quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A verdadeira história dos Diamantes Negros- III Parte e Fim

Tínhamos sempre atrás de nós muita malta nova, mas havia três que eram parte integrante da equipa e só não iam connosco por motivo de força maior.
Constituição da equipa: António Luís Ribeiro Baleia, Carlos Manuel Heitor Correia, Afonso "Cochicho"… deste não sei o nome todo. – Desculpa lá ó Cochicho, se te perguntar tu também não sabes o meu, eu não fico chateado e tu também não.

O Baleia, o Heitor e o Cochicho eram inseparáveis. Dentro do conjunto punham e dispunham no departamento deles, que era tudo o que se relacionasse com a técnica de electrónica, logística, cargas e descargas. O Baleia, qual professor Pardal, engendrou uma oficina lá num recanto da Sociedade, onde tinha todos os apetrechos para reparar fios e não só. Era um técnico de mão cheia.
Quanto ao Carlos Heitor, eram célebres os seus momentos de boa disposição, de repente num ensaio lá aparecia o Heitor mascarado e punha tudo bem disposto. Das suas anedotas e da sua graça espontânea… que saudades!
O Cochicho era o mais novinho. Era assim tipo de ama seca do Xixó , aparava-lhe os golpes. Era mais para pegar no pesado. Era o tal que no início trazia a telefonia para fazer de aparelhagem. Todos eles, quando tocava a montar equipamento, alinhavam bem.
Os nossos aniversários
Quando fizemos um ano foi uma festa de arromba, tivemos um banquete servido no gabinete da Direcção da S.U.S., espectacular! Daí em diante foi sempre assim. Todos os anos o conjunto festejava o aniversário.
Porquê falar disto? Seria uma grande falha não falar na Comissão de Senhoras que se esmerava em apresentar um beberete feito à custa da mobilização de quase todas as senhoras e do comércio da Vila Velha, que por ordem da D. Martinha Correia (mãe do Heitor) e da D. Mariana Gaspar, mais tarde também da D. Esmeralda (de Monte Santos) tudo fizeram para que os nossos aniversários fossem uma festa.
O Fim
Quando cheguei de Angola o meu conjunto era um cadáver. Tentámos reabilitar o nome dos Diamantes Negros , eu o Luís Manuel, o Jaime Pereira e o Dias, respectivamente baixo e teclas, meus colegas da Força Aérea e músicos também comigo no Negage, onde fizemos as nossas guerras com as notas de música, no conjunto da Base (os génios do AB-3) que muitas vezes nos aliviou do pior. Desta vez tivemos pouco sucesso porque em Angola nós tínhamos um elemento que estava para a viola como o Figo está para o futebol e ele era a alma do conjunto.
Sem ele, o Carlos Velez, eu o Jaime e o Dias não éramos os mesmos e o Luís não era o tal Figo…
Os Diamantes são eternos, como no filme do James Bond.
Em finais de 1974 nova tentativa de reanimação do grupo, desta vez com uma formação que tinha como meta ambiciosa, imaginem só, musica tipo conjunto Chicago. E tocámo-la bem pois tínhamos excelentes músicos: O Álvaro Cruz, saxofonista alto e tenor, era um músico duma afinação singular mas pouco dado a improvisos; O José Freitas, trompetista do melhor que havia na Banda do Exército, em saber, técnica e rigor; O Augusto, um jovem de 21 ou 22 anos, do Sabugo, trompista na Banda da G.N.R. mas com estudo em piano, no conjunto era o teclista; O Carvalho era também um jovem, professor de formação musical que lia e escrevia música como se de uma carta se tratasse, era o nosso guitarrista que depressa nos deixou, por causa da sua vida profissional, para integrar o Coro Gulbenkian; Este foi substituído pelo Reinaldo, estudante a concluir Arquitectura, também jovem e talentoso na guitarra e na voz; Para quase todos estes craques os papéis de música eram rebuçados, orelhudos eram, o Jaime Pereira, baixista e eu, Caínhas, o baterista histórico dos Diamantes Negros.
Diamantes Negros-Anos Setenta
José Freitas – trompete, Álvaro Cruz – sax alto e tenor, Caínhas – bateria, Reinaldo Nunes – guitarra e voz, Jaime Pereira – baixo e voz, Augusto – teclas
Tudo isto contado assim não parece nada, mas a pretensão de fazer música “com cagança” estava lá. Queríamos manter viva a chama com a mesma força dos bons tempos. Tínhamos comprado bom equipamento de um conjunto que tinha acabado. Os compromissos eram muitos e o trabalho era pouco, o mercado estava difícil, eu e o Álvaro tínhamos assinado letras e estávamos apertados, até que o Xico Caeiro, dono do Café Angra da Praia Grande, veio ter com o Álvaro para saber se nós queríamos ficar com a carteira de clientes dele, que era gorda, a troco dos nossos elementos todos com o Xico a cantar. Fez-se uma reunião na Sociedade, houve elementos que não queriam aquele modelo e logo ali se desfez o sonho de tocar boa musica, trocada pelas notas do banco de Portugal, que tanta falta faziam para pagar as letras já aceites. Acabámos no inicio de 1976.
Ultimamente o Luís tem mantido acesa a chama dos Diamantes Negros com elementos os mais diversos, uns originais, outros ex-pertencentes e outros ainda que têm colaborado em exibições no âmbito da Associação Anos 60, culminando em Março deste ano de 2003, no Auditório Olga Cadaval, que para os jovens da minha idade será sempre o ex-Cine – Teatro Carlos Manuel, onde tivemos uma actuação brilhante, e vão por mim que percebo disto, com uma formação de bateria e três guitarras: Na guitarra solo e voz o Xixó; Na guitarra ritmo e voz o Luís Manuel; No baixo e voz o Jaime e na bateria eu, o Caínhas. Tocámos música dos Beatles e, no meio de tantas celebridades que desfilaram nesta “Viagem aos Anos 60″, fechámos a primeira parte do programa, acompanhados por alguns elementos da banda da Sociedade União Sintrense que saíram pela coxia central tocando connosco o “Yellow Submarine”, levando ao topo e uma vez mais o nome de Sintra.
Já chega… apenas tentei sintetizar a vida dos Diamantes Negros. Tanto que havia para dizer e ficar perpetuado, mas fico por aqui que a história já vai longa… Agora, preparamo-nos para continuar a festejar os nossos aniversários enquanto pudermos!
Sobre as várias formações dos Diamantes Negros
Durante toda a existência do conjunto, como já referi, houve várias formações umas melhores do que outras mas, salvo episódios em que alguns elementos estiveram menos bem, nos 40 Anos depois da fundação do grupo, esses episódios já foram esquecidos.
A formação inicial, todos sabem, era 4 elementos, 3 Carlos e um Álvaro. Quando chegava o Verão e os meninos iam a banhos para o Algarve: Miúdas, brutas bebedeiras e«“cachets” em que ainda tinham saldo deficitário. Eu era trabalhador músico, não tinha férias no Verão porque o meu chefe nunca me dava esse direito pois ele gozava as férias às terças, quintas e sábados (nesse tempo trabalhava-se ao sábado), trabalhava às segundas, quartas e sextas (havia de ser hoje…). Acrescentando a isto que os meus pais, pessoas de idade, punham-me todos os entraves para eu ir para tão longe de casa. Mas o problema nem se discutia porque o emprego era o obstáculo principal. Então o meu lugar foi pela primeira vez ocupado pelo Mário Jorge (Marinho) e assim continuou nos meus impedimentos até que chegou a hora da mobilização e, como já referi, entraram dois elementos. Mas antes houve a saída do Henrique, ainda uns dois ou três meses antes de mim e como os Guitarras de Fogo tinham acabado entra o Tó Gândara para o seu lugar, por pouco tempo, pois também estava na tropa e nada ou quase nada o ligava ao nosso grupo, fez no máximo duas actuações connosco.
Entretanto os “Azthecas” acabaram e fomos buscar o Camena, um óptimo elemento que tocava e cantava bem (era o solista dos Azthecas). Muito actualizado deixava o Xixó livre para as teclas que já se adivinhavam. Eu não cheguei a ser colega dele, a não ser esporadicamente. O Camena já fez parte da formação com o Charly, Martins, Xixó e Luís. Esta formação teve óptimas prestações e culmina com o segundo lugar no Concurso do Cinema Império, à frente dos “Charruas” e atrás dos “Espaciais” do Porto, que na altura usaram o pseudónimo “Psico”. Como o Camena já disse: Eram tão bons e subiram tão alto que caíram e nunca mais se levantaram. É uma opinião válida, mas os tempos eram muito difíceis e a tropa acabou com dezenas de boas bandas, nós não podíamos ser excepção.
Os Diamantes primeira fase acabaram em 1970, as tentativas de reactivação estão já descritas e citados os nomes de todos os elementos no subtítulo “Fim” desta história.
Já chega… apenas tentei sintetizar a vida dos Diamantes Negros. Tanto que havia para dizer e ficar perpetuado, mas fico por aqui que a história já vai longa… Agora.


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