Rubén Darío (1867 - 1916), foi o pseudónimo literário de Félix Rubén García Sarmiento, nasceu em Metapa, hoje Ciudad Darío, Matagalpa, na Nicarágua, a 18 de Janeiro de 1867 tendo falecido a 6 de fevereiro de 1916 em Léon. Iniciador
e máximo representante do Modernismo literário em língua espanhola, foi possivelmente
o poeta com maior e mais duradoura influência na poesia do século XX no mundo
hispânico. Para a formação poética de Rubén Darío foi determinante a influência
da poesia francesa. Em primeiro lugar, os românticos, e muito especialmente
Víctor Hugo. Mais tarde, e de forma decisiva, chega a influência dos
parnasianos Théophile Gautier, Catulle Mendès e José María de Heredia. Por
último, o que termina por definir a estética dariana é sua admiração pelos
simbolistas, e entre eles, acima de qualquer outro, Paul Verlaine.
Azul, de 1888, considerado o livro
inaugural do Modernismo hispanoamericano, recolhe tanto relatos em prosa como
poemas, cuja variedade métrica chamou a atenção da crítica. A etapa da
plenitude do Modernismo e da obra poética dariana é o livro Prosas profanas y otros poemas, colecção
de poemas em que a presença do erótico se torna mais importante e em que não
está ausente a preocupação por temas esotéricos. Neste livro já está toda a imaginação exótica própria da poética dariana: a França do século XVIII, a
Itália e a Espanha medievais, a mitologia grega, etc.
Pois Rubén Darío foi um dos poetas que também veio conhecer
Sintra. Em Abril de 1912, viajando com o escritor argentino Alfredo Guido,
Darío esteve em Lisboa, daqui enviando crónicas para o jornal de Buenos Aires La Nacíon, e nesse jornal sai a 21 de
Junho de 1912 a sua crónica sobre Sintra, que embora em castelhano, aqui se
transcreve, registando as impressões de mais um ilustre viajante, menos de dois
anos após a proclamação da República Portuguesa:
“O carro sai de Lisboa
a uma velocidade vertiginosa, com a minha admoestação ao chauffeur. O meu
companheiro Alfredo Guido, que é automobilista, afirma-me que tudo vai
perfeitamente. Assim, a passo diabólico, logo deixamos atrás a “coisa boa”,
povoados e aldeias, pela estrada que conduz a Sintra, lugar de veraneio dos
reis e das famílias aristocráticas do hoje “escangalhado” Reino. A estrada é
ondulada, e vamos subindo. Logo se divisam fantásticas construções, no alto da
serra, sobre amontoados de pedras, que poderiam ser da pedreira de mitológicos gigantes.
Uma é um castelo em ruínas, cinzento, fantástico, o outro é o castelo da Pena,
mansão de conto azul, de conto de “mil e uma noites”, com a sua torre esbelta e
ligeira, suas cúpulas douradas, seu aspecto ilusório. Lá haveremos de chegar. Entretanto,
vemos dum lado do caminho, entre a verdura fresca de uma vegetação profunda,
villas, chalets, casas pitorescas. Um palácio surge, gracioso, aéreo, todo
branco da espessura das árvores, dizem-me que pertence ao sr. Silveira, chamado
pelas suas vistosas rendas “Silveira dos Milhões”. Passamos pelo pequeno
povoado de Sintra e subimos por fim à moradia que foi real. Se o aspecto
exterior é admirável e temeroso, quando se vê como construíram tal edifício à
beira de enormes precipícios num país onde não foram raras as ocorrências
sísmicas, o interior é desolador. Há o que se poderia chamar os despojos duma
régia escassez. Alguns velhos móveis, precárias porcelanas, tristes antiguidades
sem grandeza. E se vê como deve ter passado tristes e aborrecidas horas o jovem
monarca nos últimos verões, antes que soprasse a revolução e seus ventos
fortes.
O castelo parece algo
vazio e abandonado, junto à entrada conventual circula um ou outro guarda da
República, e sai-se dali como de um lugar de desolação”
Em Lisboa, Darío foi recebido pelo chefe do governo, Augusto
de Vasconcelos, registando o clima frio entre diplomatas e as recentes
autoridades republicanas, referindo subsistirem na paisagem lisboeta vidros
partidos em cafés, produto de surtidas revolucionárias, nessa altura ainda
frequentes, bem como cafés cheios de carbonários. E escreve:
“Lisboa está
socialmente triste, pois todos os elementos de valia, os ricos e a nobreza,
tomaram o caminho da emigração e fixaram em Paris e Londres e outras capitais
europeias. Há quem espere por D. Manuel, e há quem ache que D. Manuel não
voltará. Perguntei a um modesto funcionário do governo: “Há muitos partidários
da República?” “Muitos!”.Não se sabe pois o que pode suceder a este país onde
como em Espanha estão arreigadas as velhas tradições e onde um partido
triunfante ensaia uma nova forma de governo o pior que pode!
Nostálgico dum passado perdido, são dele os versos
no hay dolor más grande
que el dolor de ser vivo
ni mayor pesadumbre que la vida consciente


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