Segundo fonte
fidedigna, a Câmara Municipal de Sintra decidiu considerar não prioritária a
ideia da instalação do teleférico para acesso a um dos pontos altos da Serra,
mais especificamente, num circuito entre São Pedro e a Pena. Cumpre sublinhar
que, nunca tendo apresentado qualquer projecto mais ou menos formal nem
contraído compromissos de ordem alguma quanto à sua concretização, a decisão da
autarquia surge na melhor altura.
É natural que, já tendo
ultrapassado a primeira metade do mandato, o executivo autárquico se sinta na
obrigação de dissipar quaisquer dúvidas relativamente aos projectos que,
efectivamente, não tenham pés para andar nos próximos dois anos. De facto,
porque haveria o executivo municipal de manter alguma expectativa em relação
àquilo que acolheu apenas como uma ideia que, por maioria de razões, tanta
controvérsia, dúvidas e melindres tem suscitado? Porque insistiria na hipótese
de solução do teleférico, se outras existem e até pouco ou nada contundentes,
quando, por todo o concelho, não faltam situações carentes de urgente
remediação, impondo uma criteriosa aplicação de empenho, engenho, arte e de
todos os recursos materiais e humanos disponíveis?
Se, por enquanto,
anuncia uma decisão que ainda deixa porta aberta para uma futura e eventual
reconsideração da ideia, a Câmara Municipal de Sintra nada deverá recear quanto
a favorecer o aparecimento de algumas reacções de circunstância, aparentemente
menos positivas ou indesejáveis, porque estaria exibindo provas de hesitação
e/ou de flagrante tibieza perante contrariedades de percurso… Enfim, mesmo que,
num ou noutro caso, assim possa suceder, é um absoluto nada que nem sequer
merece um minuto de reflexão.
No meu caso, há muito
subscrevendo posição frontalmente contra a solução do teleférico, apenas me
cumpre saudar a posição da Câmara. Como soe dizer-se, só os burros é que não
mudam… É por isso que saúdo
calorosamente a decisão, confiante no discernimento que há-de prevalecer e que,
uma vez instalado o sistema integrado de trânsito, articulando com as soluções
de estacionamento a concretizar – nomeadamente, os parques periféricos e bolsa
de proximidade que advogo há tantos anos –
o mesmo discernimento que, mais tarde ou mais cedo, acabará por
alicerçar a victória de outra solução pela qual, em concomitância, tenho pugnado
ao longo de tantos anos.
Refiro-me à proibição
do acesso à Pena em transporte particular e, portanto, para aquele efeito, como
tantas vezes escrevi nas páginas do Jornal de Sintra, apenas a autorização para
circulação do transporte público colectivo que, naturalmente, descarta qualquer
necessidade de permanência dos parques de estacionamento nas imediações das
entradas do Parque.
Aliás, a esmagadora
maioria dos visitantes, cerca de noventa por cento de estrangeiros, está
conforme ao tipo das civilizadas medidas que aqui volto a referir. Por outro
lado mas, no mesmo sentido, apontar aqueles objectivos como praticáveis
contribuirá decisivamente, estou certo, para evitar os evidentes pontos de
fricção prevalecentes, tanto a nível local como em relação aos que os próprios
peritos da UNESCO tiveram oportunidade de salientar em anterior visita e que,
naturalmente, não deixarão de considerar na próxima, já em 2016.
A breve trecho,
reedição do trajecto da
saudade!
Não deixa de ser
curioso que, ao declarado adiamento da ideia do teleférico acabe por
corresponder, também no domínio dos transportes, uma urgência manifesta que,
como verificam, a ilustração desta página logo esclarece. Na cena, bem real há
algumas décadas, até quase ao início dos anos sessenta, pontifica o famoso eléctrico
de Sintra, no seu perfeito sossego da estação terminal da Vila Velha, cena que,
não tenho a menor dúvida, todos muito gostaremos de partilhar, ou de voltar a
partilhar, como é o meu caso e o de alguns leitores, num futuro relativamente
próximo.
Para já, para já,
tenhamos em consideração que, de acordo com anterior informação do Senhor
Vereador Luís Patrício, a quem está afecto o pelouro da Mobilidade Urbana,
confirmada durante a reunião com os representantes das associações cívicas e
culturais de Sintra (*), no dia 9 do passado mês de Junho, foi salientado que,
até ao fim do actual mandato autárquico, em Setembro de 2017, a referida linha
vai ser prolongada, com o propósito de reinstalar o troço entre a Vila Alda, no
Largo Nunes de Carvalho, e a estação ferroviária de Sintra.
É através desta medida
que, finalmente, a Câmara Municipal de Sintra porá termo ao hediondo sarcófago
da Heliodoro Salgado, pedonal cartaz do pior que Sintra tem oferecido a
residentes e visitantes, que tanta polémica gerou nestes últimos quinze anos. A
exemplo do que acontece noutros contextos nacionais e estrangeiros, com o
eléctrico atravessando aquela artéria, prevê-se que recuperada será toda uma
perdida animação que, de modo algum, é incompatível com a permanência das actuais
e eventual instalação de mais esplanadas.
Esta é uma solução que
se articula e conjuga perfeitamente, tanto com a circulação dos peões como com
a eventual abertura de trânsito, condicionado e apenas num dos sentidos, como
tem sido sugerido, alternativa que o referido senhor Vereador confirmou como
estando em estudo. De vocação exclusivamente pedonal e a explorar em todas as
vertentes de animação sociocultural, haverá que, inequívoca e convenientemente,
dinamizar o tão favorável e vizinho espaço da Correnteza que tão desaproveitado
tem sido. E, assim, também por esta via, se poderão compensar os desastrosos
prejuízos e inconvenientes da pedonalização da Heliodoro Salgado.
Portanto, no prazo de
dois anos, uma vez concretizada a primeira etapa do prolongamento da linha do
eléctrico, a Estefânea em particular e Sintra em geral, logo poderão começar a
colher os respectivos e previsíveis benefícios. Posteriormente, com o objectivo
da Vila Velha no horizonte, teremos o especial gosto de rever, de reviver e de propiciar
a grata experiência que a foto reproduz. Cerca de sessenta anos depois, é já o
sonho a funcionar...
Na altura em que a
referida reunião se realizou, tendo entendido que já havia estimativas de
orçamento, é com certa tranquilidade que mantenho o ânimo em relação à
concretização do projecto. Sei que o meu entusiasmo também é partilhado por
milhares de munícipes, de olhos postos nesta promessa que, simultaneamente, já
é uma das mais aliciantes propostas para o ganho de uma qualidade de vida
urbana que Sintra tanto merece e tanto tem tardado.
Assim sendo, a todo o
momento, depois dos habituais e morosos trâmites, esperemos pelo início das
obras. Porque, na realidade, o tempo é escasso! Entretanto, como condição sine
qua non da viabilização e concretização da obra em perspectiva, indispensável
se torna proceder a uma série de alterações muito significativas, quer ao nível
do trânsito quer em relação ao estacionamento, regime de cargas e descargas,
rígido condicionamento e exclusividade de circulação a determinados veículos,
em vias tão sensíveis, não só como a já aludida Heliodoro Salgado mas também
Miguel Bombarda e Volta do Duche.
Trabalho imenso, em
tempo tão reduzido, é um grande desafio que as mencionadas associações não
deixarão de acompanhar com o empenho e a disponibilidade que a autarquia sabe
poder contar sem reservas.
_________
(*) Reunião coordenada
por Rui Pereira, Vice-Presidente da Câmara, acerca das previstas alterações de
trânsito e soluções alternativas de tráfego e estacionamento, com
representantes das associações de Defesa do Património de Sintra, Alagamares-
Associação Cultural e Canaferrim- Associação Cívica e Cultural.
[João
Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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