Ela era linda, simpática e parecia
eficiente. Linhas bem perfeitas, torneadas e cativantes. Tinha 19 frescos e
alegres anos. Estatura mediana, escorreita, cabelos morenos curtos e aparados.
Ar garoto e andar bamboleante, atraente e direi mesmo algo provocador. Peito
miúdo mas firme, exibindo mamilos deliciosos e agradáveis à vista.
Ele a dar-se ares de filósofo, bem
falante, cachimbo ao canto da boca, ar distante. Estatura acima da média para
homem mediterrânico. De chapéu e de sapatos brilhantes, bem vestido e engomado.
Conjunto de fato e gravata azul marinho, com bolinhas azuis mais escuras. Um
verdadeiro cavalheiro, de cabelo algo desalinhado mas bem tratado.
Conheceram-se no local de trabalho. Um encontro meramente casual e inevitável
para quem partilha e cruza os mesmos caminhos. Cruzaram-se nas escadas altura
em que ele lhe chamou a atenção para a ponta do tapete levantada, não fora ela
tropeçar e cair. Sorriram. Agradeceu a atenção e cuidados. Trocaram um olhar
mais demorado. Voltaram a sorrir e afastaram-se ambos com um ligeiro brilho nos
olhos. O cupido estivera presente naquele rápido e fugaz encontro. Dera mais um
tiro certeiro com o seu instrumento caça lovers, pelo menos momentaneamente.
Sim, porque o futuro e continuidade deste processo já não era da sua conta nem
responsabilidade. Uma vez alcançado este objectivo, partira em busca de outro
parzinho de arma assestada. A fase seguinte ficava entregue ao deus dará, ao
alinhamento da lua, à conjuntura social e política, aos deuses do amor, da
saúde, da justiça e de outros criados e inventados pelo homem ao sabor das suas
necessidades, e para satisfação dos seus interesses momentâneos e fugazes.
O namoro teve início uma semana
depois, quando voltaram a cruzar-se à entrada para a cafetaria fronteira ao
local de trabalho. Uma comum interligação e vontade de aprofundar conhecimento,
levou-os até uma mesa, onde após breve troca de banalidades, passaram a
entrecruzar ideias, e a partilhar experiências, e a aferir gostos e
sentimentos. Passaram a encontrar-se diariamente e a sair juntos. Trocaram tudo
o que havia para trocar. Partilharam o que bem lhes aprouve ao sabor de gostos
e desejos momentâneos. Desencantaram a lua e descobriram o que havia guardado
nos baús. Brincaram como crianças que descobrem o brinquedo desejado.
Esqueceram por momentos o que havia à sua volta.
Contudo, tudo se complica e modifica,
quando partilhar responsabilidades se torna necessário, e quando se acorda
verdadeiramente para o real. Surgem as desconfianças. Os caracteres e
comportamentos acordam do sonho e revelam-se verdadeiros. O encanto dos
primeiros momentos cedeu lugar a pontuais discussões. Surgem as dúvidas e
naturais interrogações.
Mais denso se avoluma o problema
quando as chamadas liberdades pessoais e individuais são colocadas em causa.
Aos poucos foram-se afastando. Algo
quebrara aqueles momentos mágicos e únicos, e dera agora lugar a ocasionais e
fortuitos encontros.
Começaram mesmo a evitar-se. Fora
algo meteórico, relâmpago, e está tudo dito. Não são necessárias mais palavras,
quando falharam os actos associados a novas realidades.
O afastamento deu-se por completo
quando a nossa jovem fazendo valer as suas qualidades responsáveis e a
eficiência, foi estagiar para um gabinete de advogados na outra extrema da
cidade, e aí arranjou apartamento provisório. Nunca mais se soube nem de um,
nem do outro. Entre eles ficou a recordação dos bons momentos partilhados.
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