silva? Deixá-lo moribundo, sem programação alguma, abandonado, interdito o acesso a companhias de teatro, música ou dança do concelho por causa de regulamentos desfasados da realidade cultural do concelho de Sintra? Auditórios pagos com os impostos de todos, para usufruto de poucos ou nenhuns? É isso que se quer para estas novas infraestruturas que pretendem criar?

É claro que seria bom que esses espaços e outros fossem recuperados. É demasiado grave o abandono e a ruína que tomou conta de muitos equipamentos municipais. No entanto, precisamos de perceber que não vamos cair nos mesmos erros do passado e voltar a sonhar com 300 auditórios e cineteatros, para depois percebermos, tarde demais, que precisamos de os habitar e de lhes dar vida, porque, se as pedras do Castelo dos Mouros parecem valer por si (será?), por nos contarem histórias de um tempo em que serviam para afastar intrusos, os auditórios e os cineteatros nos nossos tempos devem ser feitos para nos convidar a invadi-los.

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