Os
sapatinhos vermelhos ardem-nos nos pés.
Quem
somos nós?
As
brabas...
Mulher
carcomidas em suas almas.
Mulheres
desmembradas.
Mulheres
mal-amadas...
Somos
as mulheres-filhas-da-mães que fazem o fogo nos seus fogões, que assam a comida
nas suas entranhas, que lavam o chão com o seu suor, que limpam os talheres até
brilharem no escuro e com as suas lágrimas ainda esfregam o fogão...
Somos
as Sylvias Plath fartas deste caminho. As mulheres sem mãos...
Perdemos
o norte, o sul, o oeste e o faroeste.
Perdemos
os índios porque fomos comidas por cowboys...
Em
noites de lua cheia fugimos das camas perfumadas e passadas a ferro para
corrermos nuas e inteiras nas clareiras das fogueiras.
(Pois)
Já não somos ninguém...
Procuramos
o "tudo" para encontrarmos rigorosamente nada.
Já
não somos ninguém...(?)
Ergueram-nos
estátuas-frias para depois nos arderam junto dos livros antigos.
Fomos
adoradas para rapidamente sermos esquecidas...
Já
não somos ninguém (...)
Mulher
braba, também eu ando perdida, estende-me o teu braço que eu dou-te a minha
mão.
Quando
a lua regressar com os seus segredos de negrume-preto vamos prometer(nus)
caminhar juntas pelas entradas da loucura até ao vale da imensidão.
Mulher
braba, calaram-nos a voz mas não nos calaram a alma que ainda arde ao sabor do
vento nas lareiras vazias de fogo cheias de teias de aranha esquecidas...
Trocaram-nos
por ares condicionados, é um facto, mas não estamos totalmente perdidas.
Mulher
Braba, que as tuas noites de horror se juntem às minhas, que o teu útero jorre,
agora, somente de alegria, que a tua avó sossegue junto da minha porque nem tu,
nem eu, nem as nossas filhas, devem sofrer esta agonia de cantar um canto
cândido que toda a alma dança mas só ás escondidas...
Que
se fodam as torradeiras!
Que
se queimem as assadeiras!
Que
vão para o inferno as barrigas-gordas cheias de fome porque o nosso destino é
dançar loucas e sem destino até nos cortarem os pés.
E
já agora "Sapatinhos vermelhos"...
Esses
fodidos e estrupidos "sapatinhos vermelhos" que se expludam em mil
pedaços!
Até
ao final de todas as Brabas.
Sem comentários:
Enviar um comentário