quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Crise

EURICO LEOTE


Retomo a minha viagem iniciada há dois dias, quando decidi sair do meu país rumo a um país estrangeiro.

São oito horas da manhã. Já com o pequeno almoço tomado, e pronto para uma nova aventura, faço-me de novo à estrada no meu veículo casa. Trata-se de uma autocaravana com seis anos de vida, que possui as condições mínimas e necessárias para que nela se possa habitar, usufruindo de todas as belezas que a mãe natureza nos oferece.

Apesar da hora matinal sou surpreendido com bastante trânsito, e em especial por verdadeiras caravanas de carros pesados de transporte de mercadorias. São filas a perder de vista, alguns tentando ultrapassar outros mais lentos, o que origina autênticos rolhões no trânsito, apesar das duas faixas para circulação em cada um dos sentidos.

Nas áreas de serviço e de descanso, vou-me cruzando com outras dezenas de carros pesados de todo o tipo e feitio, os quais transportam as mais variadas cargas conhecidas e outras inimagináveis.

A vista não consegue enxergar tantos veículos estacionados, quer nas áreas situadas à esquerda, quer nas áreas localizadas à direita. Sou levado naturalmente a questionar-me sobre a brutal quantidade de veículos em circulação. Sobre o monstruoso consumo de combustível, bem como para a incrível libertação de CO2 para a atmosfera. Ocorre-me à memória a recente paralisação dos camionistas exigindo redução do preço dos combustíveis. Sou assaltado por fortes preocupações relacionadas com a crise dos combustíveis, nomeadamente no diminuir das reservas, da exploração intensiva, dos limites, porque tudo tem um ponto final, e da excessiva e porque não total dependência da civilização moderna pelo ouro negro.

É facto que os camionistas com os seus transportes e movimentos, percorrendo todas as partes e todos os lugares, num mercado totalmente aberto, são uma força de respeito, e suporte financeiro das várias economias por esse planeta fora. E se é verdade que sabemos perfeitamente o que pensam e desejam os homens de negócios, e todos aqueles que vivem e são satélites destes, de certeza absoluta que poucos são os que se preocupam com os comportamentos e reacções que o planeta vai sofrendo, e a maneira como este vai reagindo às ofensas que sofre a todo o instante.

É urgente repensar as políticas energéticas e aplicar as alternativas já conhecidas e menos poluentes. É necessário rever os meios de transporte, reduzir consumos, trabalhar com alternativos, inverter a política consumista e do deita fora para trocar por novo. Estamos a delapidar recursos. Estamos a comprometer as gerações futuras, deixando uma terra esgotada graças à prática da política da terra queimada.

O sol sobe no horizonte apesar de algumas nuvens teimosas, que de vez em quando insistem em cobri-lo por breves momentos. Decido fazer aquilo a que costumo chamar de fazer uma parada técnica. Saio na primeira área de repouso, que me aparece assinalada na estrada. Apeio-me da viatura e dirijo-me para os serviços de apoio. A minha atenção é automaticamente disparada para uma torneira que se encontra aberta, vertendo e desperdiçando água. A nossa água potável. A escassa e cada vez mais poluída água que constitui toda a nossa existência. O elemento fundamental na existência do homem. Aquela mesma água pela falta da qual morrem dezenas de humanos diariamente. Que falta de consciência e sensibilidade planetária.

Alto! Mas o que é isto?

Se por causa dos preços dos combustíveis e da paralisação dos camionistas foi o que foi, como será quando a água potável escassear? Ou estamos demasiado ocupados com o nosso umbigo, que não nos apercebemos do resto, desse resto que é ao mesmo tempo tudo?

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