sábado, 5 de março de 2016

Relatos de um Alagamarense em Cubucaré – II

GONÇALO SALVATERRA


Podia descrever de forma entusiasta as mirabolantes aventuras que estas florestas me oferecem, como daquela vez que me defendi de um búfalo só com as unhas dos pés, defesa que me foi proporcionada pela ausência de um corta unhas, ou o braço de ferro contra o Irã cego (piton) que facilmente foi vencida com a ajuda de nosso senhor, que não recusou ajuda para este infiel ateu. Ou até aquele dia que nadei por entre piranhas – caso estas existissem nestes rios – para chegar a uma ilha que nada tinha se não meia dúzia de cocos à espera de serem abertos por alguém que tivesse uma faca, devo acrescentar que esse não era o meu caso. Mas tais aventuras não aconteceram, nem vão acontecer.

A minha epopeia é em casa e à noite, para além dos ratos e dos morcegos que já abordei anteriormente, tenho autênticas disputas de território com mosquitos, aranhas e lagartos. Eu bem sei que os mosquitos me comem, as aranhas comem os mosquitos e os lagartos as aranhas e talvez até os mosquitos. Embora pense que os lagartos não possuam estômago suficiente para albergar todo o ecossistema que aqui parasita em meu redor.

Adquiri uma raquete eléctrica estilo ténis, que me ocupa muitas noites de solidão, enquanto imagino que estou numa violenta disputa de ténis, transmitindo em directo para milhares de pessoas, vou de forma indirecta matando milhares de mosquitos ao som do eléctrico CZZZZ. Às vezes penso que já não vou ter lugar no paraíso seja o de Alá ou Iavé, pois acho que já entrei no parâmetro do genocídio. Mato tantos mosquitos como Obama mata crianças no médio oriente. Se calhar até vai valer-me um Nobel da Paz. Embora o recuse pois está claro, comigo só medalha Lenine ou nada feito.

Com mais este testemunho fecho o tema dos meus problemas nocturnos e as minhas fobias psicóticas. Amanhã é outro dia e devo levantar-me cedo, uma vez que “aquele bar” que não existe acorda-me às 6h para me avisar do quão infiel eu sou, pois devia ir rezar.


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