De tal modo foi o eco do “Inadiável!” que, na sequência de
alguns comentários extremamente pertinentes, subscritos por conhecidos
sintrenses, me senti obrigado a continuar a matéria então tratada e, se não a
acrescentar, pelo menos, a recordar e sublinhar soluções que, há tantos anos,
tenho advogado e partilhado com os meus leitores.
Funicular? Dar tempo ao tempo
Primeiramente, gostaria de esclarecer que a minha
opinião, contrária à da Câmara Municipal de Sintra, que pretende instalar um
teleférico entre São Pedro, Santa Eufémia e a Portela de Sintra, de modo algum,
poderá ser interpretada como coincidente com outra, que subscrevo, em relação
ao funicular. Há, de facto, uma distinção que cumpre assinalar inequivocamente.
Se, quanto ao teleférico, a solução se me afigura inadequada em relação
ao objectivo que a autarquia se propõe resolver, isto é, do transporte expedito
e rápido dos visitantes à Pena, na medida em que põe em causa e, inclusive,
agride valores históricos e paisagísticos que, até ao presente, foi possível
manter intactos, já no que respeita ao funicular a sua viabilidade apenas
estará comprometida devido à abundante existência de vestígios arqueológicos.
A verdade é que, repito, Sintra não aguenta qualquer adiamento relativamente à instalação dos
parques periféricos de estacionamento, dissuasores do acesso das viaturas
particulares ao centro do burgo, razão sine
qua non para advogar a sua imediata construção, e aí concentrando todos os
esforços e todos os recursos, sem a mínima distracção.
É nela que radica o sistema integrado de
estacionamento-rede de transportes públicos que poderá resolver a expressiva
maioria dos urgentes problemas de mobilidade em que Sintra se enredou. De
acordo com o que desde sempre tenho defendido e insistido, esta, sim, é a
solução. (1)
E, na realidade, cumpre não esquecer que a estratégica
instalação dos parques periféricos constituirá a estrutura de base em que se
alicerçará a rede de transportes, – nas zonas de Lourel (Santa Maria), Ribeira
(São Martinho) e Ramalhão (São Pedro), a montante das entradas de acesso à sede
do concelho, bem como as bolsas de proximidade, nomeadamente, uma junto à
estação da Portela e outra adjacente ao edifício do Urbanismo – constituirá a estrutura de base em que se
alicerçará a rede de transportes.
Sintomático? Talvez não…
Permitam que, acerca daquele espaço, vos confronte com uma
notícia da Lusa que ontem – escrevo no dia 24 – era veiculada pelo jornal Público. Há escassos quatro meses, durante uma
'Presidência Aberta', o Senhor Presidente da Câmara anunciou que “(…) a autarquia
já não tenciona construir um silo de estacionamento na Portela de Sintra, onde
irá apenas reordenar o actual parque junto ao edifício do urbanismo. (…)”
Tratava-se da concretização de um projecto cujas
características, muito menos ambiciosas, de modo algum, coincidem com as deste.
Não vale muito a pena nem estou particularmente interessado em especular sobre
as motivações que terão presidido a alteração tão substancial da decisão
inicial.
A verdade é que, no caso precedente, as obras, estavam a
cargo dos serviços camarários, limitando-se a uma requalificação do recinto.
Agora, infere-se que a concretização deste dependerá de investidores privados,
aumentando a dimensão para o dobro da capacidade, com restaurantes, zona
comercial, e jardim suspenso. Ou seja, transfere-se para a Portela a solução
que esteve pensada para o Vale da Raposa, lembram-se?
Agora, o anúncio deste determinará um adiamento
imprevisível em relação ao anterior, já que pressupõe uma intervenção muito
mais «pesada». Enfim, sem que me possam apontar qualquer espécie de espírito
menos colaborante, não posso deixar de me interrogar, não só quanto às
vantagens de complicar a proposta inicial, embora de menor capacidade de
estacionamento, mas também relativamente às perniciosas consequências do atraso
em perspectiva.
Porque não manter a requalificação do parque anunciado
durante a ‘Presidêmcia Aberta’ e, em simultâneo, aumentar a capacidade do
Parque da estação da CP Portela, parques baratos, à superfície, expeditos,
operacionais, sem investimento significativo?
Parques dissuasores, complementos & suplementos
Volto já ao cerne das questões que vinha conjugando antes
do subtítulo precedente. Por si só, contudo, o sistema em apreço só pode ser
encarado como globalmente estratégico se, a propósito, apesar de já não sei
quantas vezes ter escrito acerca do assunto, lembrar que, em determinadas
artérias do centro histórico, a circulação de viaturas particulares, pura e
simplesmente, deverá ser interdita e, tão somente, autorizada a residentes,
comerciantes, veículos prioritários e congéneres universalmente considerados em
situações análogas.
No artigo anterior, se bem lembrados estão, referi a
fundamental proibição de circulação na Rampa da Pena. Mas não se pode ficar por
aí já que a montagem de um dispositivo integrado desta dimensão pressupõe
outras atitudes semelhantes e indubitavelmente complementares. Por exemplo, o
caso do eléctrico é paradigmático.
Como me afiançou o Senhor Vereador com o Pelouro da
Mobilidade Urbana, se a Câmara Municipal de Sintra pretende prolongar a linha
do eléctrico até à estação terminal da CP e Vila Velha, num prazo tão curto
como os dois anos e meio que ainda faltam para terminar o actual mandato do
executivo autárquico, ou seja, até ao fim de 2017, pois então tal projecto só
será concretizável, precisamente, mediante o condicionamento do trânsito na
Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Volta do Duche...
Por outro lado, tudo quanto venho lembrando e veementemente
sublinhando, deve articular-se com a resolução de um problema tão simples (!?!) como o da implantação de um civilizado regime de cargas e
descargas, considerando um horário adequado às novas exigências suscitadas pela
solução integrada dos parques periféricos e bolsas de proximidade. É, meus
senhores, a perspectiva sistémica ditando a operacionalização e a viabilidade
das medidas.
E, neste ínterim, importa ter o passado bem presente. Em anteriores intervenções, como a da
pedonalização da Heliodoro Salgado ou, mais recentemente, aquando da infeliz
supressão da ponte metálica, se tivesse prevalecido uma perspectiva sistémica,
tanto na fase de diagnóstico como na da subsequente concretização das decisões,
não estaria a Estefânea e a Portela de Sintra na lamentável situação em que se
encontram. Neste domínio da mobilidade, incalculáveis são os custos quando se
toma determinada medida isolada dos contextos tanto a montante como a jusante.
Espanto-me, isso sim, como, em Sintra, temos incorrido em
erros tão sistemáticos e, por vezes, tão grosseiros, se dispomos de tão bons
técnicos nos serviços, boa gente que conhecemos e respeitamos, técnicos que
dominam todo este saber fazer muito melhor do que eu jamais saberia expressar.
Neste enquadramento não consigo deixar de partilhar convosco a inocente
pergunta constante do parágrafo seguinte.
Perante o leque das opções técnicas que, ao longo dos
anos e de sucessivos mandatos, lhes têm sido apresentadas, e em função de
compromissos de ordem vária que não souberam ou não quiseram contornar, não
terá acontecido que os decisores políticos impuseram, aos serviços e à
comunidade, soluções tão prejudiciais à qualidade de vida dos sintrenses e
visitantes?
Se, a nível nacional, multiplicarmos pelos n casos que
nem nos atrevemos a imaginar, e, nessa operação, não nos esquecermos de incluir
os locais donos disto tudo, entre
outras, as conclusões, também nos
remeterão para a ideia do prejuízo pelo qual se traduz a ausência dos cidadãos
da vida cívica em que deveriam estar envolvidos, não fossem as razões que
desfavorecem a concretização de tal civismo em acção. Pois é, níveis de
escolaridade diminuta ou muita limitada, preocupantes índices de literacia,
modelos sociais desviantes, enfim, contas de um rosário outro a que muito se
resume o nosso lusitano fado…
Finalmente. A terminar, não tenho palavras para vos dizer
da minha preocupação relativamente aos períodos
quentes que se avizinham em termos da demanda turística. Sei que também a
União das Juntas de Freguesia de Sintra está a fazer diligências no sentido de
articular as suas justas preocupações no âmbito do estacionamento e da
circulação, com a Câmara e com as polícias. Para satisfação do interesse geral,
espero bem que os esforços de todos sejam coroados de êxito.
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(1)
Não gostaria de vos maçar com a indicação dos artigos
que, em tantos e sucessivos anos, sem qualquer ponta de originalidade, me
pronunciei acerca da estratégia dos parques dissuasores. É escusado, creio, os
leitores sabem o que tem sido a minha luta a favor de uma forma civilizada de
viver a urbe e, em simultâneo, de defender o seu património, bem como propondo
as melhores condições possíveis para o usufruto dos bens culturais em que
Sintra é tão pródiga.
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