Sempre
me perguntei como seria comer, aquilo que chamamos corriqueiramente de bichos.
Bichos como aqueles que se comem lá no Oriente, onde a variedade alimentar é
quase maior que o numero de habitantes.
Descobri
aqui na Guiné que não precisamos ir para as terras de Mao experienciar esta
exótica iguaria. Todos os dias engulo alguns, ora quando ando de mota ou
bicicleta no sol poente, bem como no expoente, ora quando como pão e até quando
como a famosa bianda (arroz) seja qual for o Mafe (acompanhamento) que acompanhe
a minha refeição. Mas o pão de todas estas formas de degustação é o que mais
aprecio, afinal de contas por apenas 100 francos cfa, posso comer uma baguete recheada.
Faz lembrar aquele pão com passas, mergulhadas na massa.
Bom,
o procedimento é o mesmo, com apenas uma excepção, não é o padeiro que decide
mergulhar os insectos na massa, são eles que numa demonstração, algo admirável,
de suicídio colectivo, escolhem um último banquete em glúten para depois torrar
no fogo ardente do inforno.
Agora
já não preciso ir à China, um dos pontos fortes da viagem era comer bichos,
sim, porque os bichos portugueses não são comestíveis, se é para comer
gafanhoto que seja de olhos em bico ou de pele negra, porque comer um bicho de
pele branca soa a canibalismo, e portanto não pode ser.
Estou
aqui só a falar da minha relação paladar com os bichos, e nem falo de quão boa
é esta comida, o meu estômago adora comida guineense. Ai, ai, estou armado em
Brutus a dar a facadinha nas costas da cozinha guineense. Vejam bem que a minha
médica achava que eu ia esvair-me em diarreia, mas a única que tive foi no dia
em que o professor ganhou as eleições.
Por
aqui, come-se bem, como é maravilhoso o siti (óleo palma) e o bonto (caldo de
palma), já para não falar do caldo de mancara (caldo de amendoim), tudo claro
misturado com arroz, aquele arroz verdadeiro, sem produto - devo acrescentar,
porque não há dinheiro para comprar insecticidas, só por isso - comprado na mão
do produtor. Para intensificar a experiência da língua, colocamos um belo peixe
seco, – que para ser franco, é bom de sabor, mas mau de aparência moído naqueles
grandes pilões - e claro para alegria da minha mãe, uma boa dose diária de
verdura com uma saborosa palha de batata (folha da batata doce).
Por
cá também há cebola, alho e afins, plantado no que nós chamamos horta, e por
eles hortaliça, aliás eu andei o tempo todo até há uns dias atrás a pensar que
“hortaliça” era de facto a nossa hortaliça, mas não. Basicamente tenho quase 30
entrevistas para alterar nos próximos dias.
Amanhã
é dia de comer, mas não sei ainda o que será o acompanhamento, a parte
principal, essa já eu sei, o mesmo de todos os dias – para provar que certos
determinismos existem - o belo do arroz, ou bianda se quisermos chamar as
coisas pelos nomes. Tenho que me tratar bem, porque à velocidade com que os
mosquitos me comem, se o almoço atrasar não restará nada se não pele e osso.
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