O João de Belas,
Feitor na Armada de Ormuz, capitaneada por Gonçalo Duarte de Lemos, por
falecimento de Gomes de Figueiredo, em cuja feitoria esteve entre Janeiro de 1510
e Junho de 1511, foi um “Ilustre” vizinho de Belas que a toponímia local regista
como navegador. Cavaleiro da Casa Real, mas, como muitos outros, a sua fidalguia
era circunstancial. Todos sabemos que Portugal, como reino pequeno e de
população diminuta, para a grande tarefa dos Descobrimentos e levantamento do
fabuloso empório comercial, facilitava a ascensão económica e social de muitos
plebeus, Cristãos e não Cristãos, nacionais e estrangeiros.
Como tudo na vida,
nada é perfeito, e, como justificando o secular adágio popular: “o hábito não
faz o monge”, o nosso João de Belas meteu-se em trabalhos; foi apanhado a jogar
as cartas, o mesmo será dizer: “na batota”, em sua casa, com outros indivíduos.
Nessa época, na Lisboa quinhentista, o jogo das cartas e dados eram
considerados vícios poucos cristãos e, como tal, crime, como referem as
Ordenações Manuelinas, no título 48 - no Livro 5 - “como sam defesas as cartas, e dados”. A justiça régia não se fez
tardar. Assim, o João de Belas perde metade da sua casa (a mesma onde se
reuniam para a jogatana, Jorge Annis, Joham Afonsso e Foyas Joham Anriiquiz)
para o denunciante do crime, um tal Francisco Tavares, Moço de Câmara del-Rei,
a quem D. Manuel fez Mercê.
Devo dizer que, nos
alvores e na primeira metade de quinhentos a vida na urbe lisboeta era febril e
palpitante. A azáfama quotidiana, aos olhos de alguns, assentava numa inata
propensão para a materialidade, para o apego às riquezas, aos bens “terrenos”
e, até, à luxuria decorrentes do “relaxamento de costumes”. O facto, e a
resultante atitude apreensiva de certos sectores da Sociedade coeva é
perceptível, por exemplo, no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,
nomeadamente nas Cantigas de Álvaro de Brito; ou no Livro de Posturas Antigas
da Câmara Municipal de Lisboa. Neste último, “descobrimos” que, o tal, João de
Belas não morava propriamente num bairro “in” da cidade; antes e pelo contrário
a sua rua, a julgar pela postura municipal, contida na folha 21 e com o título:
“das molheres que fezerem por mays homens
que por dous”, ficamos a saber que era o, ou um, dos locais da cidade de
Lisboa onde a prostituição, no século XVI, era consentida. Será caso para
dizer: “Fogo ao pé de palha o diabo lhe sopra.”
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