quarta-feira, 8 de julho de 2015

As “muralhas” do Conde de Oeiras.


 

RUI OLIVEIRA

Na nossa deambulação, pelos concelhos de Sintra e Oeiras, eclética e pluridisciplinar porque a Paisagem, o Património e a História Local, também são ecléticas; vamos revisitando lugares, anteriormente referenciados ou não, mas que, permitem viagens de (re)descoberta sedutora, de satisfação em descobrir a espantosa realidade de cada local, quer no passado, quer no presente.

Outras deambulações, igualmente sedutoras, no “mundo” da documentação escrita, permite-nos apurar a nitidez da História de cada um dos locais ou contextos, porque esclarecem, levantam novas pistas ou, tão simplesmente, alargam o âmbito territorial dos estudos a efetuar, a fim de se compreender o localizado, no todo.

Foi Precisamente esta lição que retivemos aquando da nossa visita, recente, a um dos lugares mais emblemáticos e, até, misterioso da Freguesia de Algueirão-Mem Martins: a Ermida de São Romão; local que habitualmente integra as nossas deambulações no contexto do levantamento das vias da Romanidade e Medievas na região de Sintra. Espaço que, em si mesmo, é um desafio constante emanado pelas vetustas ruinas da ermida, do seu recinto em plataforma, bem como, dos vestígios indiciadores de uma História antiga. Ora, uma analise mais detalhada no terreno, quer em extensão, quer em observação pormenorizada de vários elementos construtivos, relevou, aos nossos olhos, troços de muralhas ou muros divisórios de propriedades rústicas, poderosamente construídos e, ali, bem conservados. Numa primeira fase ficamos atónitos! – Depois, no cruzamento entre os dados documentais e dados do terreno, chegou a compreensão da razão das poderosas construções, que já tínhamos constatado noutro lugar da Freguesia denominado a Barrosa, no Algueirão Velho; bem como em Barcarena, no vizinho concelho de Oeiras.

Aliás, o assunto até já foi aqui, na Sintra Deambulada, focado (Os baldios do Algueirão- entre a posse e o prazer de possuir; Novembro de 2013). Estas muralhas ou divisórias de propriedade rústicas foram construídas pela família de Sebastião José Carvalho de Melo, conhecido por Marquês de Pombal mas que, na época, em que mandou construir estes amuralhamentos, em torno das terras baldias que passaram a integrar o seu morgadio era, somente, Conde de Oeiras. A Ordem Régia foi acatada, e a família amuralhou, marcou-as.

A forma singular e poderosa construção destas muralhas, que apesar de passar mais de duzentos anos teimam, ainda, em manter-se, são um dado precioso no terreno, para que se possa compreender qual foi a extensão do império agrícola do Conde de Oeiras na região de Sintra e, claro está, em Oeiras.



Excerto do Alvará Régio de 1765

“….. hey porbem aprovar e confirmar a doação desta porção de baldio / no sitio do Algueirão no te.o [rmo] da V.a [ila] de Cintra deq’[ue] a Raynha minha sobre todas m.o[uito] / amada e prezada mulher fez mce[ercê] ao mesmo sup.e[licante] por carta de 28 de / Março por ser producente na forma q’[ue] nelle se contém E quero e man / do q’[ue] tenha o seu devido esplenado apesar nas obstante a desposição da Ordena / ção do L.o[ivro] Seg.do[undo] art.o[igo] 16 e 18 concedendo o d.to[ito] baldio q’[ue] se ade murar dentro no / limite da coutada da referida V.la e de quaisquer seus regimen.tos disposições / ordenem em contrário. Pelo q’ [ue] mando a todas as justiças e mais pessoa q’ [ue] / o conhecim.to [ento] deste Alvará pertense o cumprão e guardem e o fassão (……..….) / cumprir e guardar como nelle se conthem …….”
 Marco de deambulação dos baldios do Algueirão, 1765
 Marco e muralha em Barcarena
 Muralha de baldio em S. Romão
 Muralha de baldio na Barrosa, Algueirão

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