segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Sempre

EURICO LEOTE











O que olhas?

Os moinhos

Que moem?

Saudades do meu amor

Onde as guardas?

No fundo do meu coração

Quão fundo?

O suficiente para as não perder

E o teu amor sabe?

Ainda ando à procura do meu amor

Mas há pouco falaste nos moinhos …

Falei nos olhinhos

Ou isso

Falei nos olhinhos que viam os moinhos

E falaste nas saudades do teu amor

O meu amor és tu

Mas eu ainda aqui estou

Daí que as saudades estão guardadas

Sim, vou embora agora

Está na altura de soltar as saudades

És tonto

O amor é tonto. As saudades prologam esse amor

Empresta-me o moinho

Se te o emprestasse perdia-te para sempre

Não digas a palavra sempre

Nada é eterno

Tudo é efémero bem o sei

Sem ele não mais poderia moer as saudades que sinto

Mas eu também quero levar saudades

Procura-as dentro de ti

Vou fechar os olhos e imaginar-te para sempre

Agora foste tu que usaste a palavra sempre

Somos excessivamente materialistas

É um dos males dos tempos que correm

Fiquei sem vontade de partir

Mas íamos os dois ou já te esqueceste?

Sim, mas aquela coisa das saudades

Foi a forma que encontrei de dizer o quanto gosto de ti

E eu senti-me verdadeiramente tocada por ti

Chama-se a isso paixão à distância

Mas estamos aqui os dois ao pé um do outro

Mas os nossos espíritos cavalgaram por momentos para longe

Senti-me momentaneamente despida

Eu seguramente fiz amor contigo

Mas os nossos corpos não se tocaram

Mas os nossos sonhos sim

Confesso que por momentos te senti

Selemos este breve tempo com um beijo

Bem, tenho que me ir embora apanhar o comboio

Quando chegares ao destino avisa. Sabes que fico preocupado

A distância não é assim tão grande

Pois não, vais só ao outro lado da rua

Certo, vou só buscar umas coisas à minha mãe

Mas mesmo assim diz qualquer coisa quando chegares

Está bem, fica descansado. As distâncias são curtas mas os caminhos são maus

Se precisares de ajuda basta chamares

Para onde vou não são precisos telefones

Sim, mas se as palavras ficarem entaladas usa os sinais

Como sei que estás atento a olhar?

Nem sei se tenho de que olhar

Tens razão, nem braços tenho

Conhecer-te-ei pelo cabelo solto ao vento

Já te esqueceste que me o cortaram rente?

É verdade, raparam-te o cabelo deixando dois olhos a vogar rumo ao infinito

Sinto-me bem nesse infinito como dizes

Mataram o pássaro que havia dentro de ti

Parti com ele, voamos os dois para longe

Um dia destes vou ter contigo

Enquanto tiveres os teus moinhos não vale a pena

Os meus moinhos já não moem mais saudades

Deixaste-as morrer ou fugir?

Guardei tantas que já não cabem dentro de mim

Deixa-as sair devagarinho uma a uma

Preciso de me libertar e de seguir o meu caminho

Solta-te, ainda há tempo

Ainda sou tempo mas os olhinhos já não vêm mais moinhos

Que vês então?

Nada, estão turvos de água impura.

Vamos que eu ajudo-te. Como vês ainda aqui estou

Estás e estarás para todo o sempre.







                                                        14/06/2011

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