segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Umas palavras sobre crise

JOSÉ MANUEL ARROBAS

Vivemos numa sociedade que está a atravessar mais uma vez, apenas mais uma vez, momentos difíceis. Generalizou-se, mais do que nunca o termo crise, de uma forma sempre negativa, perjurativa, como se de uma praga se tratasse, ou, como a palavra perjurativo significa na sua etimologia, a quebra de um juramento, como se alguma vez alguém tivesse de se culpabilizar perante um acontecimento que a nível internacional vem introduzir um determinado ruído. E a vida nunca manteve ninguém sob juramento.
Aliás penso que dizer que a sociedade está em crise é um grosseiro pleonasmo, já que a sociedade nunca o seria se não fosse crísica. A sociedade é crise, e é-o tanto mais quanto mais souber prevenir, viver e ultrapassar as crises de que se faz e vai fazendo.
Para me debruçar um pouco sobre a crise sou tentado a distinguir três modos de pensamento correspondentes a três realidades:o da troca e da regulação, em que a crise é apenas um desvio fora do equilíbrio; o modo de produção, em que a crise desvela – tanto no sentido de obrigar a ficar vigil como no sentido de aclarar, revelar – , as contradições que são o motor da história; e o nosso, o da auto-organização, em que a crise é uma reestruturação permanente, uma sempre inacabada reescritura do manuscrito da história.
Henri Atlan, diz que segundo a teoria da ordem pelo ruído, uma ordem só existe, uma forma só se mantém se é capaz de fazer circular informações que tenham um sentido para cada uma das partes. Dito isto, quando um ruído agride uma forma, ele aparece como sendo um “parasita” que interrompe a comunicação, conduzindo assim à redução do seu sentido.
Mas, por sua vez, ele também é capaz de criar sentido – num outro estádio da organização – , quer dizer, pode recriar uma complexidade, uma forma, e assim, a desordem acaba por ser criadora de ordem.
A “não-crise” é um movimento imensamente fugaz, é uma utopia volátil entre dois períodos de crise, ou seja, da tal reescritura da história da sociedade e por extensão, da história do mundo.
É pois um erro pensar que tudo está incomportavelmente perdido, sem solução e em que nada vale a pena. Pelo contrário tem é que se pensar que tudo está em aberto, em constante devir, e que só é preciso que haja pessoas atentas aos movimentos da história, e actuar, e fazer.
É que são as pessoas quem faz a história, mais ninguém!
E nunca nos podemos esquecer disso.

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