domingo, 22 de novembro de 2015

Teleférico adiado,eléctrico na ordem do dia

JOÃO CACHADO



Segundo fonte fidedigna, a Câmara Municipal de Sintra decidiu considerar não prioritária a ideia da instalação do teleférico para acesso a um dos pontos altos da Serra, mais especificamente, num circuito entre São Pedro e a Pena. Cumpre sublinhar que, nunca tendo apresentado qualquer projecto mais ou menos formal nem contraído compromissos de ordem alguma quanto à sua concretização, a decisão da autarquia surge na melhor altura.

É natural que, já tendo ultrapassado a primeira metade do mandato, o executivo autárquico se sinta na obrigação de dissipar quaisquer dúvidas relativamente aos projectos que, efectivamente, não tenham pés para andar nos próximos dois anos. De facto, porque haveria o executivo municipal de manter alguma expectativa em relação àquilo que acolheu apenas como uma ideia que, por maioria de razões, tanta controvérsia, dúvidas e melindres tem suscitado? Porque insistiria na hipótese de solução do teleférico, se outras existem e até pouco ou nada contundentes, quando, por todo o concelho, não faltam situações carentes de urgente remediação, impondo uma criteriosa aplicação de empenho, engenho, arte e de todos os recursos materiais e humanos disponíveis?

Se, por enquanto, anuncia uma decisão que ainda deixa porta aberta para uma futura e eventual reconsideração da ideia, a Câmara Municipal de Sintra nada deverá recear quanto a favorecer o aparecimento de algumas reacções de circunstância, aparentemente menos positivas ou indesejáveis, porque estaria exibindo provas de hesitação e/ou de flagrante tibieza perante contrariedades de percurso… Enfim, mesmo que, num ou noutro caso, assim possa suceder, é um absoluto nada que nem sequer merece um minuto de reflexão.

No meu caso, há muito subscrevendo posição frontalmente contra a solução do teleférico, apenas me cumpre saudar a posição da Câmara. Como soe dizer-se, só os burros é que não mudam…  É por isso que saúdo calorosamente a decisão, confiante no discernimento que há-de prevalecer e que, uma vez instalado o sistema integrado de trânsito, articulando com as soluções de estacionamento a concretizar – nomeadamente, os parques periféricos e bolsa de proximidade que advogo há tantos anos –  o mesmo discernimento que, mais tarde ou mais cedo, acabará por alicerçar a victória de outra solução pela qual, em concomitância, tenho pugnado ao longo de tantos anos.

Refiro-me à proibição do acesso à Pena em transporte particular e, portanto, para aquele efeito, como tantas vezes escrevi nas páginas do Jornal de Sintra, apenas a autorização para circulação do transporte público colectivo que, naturalmente, descarta qualquer necessidade de permanência dos parques de estacionamento nas imediações das entradas do Parque.

Aliás, a esmagadora maioria dos visitantes, cerca de noventa por cento de estrangeiros, está conforme ao tipo das civilizadas medidas que aqui volto a referir. Por outro lado mas, no mesmo sentido, apontar aqueles objectivos como praticáveis contribuirá decisivamente, estou certo, para evitar os evidentes pontos de fricção prevalecentes, tanto a nível local como em relação aos que os próprios peritos da UNESCO tiveram oportunidade de salientar em anterior visita e que, naturalmente, não deixarão de considerar na próxima, já em 2016.

A breve trecho,

reedição do trajecto da saudade!

Não deixa de ser curioso que, ao declarado adiamento da ideia do teleférico acabe por corresponder, também no domínio dos transportes, uma urgência manifesta que, como verificam, a ilustração desta página logo esclarece. Na cena, bem real há algumas décadas, até quase ao início dos anos sessenta, pontifica o famoso eléctrico de Sintra, no seu perfeito sossego da estação terminal da Vila Velha, cena que, não tenho a menor dúvida, todos muito gostaremos de partilhar, ou de voltar a partilhar, como é o meu caso e o de alguns leitores, num futuro relativamente próximo.

Para já, para já, tenhamos em consideração que, de acordo com anterior informação do Senhor Vereador Luís Patrício, a quem está afecto o pelouro da Mobilidade Urbana, confirmada durante a reunião com os representantes das associações cívicas e culturais de Sintra (*), no dia 9 do passado mês de Junho, foi salientado que, até ao fim do actual mandato autárquico, em Setembro de 2017, a referida linha vai ser prolongada, com o propósito de reinstalar o troço entre a Vila Alda, no Largo Nunes de Carvalho, e a estação ferroviária de Sintra.

É através desta medida que, finalmente, a Câmara Municipal de Sintra porá termo ao hediondo sarcófago da Heliodoro Salgado, pedonal cartaz do pior que Sintra tem oferecido a residentes e visitantes, que tanta polémica gerou nestes últimos quinze anos. A exemplo do que acontece noutros contextos nacionais e estrangeiros, com o eléctrico atravessando aquela artéria, prevê-se que recuperada será toda uma perdida animação que, de modo algum, é incompatível com a permanência das actuais e eventual instalação de mais esplanadas.

Esta é uma solução que se articula e conjuga perfeitamente, tanto com a circulação dos peões como com a eventual abertura de trânsito, condicionado e apenas num dos sentidos, como tem sido sugerido, alternativa que o referido senhor Vereador confirmou como estando em estudo. De vocação exclusivamente pedonal e a explorar em todas as vertentes de animação sociocultural, haverá que, inequívoca e convenientemente, dinamizar o tão favorável e vizinho espaço da Correnteza que tão desaproveitado tem sido. E, assim, também por esta via, se poderão compensar os desastrosos prejuízos e inconvenientes da pedonalização da Heliodoro Salgado.

Portanto, no prazo de dois anos, uma vez concretizada a primeira etapa do prolongamento da linha do eléctrico, a Estefânea em particular e Sintra em geral, logo poderão começar a colher os respectivos e previsíveis benefícios. Posteriormente, com o objectivo da Vila Velha no horizonte, teremos o especial gosto de rever, de reviver e de propiciar a grata experiência que a foto reproduz. Cerca de sessenta anos depois, é já o sonho a funcionar...

Na altura em que a referida reunião se realizou, tendo entendido que já havia estimativas de orçamento, é com certa tranquilidade que mantenho o ânimo em relação à concretização do projecto. Sei que o meu entusiasmo também é partilhado por milhares de munícipes, de olhos postos nesta promessa que, simultaneamente, já é uma das mais aliciantes propostas para o ganho de uma qualidade de vida urbana que Sintra tanto merece e tanto tem tardado.

Assim sendo, a todo o momento, depois dos habituais e morosos trâmites, esperemos pelo início das obras. Porque, na realidade, o tempo é escasso! Entretanto, como condição sine qua non da viabilização e concretização da obra em perspectiva, indispensável se torna proceder a uma série de alterações muito significativas, quer ao nível do trânsito quer em relação ao estacionamento, regime de cargas e descargas, rígido condicionamento e exclusividade de circulação a determinados veículos, em vias tão sensíveis, não só como a já aludida Heliodoro Salgado mas também Miguel Bombarda e Volta do Duche.

Trabalho imenso, em tempo tão reduzido, é um grande desafio que as mencionadas associações não deixarão de acompanhar com o empenho e a disponibilidade que a autarquia sabe poder contar sem reservas.

_________

(*) Reunião coordenada por Rui Pereira, Vice-Presidente da Câmara, acerca das previstas alterações de trânsito e soluções alternativas de tráfego e estacionamento, com representantes das associações de Defesa do Património de Sintra, Alagamares- Associação Cultural e Canaferrim- Associação Cívica e Cultural.


[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

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