No princípio
deste ano, aquando do atentado ao Charlie Hebdo, não fui capaz de aderir àquela
onda generosa do slôgane Je suis Charlie e, no dia 11 de Janeiro, nesse
contexto da minha cínica incapacidade, escrevi um texto publicado nas redes
sociais do qual passo a reproduzir o seguinte excerto:
"(...) Tenho a maior das dúvidas acerca
da «eficácia» desta mega-manifestação em curso entre a République e Nation. Está
ali concentrada a crème de la crème dos «estadistas» da classe política
europeia, com nível mais que duvidoso,... responsável pelo statu quo que
enquadra e «viabiliza» o surgimento de fenómenos como o que emoldura o
terrorismo jiadista. Ou, de facto, se dispõem a mudar a política que têm
conduzido, ou esta marcha perde qualquer significado. (...)"
Hoje, 14 de
Novembro, recorrentemente, só me ocorre a cena antológica em que certo Primeiro
Ministro do governo de um periférico Estado europeu - que, não muito mais
tarde, guindando-se ao supremo cargo de Presidente da Comissão Europeia, colheu
as subsequentes «mais-valias» do seu heróico feito - recebia nos Açores a
quadrilha dos malfeitores que destaparam a caixa de Pandora ao decidirem a
segunda Guerra do Golfo, contra o ditador que, pretensamente, dispunha de armas
de destruição maciça.
Passados
doze anos, no dia 3 deste mês, morreu em Bagdad, Ahmed Chalabi, xiita laico
ultra-ortodoxo iraquiano, que passou aos neocons americanos a mentira da posse
de armas químicas e biológicas pelo regime de Saddam Hussein, mentira que,
sabiamente aproveitada, não podia ter sido servida mais a tempo e tão a
propósito da gula avassaladora dos senhores da guerra, afinal, tão bem
amestrados por Bush e Blair.
Xiitas
contra sunitas, pondo em causa os equilíbrios mais instáveis do planeta,
destruindo Iraque, Líbano, Síria, Líbia, mancha de óleo alastrando num campo
que a embebe em sorvos imparáveis, eis o cenário que, inevitavelmente, a
jusante, apresenta estes «efeitos colaterais» de actos terroristas levados a
cabo nas grandes metrópoles.
Paris,
Londres, Madrid, Nova Iorque «vítimas» de ignorantes implacáveis, de títeres
habilmente manipulados, que recrutam para a guerra santa miúdos desenraizados,
descrentes, subprodutos de inimagináveis subúrbios? Aparentemente, também.
Contudo, convém evitar a precipitação de juízos «confortáveis». A lucidez, mãe
do desassossego, não nos concede território para mais asneiras. E nós é que
somos os senhores do Mundo!
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