quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sobre um sintrense com ética

LUÍS MIGUEL BAPTISTA

Tenho do associativismo de raiz popular uma visão, porventura, romântica ou, até, um pouco em desuso.

Para mim, o exercício de funções associativas, qualquer que seja a organização, representa um sério compromisso – individual e livremente assumido (na teoria e na prática) – com os fins a que mesma se destina.

Essa foi a doutrina que interiorizei, transmitida por uma escola de bem-sucedidos dirigentes, com quem trabalhei e convivi, que serviram e deixaram legado em instituições do concelho.

Relevo, hoje, porque recentemente desaparecido do nosso convívio, o nome de José Manuel dos Santos Conceição, dirigente sintrense de créditos firmados, quer em dedicação, quer em competência, ao serviço do bem público.

Conheci-o há 20 anos quando, pela primeira vez, integrei os órgãos sociais da Associação dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém. Estivemos juntos por ocasiões diversas, reflectindo em voz alta sobre o estado do sector a que pertencíamos. 


Recordo-o, aqui, a título de homenagem, porquanto penso que o seu desaparecimento representa não só uma perda física mas também de integridade moral e cívica.

A ele ficou a dever-se, em larga escala, a construção do actual quartel-sede da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Sintra (“um terceiro filho que eu criei” – dizia com alguma graça), na inauguração do qual foi justamente distinguido pela Liga dos Bombeiros Portugueses com a Medalha de Serviços Distintos, Grau Ouro.

Contactámos, pela última vez, em Janeiro passado, quando da não menos justa homenagem ao jornalista António Faias, prestada pela Câmara Municipal de Sintra, no Palácio Valenças.

Na minha memória permanecerá para sempre o homem afável, o dirigente de referência que, onde quer que estivesse, mesmo já afastado da liderança da Direcção, era sempre associado aos Bombeiros Voluntários de Sintra, personificando-os. Um facto que só acontece com aqueles que, no verdadeiro sentido do termo, servem as instituições e, por isso mesmo, se impõem de modo espontâneo pelo seu carisma e pelo valor da sua obra.

No momento em que certo associativismo tende a revelar-se descaracterizado e distante da sua matriz, por influência de factores desconexos geradores de novos paradigmas e de uma nova tipologia dirigista, recordar José Manuel dos Santos Conceição constitui, do meu ponto de vista, mais do que um exercício de memória, a exaltação de um grande cidadão sintrense, cultor da ética da personalidade e da ética do carácter.

 Na foto: José Manuel dos Santos Conceição (à esquerda), em Janeiro de 2000, com o então Inspector Regional de Bombeiros de Lisboa e Vale do Tejo, Joaquim Moreira Vicente, na homenagem que lhe foi prestada quando se retirou dos órgãos sociais da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Sintra.

1 comentário:

  1. Saudação a um Homem também amável e compreensivo. Pronto a escutar e a apoiar quem quer que fosse, sem ambiguidades. Ele era o que era, mostrava o que era, fraterno.

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