terça-feira, 17 de novembro de 2015

Paris

ANTÓNIO LUÍS LOPES



  







 Partiram. Era de noite e havia música

 e perfume no ar, havia risos, havia

 uma rua cheia de gente, uma cidade a

 transbordar de Vida,

 as pontes, as vielas, as luzes que se

 refletem no rio, talvez uma concertina,

 talvez uma voz cantando.

 Partiram. Tinham dado as mãos. A felicidade

 era agora, era ali, eram eles. Podiam

 respirar a energia daquele momento,

 sentir-se únicos, sentir todos os sabores

 do Mundo na ponta da língua e serem o Mundo,

 podiam entrar ou sair dos cafés, trocar

 olhares com quem passava, folhear os livros

 nas bancas dos alfarrabistas, pontapear

 as folhas mortas no chão.

 Partiram. As balas não os escolheram, eles

 apenas estavam lá, aquela era a hora, aquela

 era a noite, queriam ainda sorver o último

 golo de café quente, queriam ainda

 sentir nos dedos o cabelo um do outro,

 mas não havia tempo, as balas não têm relógio,

 não hesitam, não se detêm perante a beleza

 do momento, não têm remorsos.

 Partiram. De mãos dadas. Mas nunca sairão

 de Paris, onde se continuarão a amar, a sorrir

 um para o outro, a percorrer os boulevards,

 a rir da Morte, a rir das balas, a debruçar-se

 nas pontes e a escarnecer do ódio

 sempre que as folhas caírem e o

 Outono chegar.

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