quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O messianismo de Vieira não é só nosso

JOÃO RODIL

Ao contrário de outros tempos e de outras mentes mais arejadas, aqueles tempos e aquelas mentes que levavam a Europa ao Mundo e traziam o Mundo à Europa, temos hoje a mania de açambarcarmos tudo aquilo que achamos nosso. Guardamos a coisa como um segredo, a pensarmos que possuímos um tesouro velado que, afinal, toda a gente conhece.

Em meu entender, por fraco que seja, essa maneira aporrinhada e mesquinha de esconder a portugalidade tem consequências dramáticas no espalhar – que se desejava contínuo – de algumas mensagens boas que largamos ao Mundo. É limitada e limitativa. Coloca fronteiras, muros e grades ao pensamento.

Mas isto é apenas aquilo que nós pensamos e de pouco vale esta forma de agir para o resto do globo. E ainda bem, digo eu.

Deste legado nosso que aferrolhamos a sete chaves faz parte – ou é porção importante – o caso do messianismo português, sebastianista e à espera do V Império, tão bem expressado e condensado pelo Padre António Vieira e que, ainda hoje, felizmente, tem muitos seguidores e continuadores. Destes últimos, só dois nomes maiores, para não engrossar a lista: Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Ora, acontece que Vieira também deixou a sua corrente a vogar no sangue do povo brasileiro. Há uma impressão, eu diria uma tatuagem, messiânica também na alma do Brasil. E, tal como deste lado do oceano, por lá os pensadores, os artistas, essa massa entrelaçada de gente que conhece o ontem, escuta o hoje e pensa o amanhã, continua, igualmente, a adubar a terra onde se plantam esses sentimentos.

É mais evidente, outra vez na minha fraca visão, no caso do movimento Tropicália, com Caetano Veloso e Gilberto Gil à cabeça. Mas ele tem lugar proeminente também na literatura brasileira, com uma expressão bastante profunda e nada aparente em João Ubaldo Ribeiro, ou no cinema de Glauber Rocha.

E há outra coisa ainda, que não sei se é toda linda. O Brasil até conservou melhor o Culto do Espírito Santo, bandeira e baluarte do Mundo que há-de vir. Portanto, em vez de grades devíamos andar a construir pontes, a abrir rotas de torna-viagem, que proporcionassem um reencontro de espíritos comuns com caminhadas comuns. Nesta e noutras matérias, evidentemente.

Sem comentários:

Enviar um comentário