As palavras são como o
fumo branco e cinzento, farrapos negros, cáusticas mesmo.
O fumo esconde a luz, as
palavras escondem e desculpam os actos.
Fechadas e herméticas,
as palavras ficam encerradas em si próprias, tal como o fumo negro encerra a
luz e tapa a verdade, camuflando-a, e por vezes disfarçando com fiapos mais
claros, meramente prometedores e só isso.
As palavras isoladas não
associadas a actos, meramente de retórica e de ocasião, são como o fumo que se
evola e sobe em turbilhão para a atmosfera, desvanecendo-se na sua ascensão
rumo a nenhures.
Por vezes sentimos que
estamos a falar para o vazio, que atiramos palavras para o ar, que seguem o
mesmo percurso que o fumo.
Algumas palavras são
duras e negras, magoam, doem no íntimo do ser, trazendo-nos lágrimas aos olhos,
tal como o negro e pesado fumo que se liberta do incêndio que lavra, destruindo
haveres e fazendo o homem mais pobre e triste.
As palavras por vezes
são promessas. Promessas são sempre esperanças. O dia a dia de cada um de nós
constrói-se alicerçado nessas esperanças. Agarra-mo-nos às palavras, bebe-mo-las
e repeti-mo-las, procurando com isso obter ecos, que possam reforçar e
complementar essas esperanças. Sentimo-nos defraudados quando aos poucos e no
tempo, essas promessas se vão esfumando, e com elas as esperanças acalentadas.
Aí somos nós que passamos a fazer uso das palavras, apelidando tudo e todos,
desabafando, libertando a pressão interior, soltando as palavras caladas e
acumuladas, devolvendo-as, ásperas e pontiagudas, certeiras, porque sinceras e
verdadeiras. E mais uma vez as esperanças se foram levadas para a estratosfera,
longe, bem longe, para onde os homens delas se possam esquecer, e outros as
possam continuar a ignorar.
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