terça-feira, 15 de abril de 2014

Não deixemos fugir Abril!

GONÇALO SALVATERRA
Caros amigos, o meu nome é Gonçalo, tenho 22 anos, nasci em 1992, 18 anos depois da revolução de Abril, um dos acontecimentos – se não o mais importante- da história contemporânea portuguesa. Uma revolução que pela forma como foi feita impressiona os cientistas políticos, historiadores, estrategas entre outros. Uma revolução que ocorreu quase que por milagre com menos de uma dezena de mortes. Em curtos parágrafos, venho expor aqui a minha visão sobre o mais bonito feito português.



Nos últimos tempos, a revolução de Abril tem vindo a ser discutida nos meios mediáticos, coisa normal tendo em conta que celebra 40 anos, o que já não acho normal é um certo aproveitamento político que algumas forças fazem dela. Fica bem a qualquer “democrata” que se preze, defender os valores de abril. Bem, pelo menos nas palavras, porque nas atitudes manifestadas ao longo destes 40 anos, conseguimos perceber, quem está e quem não está com Abril. O memorando da Troika, esse, com certeza não está com Abril, se é que me entendem. Esta agitação mediática, também motiva muita conversa de café. A minha escola (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) não foge à regra. Os que parecem mais interessar-se por este assunto são os estudantes de ciência política, muitos dos quais insistem que o fascismo português não existiu, mas sim um regime autoritário moderado ou que a revolução não se tratou, de facto, de uma revolução mas sim de um golpe de estado. Isto para mim é difícil de aceitar, pensemos que professores lhes dão aulas, e rapidamente chegaremos a uma conclusão, afinal de contas – e por muito que me custe admitir- a minha escola ainda tem alguma tradição de “24”, era ela chamada de  Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Mas pronto, isto tudo são apenas deambulações, por vezes frustradas.



Há uns tempos, enquanto via um documentário do realizador Rui Simões, Bom Povo Português, pensava em como teria sido bom ter vivido a época da revolução, o sentimento do PREC, onde o povo, embebido em poder merecido, conquistou com sucessivas lutas os direitos que vim a usufruir ao longo da minha curta vida. Mas agora que penso nisso, roubo a ideia do filme Meia-noite em Paris de Woody Allen. Não podemos viver na golden age, em que a ideia de um passado melhor nos impossibilita de viver o presente, e o meu presente são os valores de Abril, e se agora tenho 22 anos, é com a energia de um jovem que tenho que lutar pelas lutas presentes, manter os valores de Abril que tantos nos tentam roubar.



Eu tive a sorte de poder ter uma educação, sou um privilegiado, pois saímos do fascismo com uma taxa de analfabetismo na orla dos 26%, hoje a taxa é de 5.23%, um feito de Abril, mas muito ainda há para transformar. Os sucessivos ataques à Constituição de ‘76 feitos em sete revisões, fizeram com que, hoje tenha que trabalhar para poder estudar, mas continuo a ser um privilegiado, tenho trabalho, pois há aqueles que não podem estudar por condições económicas, e aqueles que também não conseguem usufruir de um serviço nacional de saúde gratuito e de qualidade e ainda aqueles que nem a uma habitação têm direito, esta é a luta presente, e se vivo agora, é agora que tenho que lutar para no futuro de Portugal mantermos bem presentes e vivos os valores de Abril.


2 comentários:

  1. Alguém que altere aquela Constituição, por favor, está obsoleta e foi criada num contexto muito próprio.

    Frederico Paradela de Abreu

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  2. Trata-se de uma Constituição construída através da luta do povo português, luta que está expressa na CRP, finalizada a 2 de Abril de '76, cujos princípios só vão contra quem nela viu perder, e para mim resume-se à direita burguesa. Dizer coisas dessas é o que o governo quer, aliás até já foi frisado varias vezes por membros do PSD, e pelo CDS nem preciso falar visto que não a assinaram.
    A CRP se tivesse sido cumprida pelos nossos governantes ao longo destes 40 anos levaria o país ao progresso, o verdadeiro progresso que só é atingível pela igualdade de acesso e oportunidades. Mas isto é só a minha opinião.
    Gonçalo Salvaterra

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