Nasceu em Lisboa a 6 de
fevereiro de 1452 e faleceu no Mosteiro de Jesus de Aveiro, de regra
dominicana, a 12 de maio de 1490. Logo no berço foi jurada em cortes por
Princesa Herdeira do Reino, titulo que pela primeira vez se dava em Portugal,
situação que, com o nascimento de seu irmão o Infante D. João se alterou. O
nome de Joana, que recebeu no baptismo, Testemunha a memória de S. João
Evangelista, a que sua mãe, D. Isabel consagrava cordial afecto. Aliás, esta
devoção a S. João Evangelista e aos seus Cónegos Regrantes, tinha um âmbito
familiar basta, por exemplo, ver o empenho que o seu avô materno, o Infante
Regente D. Pedro, teve no apoio a esta congregação, nomeadamente no apoio para
que fossem os Reformadores do vetusto Hospital – Escola de São Paulo, São Clemente
e Santo Eloy, em Lisboa. Quando faleceu a Rainha sua mãe, D. Joana teria apenas
três anos, e, o seu pai, D. Afonso V, logo lhe deu casa com a mesma grandeza e
fausto, e por mordomo, primeiramente a Fernão Telo de Meneses, do seu conselho,
e depois a D. João de Lima, 2.º visconde de Vila Nova de Cerveira. É neste
contexto que devemos entender a doação da Vila de Sintra e do seu termo, dentro
dos parâmetros que o documento nos revela: «Dom afonso per graça de deo rei de Portugall e do[s]
algarves daquém e dalém mar de africa aqu[an]tos esta nossa carta birem fazemos
saber querendo faz[er] graça |1 e
merce a princessa mynha sobre todas muiyto
amada e prezada filha real (por) nosso
moto próprio (e) livre bontade certa [?] poder
absoluto seus nella e lhe |2 pedir
nem outra por ella lhe fazemos pura e Inrrivogavel doação [?] os bymos
baliidar deste dia po[r] os todollos dias de sua byda do nossa billa|3
de Sintra castello e alcaydaria co[m] todos seus termos e senhorios meyo [?]
Imp[u]tuo e jurisdiçom [?] e[?] ressalvando pa[ra] nos a correiço[m] e [?]|4
[?] e com todollas rendas das jugadas
rreguengos quartos e oytavos e todos outros dyr[ei]tos [?] q[ue] nos [?] [?]
billa e termo avemos e podemos |5 aver e a nos de dyr[ei]to perte[n]cem per
quall guysa q[ue] sejam ressalvando per nos some[n]te as sisas geraes e detodo
o mais lhe fazemos doaçam e merce |6 como dito é E orem mandamos a todollos corregedores
juízes e justiças contadores almoxarifados e oficiais e pessoas q[ue] esta [?]
e esta nossa carta |7 for mostrada q[ue] lhe obed[ece]rem logo
[?] [?]e lhe [?] com as rrendas e dyr[ei]tos e [?] no dito e [?] [?] castello e
alcaydaria aquem|8 ella mandar por quanto nos lhe fizemos de
todo nosso como dito é E co[mo] testemunho lhe mandamos dar esta nossa carta
por nos assinada e Sel |9 lada do nosso sello de chumbo dada na
billa de biana XXXI de janeiro bras lopo a fez anno da Graça de Nosso Senhor
Jhesus [Chri]x[t]o de mil IIII LXXX ||10
Assinatura Régia e selo
(Cota: Corpo
Cronológico, parte 1, maço 1, n.º 27)
A Infanta, que chegou a ser jurada Princesa e
herdeira da Coroa de Portugal, enveredou pela vida
religiosa. Tornando-se digna da admiração de todos pelas suas elevadas
virtudes; pelo decoro da sua pessoa que, unia os rigores da maior austeridade
nas suas vestes interiores, com a ostentação, a que estava obrigada pelo seu
estatuto social, em público e pelas galas a pompa e fausto senhoril. Não
faltava nas festas e nas danças com o semblante alegre, mas não perdia um só
momento de se entregar com humildade ao jejum, à oração e, sobretudo, às muitas
esmolas que repartia com largueza, e por sua própria mão aos pobres. Chegou a
ter por divisa, pela sua grande devoção, e a mandar pintar uma coroa de
espinhos em todas as salas do seu paço, fazendo-a gravar em sua prata, e esmaltar
em todas as suas jóias. Alguns príncipes desejaram tê-la por esposa; Luís XI,
rei de França, pediu-a em casamento para o delfim seu filho; Maximiliano, Rei
dos Romanos, filho do imperador Frederico III; [Ricardo III], Rei de
Inglaterra; porém a Santa Princesa, que na realidade é só Beata, todos
rejeitou, porque o seu maior desejo era consagrar-se a Deus.
Nota: A leitura deste documento é bastante dificultada pelo
seu mau estado, e, também, devido ao micro filme antigo. As normas de
transcrição são as usuais; desdobramento de abreviaturas, com o acrescento dos
caracteres em falta entre colchetes rectos [aa]; sempre que uma ou mais
palavras são ilegíveis estas são assinaladas com ponto de interrogação entre
colchetes rectos [?]; as mudanças de linha, no texto original, são assinaladas
com barra vertical e numerada a vermelho |0 ; mantivemos o texto na sua máxima pureza, mas para a
sua compreensão utilizamos pontualmente a introdução de algumas vogais ou
palavras para auxiliar a compreensão do discurso, que foram colocadas a
vermelho entre colchetes curvos (e).
Túmulo da Infanta no Convento de Jesus, em Aveiro
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