PARTE I
1.O desenvolvimento alcançado
modernamente pelas ciências, em especial pelas ciências naturais (ramo que as
opõe naturalmente às ciências artificiais) deu ensejo a que se procurasse
relacionar os resultados obtidos pelas investigações científicas com as
VERDADES REVELADAS.
2. Ora, estas verdades, as designadas
por REVELADAS, provém da chamada CIÊNCIA INFUSA. Esta CIÊNCIA INFUSA (por vezes
difusa para aqueles que nela acreditam em percentagens movediças) provém de um
ente tido por supraHumano. No antigo Egipto esse ente, como se sabe, era o Sol
– o astro-rei que veio a saber-se ser uma estrela. Em outras mais recentes
religiões, esse ente toma a designação de deus no singular e, para bem o
distinguir do plural “deuses”, mandam grafa-lo com D maiúsculo. E, como o povo
dantes dizia, “manda quem pode &
obedece quem deve”. Mas, como quem
não deve, não teme, temos que…
3.… nos vários credos que vêm
grassando pelo mundo, com +/- graça têm aparecido teóricos dessa deidade, chamados
de teólogos ou de teósofos (conforme a cor, a direcção, o peso e a densidade
das teorias em causa) que sustentam não poder haver contradições entre a
ciência dos ateus e a ciência dos crentes. No entanto, há autores – e nãoPoucos
– que afirmam haver de facto demasiadas Contradições demasiado Evidentes.
4.Serenamente, percebe-se então que há
de facto inumeráveis contradições entre a religião e a ciência, entre a fé e a
razão. Não vamos, porém, tratar de qualquer fé – a fé não se discute, aceita-se
sem que a razão intervenha. E prontus!
5.Antes
de serem inventadas as ciências infusas, existiram as ciências ocultas; matéria
muito séria que ainda hoje faz sorrir boa gente.
Antes
de ter sido inventada aquela matéria científica, que veio depois a ser designada
por – por exemplo – Psicologia das massas amorfas, já o sorriso amarelo de
diferentes tonalidades era a reacção dominante dos bem e mal pensantes com
pretensões cientificantes dentro do sériÓsisudo.
6.As principais ciências ocultas que
atingiram grande celebridade na denominada Idade Média europeia…
7… período histórico algo
pardacento que, como sabido, se divide em Alta, Média e Baixa Idade Média,
conforme o grau de circunspecção e concupiscência do tema em análise…
8.… foram a Alquimia, a Astrologia, a Cartomância
e a Magia – importadas de modo mais ou menos directo da velha Caldeia (actual
Palestina) e do Antigo Egipto.
9.Segundo corre por aí, certos
arqueólogos que conseguiram decifrar restos de hieróglifos ainda aglutinados,
afirmam que os faraós tinham ao seu serviço magos que pretenderiam imitar os
prodígios pirotécnicos e de prestidigitação de Moisés – tal como converter
varas em serpentes e estas em varas hirtas; e destas para viperinas
ondulatórias.
10.A Astrologia tinha por fim adivinhar o
futuro. A Alquimia, a transmutação dos metais – do ferro para o bronze e deste
para o ouro (de preferência não volátil e ainda sem capacidade de entrar na
bolsa de valores). A Magia ocupava-se da busca do remédio universal e,
consequentemente, do estabelecimento do elixir da imortalidade.
11.Tanto acolhimento vieram a ter as
ciências ocultas que no século X existia na Universidade de Bolonha uma cátedra
para o ensino da Astrologia Judicial.
12.Chegando cada corte europeia do século
XI, a ter um astrólogo que traçava os horóscopos e acompanhava os monarcas e
seus ministros, conforme a disposição dos planetas e sinais encontráveis nas
percentagens de cinzentos (mais ou menos escuros) nas nuvens que certos ventos
tinham o poder de acumular em horizontes físicos mas sobretudo mentais.
13.Do exercício destas ciências,
passou-se ao seu estudo ainda mais científico, tendo nascido – com lentidão
exasperante – uma alquimia de terceira geração. Esta veio a denominar-se Química:
uma muito invejada Ciência – Espavento.
14.Para a prática das várias classes e
níveis de Magia (nunca esquecer os níveis!) empregavam-se objectos he-te-ró-cli-tó-Compostos.
Nos sortilégios empregava-se sangue obtido fresco de galináceos, na falta de águias
e gaviões; lebres e coelhinhos brancos, na falta de animais de maior porte.
15.E no maior porte, entenda-se aqui as
fêmeas ovelha e cabra. Do sangue fresco dos machos esperavam aqueles cientistas
obter melhores orientações racionais – usavam, assim, o cordeiro para tirar os
pecados do mundo e o bode para espiar faltas de naturezas outras…
16.Para casos mais complexos e em
hierarquias sociais superiores, era empregue o sangue de crianças. Se tais
crianças eram obtidas entre os escravos, livros arquiArcaicos que certas religiões
ainda utilizam, mencionam sangue de criança, filha do próprio mago oficiante.
17.Houve mestres e professores públicos
de necromancia e escreveram-se numerosas e volumosas obras (algumas
soberbamente ilustradas) com sentenças, receitas e aforismos em linguagem
obscura ou criptografada.
18.Como reminiscências, que muita gente
distraída julga temporalmente muito e suficientemente afastadas, existem as
cartomantes, as sonâmbulas, videntes e outras exploradoras Certificadoras das
incógnitas da vida. É curioso observar, porém, que essas profissões,
tradicionalmente ocupações e vocações femininas na maioria dos centros civilizacionais,
passaram a ter acesa concorrência do sexo oposto.
19.Este assunto pode parecer sem
importância e perdido na poeira dos tempos. Acontece que atentos sociólogos
descobriram, por exemplo, que demasiadas irrequietudes sociais da etnia roma ou
romani (vulgo ciganos) se possa dever à perda da exclusividade de leitura da
sina, feita agora por magos encartados, ora de raça negra, ora indo-ariana, com
consultórios anunciados na grande imprensa e entrevistas na televisão.
20.Mas, não vos espanteis, Senhoras e
Senhores! As chamadas cartas astrais, seus traçados a cores e decifração/interpretação,
há mais de 30 anos que se encontra sob a forma de software para qualquer computador portátil adquirido no
supermercado dali.
21.Desde que as estações de correios
passaram a ter escaparates e expositores de “gadgets” e livralhada, fácil se torna adquirir ciência futurológica
– cartologia “tarot”, invocação de anjos tutelares, levitação em 10 lições, etc.
PARTE II
1.Do confuso emaranhado com CIÊNCIAS
OCULTAS, estivemos até agora expondo algumas facetas da ciência infusa, aquele dom preter-natural pelo qual um nunca visto
Ente supraHumano comunica a uma inteligência Humana, a inteligibilidade das
coisas sem o concurso dos sentidos nem do esforço intelectivo. É assim e pronto!
2.Infusão, como sabeis, é a
conservação temporária de uma substância num líquido para se lhe extrair
princípios medicamentosos ou alimentícios. E cremos bem terem percebido que a
ciência infusa é a dos conhecimentos ou virtudes que alguém tem sem haver
trabalhado para os adquirir…
3.Vamos falar-vos agora da outra
ciência, aquela que precisa de trabalho, e não pouco, para a sua percepção.
Isto é, o conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas e sobre as
suas condições de existência. E também a investigação metódica das leis dos
seus fenómenos.
4.Esse tipo de ciência nasceu da
Grécia do século VI a.C. com a preocupação de fundamentar e sistematizar o
saber. E tudo parece indicar que nasceu ao mesmo tempo que a indagação racional
sobre o mundo e o Homem, com o propósito de encontrar a sua explicação última.
Essa indagação racional passou a denominar-se Filosofia. “Filo” de amigo, +
“Sofia” de conhecimento, como se ensina (ou ensinava…) nos bancos da escola
d'Antigamente: “Amor da Sabedoria”.
5.Acontece que até hoje as questões da
relação entre a ciência e a filosofia continuam a não encontrar consenso na
mente humana. São possíveis, porém, três respostas fundamentais a este
respeito. 1ª resposta: a Ciência e a Filosofia não têm qualquer relação.
6.2ª resposta: a Ciência e a Filosofia
estão tão intimamente relacionadas entre si, que de facto são uma só e a mesma
coisa.
7.3ª
resposta : a Ciência e a Filosofia mantêm entre si relações muito
complexas.
Complexidade A (de ABERTO, de ANGÚSTIA, de AGUDO): a relação entre as duas é de índole histórica – a Fi foi, e continuará a ser, aquela que se ocupada da formação dos problemas, depois tomados pela Ci para os solucionar.
Complexidade A (de ABERTO, de ANGÚSTIA, de AGUDO): a relação entre as duas é de índole histórica – a Fi foi, e continuará a ser, aquela que se ocupada da formação dos problemas, depois tomados pela Ci para os solucionar.
8.Complexidade
B (de BRILHO, de BURACO, de BERRO): a Fi é não só a mãe, como
madrinha-madrasta-tia das Cis no decurso da história, mas também – SALVE! – a
rainha das Cis em absoluto. Quer por conhecer o +Alto grau de abstracção / quer
por se ocupar do Ser em geral / quer por tratar dos pressupostos das Ciências.
9.Complexidade
C (de CIFRA, de CIMO, de CERTEZA): a Ci, as Cis, constituem um dos objectos
da Fi ao lado dos outros; há por isso uma Fi da Ci (e das diversas Cis
fundamentais) tal como há uma Fi da religião, uma Fi da arte, uma Fi da
Indignação, etc.
10.Complexidade
D (de DELEITE, de DESERTO, de DELÍRIO): a Fi é fundamentalmente a teoria do
conhecimento das Cis. Isto porque o que distingue uma Ci de outra Ci, não é a
natureza dos objectos que estuda, mas o ponto de vista sob o qual os estuda.
11.Complexidade
E (de ESPELHO, de ESPANTO, de ESCURO): as teorias científicas mais
compreensíveis – surpreendentemente – são teorias de teorias.
12.Complexidade
F (de FELIZ, de FRÁGIL, de FARDO): a Fi está em relação de constante intercâmbio
mútuo relativamente à Ci; proporcionando-lhe certos afagos, perdão, certos
conceitos gerais (ou certas análises) enquanto esta proporciona àquela, dados
sobre os quais desenvolve esses conceitos gerais (ou, enfim, leva ou tenta
levar a cabo essas análises).
13.Complexidade
G (de GRETA, de GRAVE, de GOZO) : a Filosofia examina certos enunciados que
a Ciência supõe, mas que não pertencem à linguagem desta.
PARTE III
1.Enumerámos
7 complexidades: pensamos nós que a sua totalidade! Será fácil, no entanto,
comprovar que a maior parte delas é de dramático carácter parcial.
2.Onde a
tal parcialidade se fica a dever a um suposto prévio: o de que Ciência e Filosofia
são conjuntos de proposições que se procuram comparar, identificar, subordinar,
entrelaçar, enroscar, rivalizar, abocanhar, etc.
3.Não
fora o caso pragmático de estarmos dentro deste espectáculo, teceríamos umas
tantas considerações – nomeadamente o facto de, para não poucos cientistas, a
Filosofia Não Ser um conjunto de
sofismas nem de sistemas que emergem e se fundem continuamente…
4.… nem
de mais ou menos lindas concepções, em última análise, de índole poética.
MÚSICA
+ VÍDEO Nº….
5.A
inquietude do ser Pensante desde sempre tentou classificar as Ciências. Parece
unânime, no entanto, que as antigas classificações têm hoje apenas ridente interesse
histórico.
6.Foi só
no século XIX que apareceram classificações com valor doutrinal e fundadas na
natureza dos problemas colocados pelas diversas Ciências. Um senhor importante
como Augusto Comte reconheceu 6 fundamentais: Matemática, Astronomia, Física,
Química, Biologia e Sociologia. Teve, porém, a ideia de juntar uma 7ª ciência
que ele classificou de suprema: a Moral. Esta bizarra categoria – Ciência Moral
– fez abalar parte do edifício da racionalidade científica.
7.Óbvio
que outros, muitos outros, vieram com outras ideias, tais como Ciências
abstractas, abstrato-concretas e concretas,
8. Ciências
do logos,
9. Ciências
da realidade,
10. Ciências
naturais e artificiais,
11. Ciências
formais,
12. Ciências
do espírito,
13. Ciências
fenomenológicas, genéticas e sistemáticas,
14. Ciências
físicas precisas e imprecisas,
15. Ciências
físicas sinópticas,
16. Ciências
biológicas,
17. Ciências
empíricas e subjectivas – tal como as Sociais,
18. Ciências
matemáticas,
19. Ciências
filosóficas e por aí fora, fora e fora num vasto delírio de taxonomias.
20.Os
exemplos apontados constituem simples indicadores de quanto é difícil encontrar
critérios válidos de tipologização e de quanto parece fácil operar reduções,
formular postulados e exibir preconceitos.
21.Mas,
Senhoras e Senhores, urge dizê-lo: a classificação das ciências em pormenor é
simples matéria de conveniência. Tem muito maior e duvidoso valor prático do que
concreto significado teórico
……………………………………………………….(TAMBOR)
22.Pois …
acontece é que as relações entre Filosofia e Ciência estiveram sempre marcadas
e …
23.… e
continuam a estar marcadas, acaso mais do que nunca …
24.… pelo
sinal da am-bi-gui-da-de.
25.É essa
ambiguidade que se estabelece com frequência excessiva, ao tornar sinónimos e
unívocos os conceitos “exactidão &
verdade”…
26.… “verdade & objectividade”!
27.Falar
mais para quê?
(GONGUE)
*********TEXTO DA CONVERSA AO TELEFONE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(segue Parte IV–
Arte ………………………………………………..e final)
Eduardo Sérgio Pessoa de Magalhães Figueiredo é 2ª Barão da Costeira. Nasceu a 11 de Abril de 1937 e é professor universitário aposentado, escultor, músico e art performer.
Representado, como músico, em