terça-feira, 24 de novembro de 2015

Tresler Ciência

EDUARDO SÉRGIO



PARTE I

1.O desenvolvimento alcançado modernamente pelas ciências, em especial pelas ciências naturais (ramo que as opõe naturalmente às ciências artificiais) deu ensejo a que se procurasse relacionar os resultados obtidos pelas investigações científicas com as VERDADES REVELADAS.

2. Ora, estas verdades, as designadas por REVELADAS, provém da chamada CIÊNCIA INFUSA. Esta CIÊNCIA INFUSA (por vezes difusa para aqueles que nela acreditam em percentagens movediças) provém de um ente tido por supraHumano. No antigo Egipto esse ente, como se sabe, era o Sol – o astro-rei que veio a saber-se ser uma estrela. Em outras mais recentes religiões, esse ente toma a designação de deus no singular e, para bem o distinguir do plural “deuses”, mandam grafa-lo com D maiúsculo. E, como o povo dantes dizia, “manda quem pode & obedece quem deve”. Mas, como quem não deve, não teme, temos que…

3.… nos vários credos que vêm grassando pelo mundo, com +/- graça têm aparecido teóricos dessa deidade, chamados de teólogos ou de teósofos (conforme a cor, a direcção, o peso e a densidade das teorias em causa) que sustentam não poder haver contradições entre a ciência dos ateus e a ciência dos crentes. No entanto, há autores – e nãoPoucos – que afirmam haver de facto demasiadas Contradições demasiado Evidentes.

4.Serenamente, percebe-se então que há de facto inumeráveis contradições entre a religião e a ciência, entre a fé e a razão. Não vamos, porém, tratar de qualquer fé – a fé não se discute, aceita-se sem que a razão intervenha. E prontus!

5.Antes de serem inventadas as ciências infusas, existiram as ciências ocultas; matéria muito séria que ainda hoje faz sorrir boa gente.

Antes de ter sido inventada aquela matéria científica, que veio depois a ser designada por – por exemplo – Psicologia das massas amorfas, já o sorriso amarelo de diferentes tonalidades era a reacção dominante dos bem e mal pensantes com pretensões cientificantes dentro do sériÓsisudo.

6.As principais ciências ocultas que atingiram grande celebridade na denominada Idade Média europeia…

7… período histórico algo pardacento que, como sabido, se divide em Alta, Média e Baixa Idade Média, conforme o grau de circunspecção e concupiscência do tema em análise…

8.… foram a Alquimia, a Astrologia, a Cartomância e a Magia – importadas de modo mais ou menos directo da velha Caldeia (actual Palestina) e do Antigo Egipto.

9.Segundo corre por aí, certos arqueólogos que conseguiram decifrar restos de hieróglifos ainda aglutinados, afirmam que os faraós tinham ao seu serviço magos que pretenderiam imitar os prodígios pirotécnicos e de prestidigitação de Moisés – tal como converter varas em serpentes e estas em varas hirtas; e destas para viperinas ondulatórias.

10.A Astrologia tinha por fim adivinhar o futuro. A Alquimia, a transmutação dos metais – do ferro para o bronze e deste para o ouro (de preferência não volátil e ainda sem capacidade de entrar na bolsa de valores). A Magia ocupava-se da busca do remédio universal e, consequentemente, do estabelecimento do elixir da imortalidade.

11.Tanto acolhimento vieram a ter as ciências ocultas que no século X existia na Universidade de Bolonha uma cátedra para o ensino da Astrologia Judicial.

12.Chegando cada corte europeia do século XI, a ter um astrólogo que traçava os horóscopos e acompanhava os monarcas e seus ministros, conforme a disposição dos planetas e sinais encontráveis nas percentagens de cinzentos (mais ou menos escuros) nas nuvens que certos ventos tinham o poder de acumular em horizontes físicos mas sobretudo mentais.

13.Do exercício destas ciências, passou-se ao seu estudo ainda mais científico, tendo nascido – com lentidão exasperante – uma alquimia de terceira geração. Esta veio a denominar-se Química: uma muito invejada Ciência – Espavento.

14.Para a prática das várias classes e níveis de Magia (nunca esquecer os níveis!) empregavam-se objectos he-te-ró-cli-tó-Compostos. Nos sortilégios empregava-se sangue obtido fresco de galináceos, na falta de águias e gaviões; lebres e coelhinhos brancos, na falta de animais de maior porte.

15.E no maior porte, entenda-se aqui as fêmeas ovelha e cabra. Do sangue fresco dos machos esperavam aqueles cientistas obter melhores orientações racionais – usavam, assim, o cordeiro para tirar os pecados do mundo e o bode para espiar faltas de naturezas outras…

16.Para casos mais complexos e em hierarquias sociais superiores, era empregue o sangue de crianças. Se tais crianças eram obtidas entre os escravos, livros arquiArcaicos que certas religiões ainda utilizam, mencionam sangue de criança, filha do próprio mago oficiante.

17.Houve mestres e professores públicos de necromancia e escreveram-se numerosas e volumosas obras (algumas soberbamente ilustradas) com sentenças, receitas e aforismos em linguagem obscura ou criptografada.

18.Como reminiscências, que muita gente distraída julga temporalmente muito e suficientemente afastadas, existem as cartomantes, as sonâmbulas, videntes e outras exploradoras Certificadoras das incógnitas da vida. É curioso observar, porém, que essas profissões, tradicionalmente ocupações e vocações femininas na maioria dos centros civilizacionais, passaram a ter acesa concorrência do sexo oposto.

19.Este assunto pode parecer sem importância e perdido na poeira dos tempos. Acontece que atentos sociólogos descobriram, por exemplo, que demasiadas irrequietudes sociais da etnia roma ou romani (vulgo ciganos) se possa dever à perda da exclusividade de leitura da sina, feita agora por magos encartados, ora de raça negra, ora indo-ariana, com consultórios anunciados na grande imprensa e entrevistas na televisão.

20.Mas, não vos espanteis, Senhoras e Senhores! As chamadas cartas astrais, seus traçados a cores e decifração/interpretação, há mais de 30 anos que se encontra sob a forma de software para qualquer computador portátil adquirido no supermercado dali.

21.Desde que as estações de correios passaram a ter escaparates e expositores de “gadgets” e livralhada, fácil se torna adquirir ciência futurológica – cartologia “tarot”, invocação de anjos tutelares, levitação em 10 lições, etc.



PARTE II

1.Do confuso emaranhado com CIÊNCIAS OCULTAS, estivemos até agora expondo algumas facetas da ciência infusa, aquele dom preter-natural pelo qual um nunca visto Ente supraHumano comunica a uma inteligência Humana, a inteligibilidade das coisas sem o concurso dos sentidos nem do esforço intelectivo. É assim e pronto!

2.Infusão, como sabeis, é a conservação temporária de uma substância num líquido para se lhe extrair princípios medicamentosos ou alimentícios. E cremos bem terem percebido que a ciência infusa é a dos conhecimentos ou virtudes que alguém tem sem haver trabalhado para os adquirir…

3.Vamos falar-vos agora da outra ciência, aquela que precisa de trabalho, e não pouco, para a sua percepção. Isto é, o conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas e sobre as suas condições de existência. E também a investigação metódica das leis dos seus fenómenos.

4.Esse tipo de ciência nasceu da Grécia do século VI a.C. com a preocupação de fundamentar e sistematizar o saber. E tudo parece indicar que nasceu ao mesmo tempo que a indagação racional sobre o mundo e o Homem, com o propósito de encontrar a sua explicação última. Essa indagação racional passou a denominar-se Filosofia. “Filo” de amigo, + “Sofia” de conhecimento, como se ensina (ou ensinava…) nos bancos da escola d'Antigamente: “Amor da Sabedoria”.

5.Acontece que até hoje as questões da relação entre a ciência e a filosofia continuam a não encontrar consenso na mente humana. São possíveis, porém, três respostas fundamentais a este respeito. 1ª resposta: a Ciência e a Filosofia não têm qualquer relação.

6.2ª resposta: a Ciência e a Filosofia estão tão intimamente relacionadas entre si, que de facto são uma só e a mesma coisa.

7.3ª resposta : a Ciência e a Filosofia mantêm entre si relações muito complexas.
Complexidade A (de ABERTO, de ANGÚSTIA, de AGUDO): a relação entre as duas é de índole histórica – a Fi foi, e continuará a ser, aquela que se ocupada da formação dos problemas, depois tomados pela Ci para os solucionar.

8.Complexidade B (de BRILHO, de BURACO, de BERRO): a Fi é não só a mãe, como madrinha-madrasta-tia das Cis no decurso da história, mas também – SALVE! – a rainha das Cis em absoluto. Quer por conhecer o +Alto grau de abstracção / quer por se ocupar do Ser em geral / quer por tratar dos pressupostos das Ciências.

9.Complexidade C (de CIFRA, de CIMO, de CERTEZA): a Ci, as Cis, constituem um dos objectos da Fi ao lado dos outros; há por isso uma Fi da Ci (e das diversas Cis fundamentais) tal como há uma Fi da religião, uma Fi da arte, uma Fi da Indignação, etc.
10.Complexidade D (de DELEITE, de DESERTO, de DELÍRIO): a Fi é fundamentalmente a teoria do conhecimento das Cis. Isto porque o que distingue uma Ci de outra Ci, não é a natureza dos objectos que estuda, mas o ponto de vista sob o qual os estuda.

11.Complexidade E (de ESPELHO, de ESPANTO, de ESCURO): as teorias científicas mais compreensíveis – surpreendentemente – são teorias de teorias.

12.Complexidade F (de FELIZ, de FRÁGIL, de FARDO): a Fi está em relação de constante intercâmbio mútuo relativamente à Ci; proporcionando-lhe certos afagos, perdão, certos conceitos gerais (ou certas análises) enquanto esta proporciona àquela, dados sobre os quais desenvolve esses conceitos gerais (ou, enfim, leva ou tenta levar a cabo essas análises).

13.Complexidade G (de GRETA, de GRAVE, de GOZO) : a Filosofia examina certos enunciados que a Ciência supõe, mas que não pertencem à linguagem desta.





PARTE III



1.Enumerámos 7 complexidades: pensamos nós que a sua totalidade! Será fácil, no entanto, comprovar que a maior parte delas é de dramático carácter parcial.



2.Onde a tal parcialidade se fica a dever a um suposto prévio: o de que Ciência e Filosofia são conjuntos de proposições que se procuram comparar, identificar, subordinar, entrelaçar, enroscar, rivalizar, abocanhar, etc.



3.Não fora o caso pragmático de estarmos dentro deste espectáculo, teceríamos umas tantas considerações – nomeadamente o facto de, para não poucos cientistas, a Filosofia Não Ser um conjunto de sofismas nem de sistemas que emergem e se fundem continuamente…



4.… nem de mais ou menos lindas concepções, em última análise, de índole poética.



  MÚSICA + VÍDEO Nº….



5.A inquietude do ser Pensante desde sempre tentou classificar as Ciências. Parece unânime, no entanto, que as antigas classificações têm hoje apenas ridente interesse histórico.

6.Foi só no século XIX que apareceram classificações com valor doutrinal e fundadas na natureza dos problemas colocados pelas diversas Ciências. Um senhor importante como Augusto Comte reconheceu 6 fundamentais: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia e Sociologia. Teve, porém, a ideia de juntar uma 7ª ciência que ele classificou de suprema: a Moral. Esta bizarra categoria – Ciência Moral – fez abalar parte do edifício da racionalidade científica.

7.Óbvio que outros, muitos outros, vieram com outras ideias, tais como Ciências abstractas, abstrato-concretas e concretas,

8.            Ciências do logos,

9.            Ciências da realidade,

10.          Ciências naturais e artificiais,

11.          Ciências formais,

12.          Ciências do espírito,

13.          Ciências fenomenológicas, genéticas e sistemáticas,

14.          Ciências físicas precisas e imprecisas,

15.          Ciências físicas sinópticas,

16.          Ciências biológicas,

17.          Ciências empíricas e subjectivas – tal como as Sociais,

18.          Ciências matemáticas,

19.          Ciências filosóficas e por aí fora, fora e fora num vasto delírio de taxonomias.

20.Os exemplos apontados constituem simples indicadores de quanto é difícil encontrar critérios válidos de tipologização e de quanto parece fácil operar reduções, formular postulados e exibir preconceitos.

21.Mas, Senhoras e Senhores, urge dizê-lo: a classificação das ciências em pormenor é simples matéria de conveniência. Tem muito maior e duvidoso valor prático do que concreto significado teórico

……………………………………………………….(TAMBOR)



22.Pois … acontece é que as relações entre Filosofia e Ciência estiveram sempre marcadas e …

23.… e continuam a estar marcadas, acaso mais do que nunca …

24.… pelo sinal da am-bi-gui-da-de.

25.É essa ambiguidade que se estabelece com frequência excessiva, ao tornar sinónimos e unívocos os conceitos “exactidão & verdade”…

26.… “verdade & objectividade”!

27.Falar mais para quê?





 (GONGUE)

*********TEXTO DA CONVERSA AO TELEFONE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!





(segue Parte IV– Arte ………………………………………………..e final)



Eduardo Sérgio Pessoa de Magalhães Figueiredo é 2ª Barão da Costeira. Nasceu a 11 de Abril de 1937 e é professor universitário aposentado, escultor, músico e art performer.
Representado, como músico, em

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