domingo, 26 de abril de 2015

Imediato!

JOÃO CACHADO
De tal modo foi o eco do “Inadiável!” que, na sequência de alguns comentários extremamente pertinentes, subscritos por conhecidos sintrenses, me senti obrigado a continuar a matéria então tratada e, se não a acrescentar, pelo menos, a recordar e sublinhar soluções que, há tantos anos, tenho advogado e partilhado com os meus leitores.


Funicular? Dar tempo ao tempo


Primeiramente, gostaria de esclarecer que a minha opinião, contrária à da Câmara Municipal de Sintra, que pretende instalar um teleférico entre São Pedro, Santa Eufémia e a Portela de Sintra, de modo algum, poderá ser interpretada como coincidente com outra, que subscrevo, em relação ao funicular. Há, de facto, uma distinção que cumpre assinalar inequivocamente.
Se, quanto ao teleférico, a solução se me afigura inadequada em relação ao objectivo que a autarquia se propõe resolver, isto é, do transporte expedito e rápido dos visitantes à Pena, na medida em que põe em causa e, inclusive, agride valores históricos e paisagísticos que, até ao presente, foi possível manter intactos, já no que respeita ao funicular a sua viabilidade apenas estará comprometida devido à abundante existência de vestígios arqueológicos.
 Por outro lado, acerca da posição do Doutor José Cardim Ribeiro, se “(…) me rendo, total e boamente perante a impossibilidade decretada pelo famoso arqueólogo (…)”, palavras que  subscrevi no artigo acima mencionado, tal não significa que, futuramente, depois de ter disposto do tempo imprescindível ao diagnóstico exaustivo mas sereno de todos os factores em presença, arqueológicos e outros, não venha a ser possível encarar devidamente a sua adopção.
 Também estou em crer que se encontrará uma alternativa viável, através de um circuito que se venha a revelar compatível com as circunstâncias, sem temer que, em Sintra, o funicular possa vir a matar a galinha dos ovos de ouro, animal e produtos estes que jamais foram postos em causa nos locais em que o funicular tanto sucesso conhece… Portanto, e sempre no respeito pelos interesses da História em geral e da Arqueologia em particular, a instalação do funicular, ainda que pertinente, poderá esperar por melhores dias.
A verdade é que, repito, Sintra não aguenta qualquer adiamento relativamente à instalação dos parques periféricos de estacionamento, dissuasores do acesso das viaturas particulares ao centro do burgo, razão sine qua non para advogar a sua imediata construção, e aí concentrando todos os esforços e todos os recursos, sem a mínima distracção.
É nela que radica o sistema integrado de estacionamento-rede de transportes públicos que poderá resolver a expressiva maioria dos urgentes problemas de mobilidade em que Sintra se enredou. De acordo com o que desde sempre tenho defendido e insistido, esta, sim, é a solução. (1)
E, na realidade, cumpre não esquecer que a estratégica instalação dos parques periféricos constituirá a estrutura de base em que se alicerçará a rede de transportes, – nas zonas de Lourel (Santa Maria), Ribeira (São Martinho) e Ramalhão (São Pedro), a montante das entradas de acesso à sede do concelho, bem como as bolsas de proximidade, nomeadamente, uma junto à estação da Portela e outra adjacente ao edifício do Urbanismo  – constituirá a estrutura de base em que se alicerçará a rede de transportes.


Sintomático? Talvez não…


Permitam que, acerca daquele espaço, vos confronte com uma notícia da Lusa que ontem – escrevo no dia 24 – era veiculada pelo jornal Público. Há escassos quatro meses, durante uma 'Presidência Aberta', o Senhor Presidente da Câmara anunciou que “(…) a autarquia já não tenciona construir um silo de estacionamento na Portela de Sintra, onde irá apenas reordenar o actual parque junto ao edifício do urbanismo. (…)”
Tratava-se da concretização de um projecto cujas características, muito menos ambiciosas, de modo algum, coincidem com as deste. Não vale muito a pena nem estou particularmente interessado em especular sobre as motivações que terão presidido a alteração tão substancial da decisão inicial.
A verdade é que, no caso precedente, as obras, estavam a cargo dos serviços camarários, limitando-se a uma requalificação do recinto. Agora, infere-se que a concretização deste dependerá de investidores privados, aumentando a dimensão para o dobro da capacidade, com restaurantes, zona comercial, e jardim suspenso. Ou seja, transfere-se para a Portela a solução que esteve pensada para o Vale da Raposa, lembram-se?
Agora, o anúncio deste determinará um adiamento imprevisível em relação ao anterior, já que pressupõe uma intervenção muito mais «pesada». Enfim, sem que me possam apontar qualquer espécie de espírito menos colaborante, não posso deixar de me interrogar, não só quanto às vantagens de complicar a proposta inicial, embora de menor capacidade de estacionamento, mas também relativamente às perniciosas consequências do atraso em perspectiva.
Porque não manter a requalificação do parque anunciado durante a ‘Presidêmcia Aberta’ e, em simultâneo, aumentar a capacidade do Parque da estação da CP Portela, parques baratos, à superfície, expeditos, operacionais, sem investimento significativo?
Parques dissuasores, complementos & suplementos

Volto já ao cerne das questões que vinha conjugando antes do subtítulo precedente. Por si só, contudo, o sistema em apreço só pode ser encarado como globalmente estratégico se, a propósito, apesar de já não sei quantas vezes ter escrito acerca do assunto, lembrar que, em determinadas artérias do centro histórico, a circulação de viaturas particulares, pura e simplesmente, deverá ser interdita e, tão somente, autorizada a residentes, comerciantes, veículos prioritários e congéneres universalmente considerados em situações análogas.
No artigo anterior, se bem lembrados estão, referi a fundamental proibição de circulação na Rampa da Pena. Mas não se pode ficar por aí já que a montagem de um dispositivo integrado desta dimensão pressupõe outras atitudes semelhantes e indubitavelmente complementares. Por exemplo, o caso do eléctrico é paradigmático.
Como me afiançou o Senhor Vereador com o Pelouro da Mobilidade Urbana, se a Câmara Municipal de Sintra pretende prolongar a linha do eléctrico até à estação terminal da CP e Vila Velha, num prazo tão curto como os dois anos e meio que ainda faltam para terminar o actual mandato do executivo autárquico, ou seja, até ao fim de 2017, pois então tal projecto só será concretizável, precisamente, mediante o condicionamento do trânsito na Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Volta do Duche...
Por outro lado, tudo quanto venho lembrando e veementemente sublinhando, deve articular-se com a resolução de um problema tão simples (!?!) como o da implantação de um civilizado regime de cargas e descargas, considerando um horário adequado às novas exigências suscitadas pela solução integrada dos parques periféricos e bolsas de proximidade. É, meus senhores, a perspectiva sistémica ditando a operacionalização e a viabilidade das medidas.
E, neste ínterim, importa ter o passado bem presente. Em anteriores intervenções, como a da pedonalização da Heliodoro Salgado ou, mais recentemente, aquando da infeliz supressão da ponte metálica, se tivesse prevalecido uma perspectiva sistémica, tanto na fase de diagnóstico como na da subsequente concretização das decisões, não estaria a Estefânea e a Portela de Sintra na lamentável situação em que se encontram. Neste domínio da mobilidade, incalculáveis são os custos quando se toma determinada medida isolada dos contextos tanto a montante como a jusante.
Espanto-me, isso sim, como, em Sintra, temos incorrido em erros tão sistemáticos e, por vezes, tão grosseiros, se dispomos de tão bons técnicos nos serviços, boa gente que conhecemos e respeitamos, técnicos que dominam todo este saber fazer muito melhor do que eu jamais saberia expressar. Neste enquadramento não consigo deixar de partilhar convosco a inocente pergunta constante do parágrafo seguinte.
Perante o leque das opções técnicas que, ao longo dos anos e de sucessivos mandatos, lhes têm sido apresentadas, e em função de compromissos de ordem vária que não souberam ou não quiseram contornar, não terá acontecido que os decisores políticos impuseram, aos serviços e à comunidade, soluções tão prejudiciais à qualidade de vida dos sintrenses e visitantes?
Se, a nível nacional, multiplicarmos pelos n casos que nem nos atrevemos a imaginar, e, nessa operação, não nos esquecermos de incluir os locais donos disto tudo, entre outras, as  conclusões, também nos remeterão para a ideia do prejuízo pelo qual se traduz a ausência dos cidadãos da vida cívica em que deveriam estar envolvidos, não fossem as razões que desfavorecem a concretização de tal civismo em acção. Pois é, níveis de escolaridade diminuta ou muita limitada, preocupantes índices de literacia, modelos sociais desviantes, enfim, contas de um rosário outro a que muito se resume o nosso lusitano fado…
Finalmente. A terminar, não tenho palavras para vos dizer da minha preocupação relativamente aos períodos quentes que se avizinham em termos da demanda turística. Sei que também a União das Juntas de Freguesia de Sintra está a fazer diligências no sentido de articular as suas justas preocupações no âmbito do estacionamento e da circulação, com a Câmara e com as polícias. Para satisfação do interesse geral, espero bem que os esforços de todos sejam coroados de êxito.
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(1)
Não gostaria de vos maçar com a indicação dos artigos que, em tantos e sucessivos anos, sem qualquer ponta de originalidade, me pronunciei acerca da estratégia dos parques dissuasores. É escusado, creio, os leitores sabem o que tem sido a minha luta a favor de uma forma civilizada de viver a urbe e, em simultâneo, de defender o seu património, bem como propondo as melhores condições possíveis para o usufruto dos bens culturais em que Sintra é tão pródiga.  

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