sábado, 8 de junho de 2013

Incluída Exclusão

FERNANDO MORAIS GOMES
 



Sintra,7h40m.Susana a chegar, engrossar fila na procissão, suplentes da vida buscando um visto pela manhã. Primeira senha, não primeira escolha, logo duas mais, engrossando a longa lista de incluídos na exclusão. Curso de Gestão, dois estágios gratuitos, licenciatura em estágios, chega. Chega Rita, entretanto, duas mais, escutam Deolinda no MP4:

"Sou da geração sem remuneração/e não me incomoda esta condição./Que parva que eu sou! "

7h50m.Vinte na fila já, o Alberto, despedido ontem, alguns licenciados sem licença de trabalho, faz frio, há que esperar. Esperar, esperar sempre, primeiros na fila que últimos na escolha, está frio e vai arrefecer mais.

"Porque isto está mal e vai continuar, /já é uma sorte eu poder estagiar./Que parva que eu sou! "

8h00m.Abrem a porta e logo sobreviventes candidatos ouvidos por quem sobrevive escutando candidatos. Primeiro emprego, segundo andar, esse subsídio foi cancelado, uma vaga em Coruche, alguém quer? A fila avança e a vida não avança.

"E fico a pensar/que mundo tão parvo /onde para ser escravo é preciso estudar."

8h50m.Sussurro na sala, impressos na mão. E porque não levantados do chão? Abafam-se gritos estampados no rosto, mais um impresso, mais um dia na fila, a casa adiada, um filho por nascer, sandes para jantar, os remédios da mãe. Geração rasca? Apenas não geração. Ah! mas com liberdade. Liberdade de não fazer por não poder, de a nada chegar se se hesitar lutar. Na rede social se há-de desabafar, tudo comentar e o mundo mudar.

"Sou da geração casinha dos pais, se já tenho tudo, pra quê querer mais?/Que parva que eu sou "

9h20m.A fila dissipa-se, a seguir um café, de novo para casa, de novo para o café, duas semanas, o regresso, um carimbo para o limbo, nova oportunidade para não perder oportunidade, uiva uma música murmurada na sala-jazigo.

"Filhos, maridos, estou sempre a adiar /e ainda me falta o carro pagar/Que parva que eu sou! "

9h40m. Despachada finalmente, tudo igual, desistir? fugir? Quase tarde para ter passado, muito cedo para não ter presente.

"E fico a pensar,/que mundo tão parvo/onde para ser escravo é preciso estudar./Sou da geração „vou queixar-me pra quê?. /Há alguém bem pior do que eu na TV./Que parva que eu sou!/Sou da geração „eu já não posso mais!. /que esta situação dura há tempo demais/E parva não sou!

Sintra,novo dia. Centro de emprego, sem emprego no centro. Monotonia. Arrefece e é Verão. Chegará a aquecer?

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