Desci a cauda de um dragão. Escorreguei.
A beleza de um animal ancestral é a sua brutalidade, a
sua ausência de medo. Garras em vez de mãos. Escamas em vez de pele. Queimada
do sol, suei. O corpo-crocodilo imanava um cheiro ácido de sexo versus a minha
virgindade árida e adocicada. Sabia ao que ia. Sabíamos os dois...
Nenhum vacilou. Nenhum se demorou...
Desviando o olhar um do outro, procurámos as bocas onde
ainda não moravam beijos. Respiramos juntos...
No entreaberto-pequeno por onde vibram os corações
humanos as línguas encontraram-se num ninho. Unindo-se, uniram-nos. Senti as
pernas encharcadas, as costas feridas sangravam pequenas gotinhas de fel.
Silêncio! A boca fechou-se. O arco da cabeça vibrou.
Entregamo-nos os dois...
Não há amor onde existe ego. Não houve performance. Nem
tão pouco houve só sexo. Houve tudo o resto... Mão na mão. Peito a favor de
peito.
-
Porque demoraste tanto?
-
Acho que perdi o foco no caminho...
Palavras a mais para quê? Chegámos onde éramos
destinados. Reconhecemo-nos. Reencontramo-nos. O resto são literalmente restos
sem nexo...
Senti o líquido sagrado subir-me as entranhas.
-
És meu?
-
Todo teu.
As bocas reuniram-se em paz e foi assim que o primeiro
beijo da humanidade se deu.
Desci a cauda do dragão... Escorreguei mas não cai.
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