Partiram.
Era de noite e havia música
e perfume no ar,
havia risos, havia
uma rua cheia de
gente, uma cidade a
transbordar de
Vida,
as pontes, as
vielas, as luzes que se
refletem no rio,
talvez uma concertina,
talvez uma voz
cantando.
Partiram. Tinham
dado as mãos. A felicidade
era agora, era
ali, eram eles. Podiam
respirar a energia
daquele momento,
sentir-se únicos,
sentir todos os sabores
do Mundo na ponta
da língua e serem o Mundo,
podiam entrar ou
sair dos cafés, trocar
olhares com quem
passava, folhear os livros
nas bancas dos
alfarrabistas, pontapear
as folhas mortas
no chão.
Partiram. As balas
não os escolheram, eles
apenas estavam lá,
aquela era a hora, aquela
era a noite,
queriam ainda sorver o último
golo de café
quente, queriam ainda
sentir nos dedos o
cabelo um do outro,
mas não havia
tempo, as balas não têm relógio,
não hesitam, não
se detêm perante a beleza
do momento, não
têm remorsos.
Partiram. De mãos
dadas. Mas nunca sairão
de Paris, onde se
continuarão a amar, a sorrir
um para o outro, a
percorrer os boulevards,
a rir da Morte, a
rir das balas, a debruçar-se
nas pontes e a
escarnecer do ódio
sempre que as
folhas caírem e o
Outono chegar.
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