segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os Nobres, os Plebeus e os Incógnitos!


RUI OLIVEIRA

Frequentemente encontra-se nos Registos Paroquiais de Belas, nomeadamente, nos de Baptismo os que estão, para já, submetidos a uma leitura mais atenta e metódica o registo de baptismo de crianças em que as mães são referidas como: escravas de fulano de tal….; em que o pai é dado como: incógnito. Esta realidade, não sendo esmagadora, está longe de ser esporádica e temos até registos em que a mesma escrava tem, nestes livros, dois registos de crianças baptizadas.

Naturalmente que existem, também, registo de crianças em que ambos os pais são escravos. A posse de escravos, ainda pela leitura dos registos, é transversal na sociedade. Pelo que temos Nobres, como os Soto Maior, da Ponte Pedrinha, Padres, mas, também, gente sem qualquer grau ou título nobilitário ou poder político, mas com peso económico localmente ou mesmo a nível do Reino. Precisamente neste patamar, o de gente com dinheiro, está o registo que aqui vos deixo.

A escrava Guiomar, como nos diz o registo, era de Joseph dos Ramos da Silva, provedor da Casa da Moeda, senhor de uma poderosa fortuna, ganha no Brasil, pai de um dos mais desconhecidos intelectuais setecentistas, o Matias Aires. Da passagem desta família rica, mas plebeia, pela Agualva, ficou o majestoso palacete que, tal como a família, teve e tem uma existência atribulada.

Do registo, propriamente dito, também podemos reter alguns dados interessantes. A primeira é que o texto não foi escrito pelo Prior de Belas, Gaspar de Negreiros, uma vez que a sua assinatura denota dificuldades motoras na escrita; algo que fomos constatando ao longo de um período razoável. A situação poderia estar relacionada com o envelhecimento, doença de foro neurológico e ou de visão. A segunda, o texto, apesar de caligrafia regular, apresenta uma fórmula textual ligeiramente diferente da usual neste tipo de registos, sugerindo que quem escreveu não estava familiarizado com as normas de registo.

Coincidência ou não, o Prior de Belas, também tinha, pelo menos, uma escrava que foi mãe; tendo a criança recebido nome de Bento, do qual temos o Registo de Baptismo.




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