sábado, 25 de julho de 2015

D.Joana, Princesa de Portugal e de Sintra

RUI OLIVEIRA



   
Nasceu em Lisboa a 6 de fevereiro de 1452 e faleceu no Mosteiro de Jesus de Aveiro, de regra dominicana, a 12 de maio de 1490. Logo no berço foi jurada em cortes por Princesa Herdeira do Reino, titulo que pela primeira vez se dava em Portugal, situação que, com o nascimento de seu irmão o Infante D. João se alterou. O nome de Joana, que recebeu no baptismo, Testemunha a memória de S. João Evangelista, a que sua mãe, D. Isabel consagrava cordial afecto. Aliás, esta devoção a S. João Evangelista e aos seus Cónegos Regrantes, tinha um âmbito familiar basta, por exemplo, ver o empenho que o seu avô materno, o Infante Regente D. Pedro, teve no apoio a esta congregação, nomeadamente no apoio para que fossem os Reformadores do vetusto Hospital – Escola de São Paulo, São Clemente e Santo Eloy, em Lisboa. Quando faleceu a Rainha sua mãe, D. Joana teria apenas três anos, e, o seu pai, D. Afonso V, logo lhe deu casa com a mesma grandeza e fausto, e por mordomo, primeiramente a Fernão Telo de Meneses, do seu conselho, e depois a D. João de Lima, 2.º visconde de Vila Nova de Cerveira. É neste contexto que devemos entender a doação da Vila de Sintra e do seu termo, dentro dos parâmetros que o documento nos revela: «Dom afonso per graça de deo rei de Portugall e do[s] algarves daquém e dalém mar de africa aqu[an]tos esta nossa carta birem fazemos saber querendo faz[er] graça |1  e merce a princessa mynha  sobre  todas muiyto  amada e prezada filha real (por) nosso moto próprio (e) livre bontade certa [?] poder absoluto seus nella e lhe |2 pedir  nem outra por ella lhe fazemos pura e Inrrivogavel doação [?] os bymos baliidar deste dia po[r] os todollos dias de sua byda do nossa billa|3 de Sintra castello e alcaydaria co[m] todos seus termos e senhorios meyo [?] Imp[u]tuo e jurisdiçom [?] e[?] ressalvando pa[ra] nos a correiço[m] e [?]|4 [?]  e com todollas rendas das jugadas rreguengos quartos e oytavos e todos outros dyr[ei]tos [?] q[ue] nos [?] [?] billa e termo avemos e podemos |5 aver e a nos de dyr[ei]to perte[n]cem per quall guysa q[ue] sejam ressalvando per nos some[n]te as sisas geraes e detodo o mais lhe fazemos doaçam e merce |6 como dito é E orem mandamos a todollos corregedores juízes e justiças contadores almoxarifados e oficiais e pessoas q[ue] esta [?] e esta nossa carta |7 for mostrada q[ue] lhe obed[ece]rem logo [?] [?]e lhe [?] com as rrendas e dyr[ei]tos e [?] no dito e [?] [?] castello e alcaydaria aquem|8 ella mandar por quanto nos lhe fizemos de todo nosso como dito é E co[mo] testemunho lhe mandamos dar esta nossa carta por nos assinada e Sel |9 lada do nosso sello de chumbo dada na billa de biana XXXI de janeiro bras lopo a fez anno da Graça de Nosso Senhor Jhesus [Chri]x[t]o de mil IIII LXXX ||10

                                                                    Assinatura Régia e selo

(Cota: Corpo Cronológico, parte 1, maço 1, n.º 27)

  
A Infanta, que chegou a ser jurada Princesa e herdeira da Coroa de Portugal, enveredou pela vida religiosa. Tornando-se digna da admiração de todos pelas suas elevadas virtudes; pelo decoro da sua pessoa que, unia os rigores da maior austeridade nas suas vestes interiores, com a ostentação, a que estava obrigada pelo seu estatuto social, em público e pelas galas a pompa e fausto senhoril. Não faltava nas festas e nas danças com o semblante alegre, mas não perdia um só momento de se entregar com humildade ao jejum, à oração e, sobretudo, às muitas esmolas que repartia com largueza, e por sua própria mão aos pobres. Chegou a ter por divisa, pela sua grande devoção, e a mandar pintar uma coroa de espinhos em todas as salas do seu paço, fazendo-a gravar em sua prata, e esmaltar em todas as suas jóias. Alguns príncipes desejaram tê-la por esposa; Luís XI, rei de França, pediu-a em casamento para o delfim seu filho; Maximiliano, Rei dos Romanos, filho do imperador Frederico III; [Ricardo III], Rei de Inglaterra; porém a Santa Princesa, que na realidade é só Beata, todos rejeitou, porque o seu maior desejo era consagrar-se a Deus.

Nota: A leitura deste documento é bastante dificultada pelo seu mau estado, e, também, devido ao micro filme antigo. As normas de transcrição são as usuais; desdobramento de abreviaturas, com o acrescento dos caracteres em falta entre colchetes rectos [aa]; sempre que uma ou mais palavras são ilegíveis estas são assinaladas com ponto de interrogação entre colchetes rectos [?]; as mudanças de linha, no texto original, são assinaladas com barra vertical e numerada a vermelho |0 ; mantivemos o texto na sua máxima pureza, mas para a sua compreensão utilizamos pontualmente a introdução de algumas vogais ou palavras para auxiliar a compreensão do discurso, que foram colocadas a vermelho entre colchetes curvos (e).
            Túmulo da Infanta no Convento de Jesus, em Aveiro


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