terça-feira, 9 de julho de 2013

As cidades estão a ficar mais fortes

VÍTOR RAMOS

Com tantos focos de discussão e motivos de preocupação sobre os dias que passam, existem na imprensa muitos artigos e informações que acabam por ficar menos expostas e ensombradas e esquecidas no ricochete de tantos “megabites” do ruído circundante.
 
Serve de exemplo o artigo que figura no jornal Expresso da última semana (6/7), da autoria de Virgílio Azevedo, e que titula com a seguinte frase: “ As cidades estão a ficar mais fortes”, interpretando um recente estudo do I.N.E. onde se avança que o crescimento da população abrandou mas a concentração urbana é maior e está em mudança. Seguia ainda com vária argumentação, referindo que no estudo, existiriam dados novos do CENSOS 2011 que indiciariam que Lisboa perdeu menos população do que nos censos anteriores e que as freguesias do interior da cidade estarão a ganhar novas dinâmicas populacionais. Concluía ainda o articulista que, segundo os autores do trabalho, existe uma recomposição de duas Áreas Metropolitanas, encontrando-se a surgir novas polaridades de emprego na periferia, exemplificando com o caso de Oeiras na Área Metropolitana de Lisboa. O artigo era acompanhado por vários quadros, sendo significativo um que me chamou particular atenção, a identificação dos 20 maiores aglomerados urbanos do Portugal, onde o primeiro é Lisboa e o vigésimo a cidade da Maia.

O que me leva a refletir sobre este artigo é que nas 20 maiores aglomerações se encontram três do Concelho de Sintra (único que não é tomado como um todo), sem que Sintra seja sequer referida. Dir-me-ão, Sintra não teria de figurar, pois não tem o número de habitantes por si própria como aglomerado, mas a reflexão passa por isso mesmo, como território, a área do Município continua a necessitar de um pensamento estratégico que articule as suas urbes, não como elementos separados (com ligações saturadas que funcionam como separadores), mas como partes de uma rede de um universo maior, onde emprego, habitação, mobilidade, ambiente e lazer, cultura num todo, possam potenciar o que muito em breve vai ser mensurado e escalpelizado (vai?) em termos de eleições municipais. Resta-me desejar que Agualva-Cacém, Queluz e Algueirão-Mem-Martins não surjam como meras figuras menores nos quadros do INE e a Sintra esteja reservado um papel de dinamização da rede urbana que se integra na Área Metropolitana de Lisboa. Desejar ainda que a cultura de Governança1 em rede possa ser assumida neste Município e que através desta possam os seus indicadores de qualidade de vida melhorar, tornando-se (à semelhança de outros da A.M.L.) verdadeiros modelos de desenvolvimento.
Sintra, 7 de Julho


1 Governança, concebida como Governo com, onde as autoridades estão em permanente diálogo com os parceiros, nomeadamente as comunidades e os agentes da Sociedade Civil.


Vítor Manuel da Silva Ramos. Arquiteto, Pós-Graduado em Direito do Ordenamento, Ambiente pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Mestrando no Mestrado de Administração Pública do ISCTE-IUL. Exerce funções na Câmara Municipal de Sintra, tendo sido Diretor do Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal de Grândola e Diretor Geral da Infratróia. Vive em Colares

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