«ex
toto corde», ao Mago Merlin, de Tomar
de
todo o coração, ao José Manuel Rabaça
I
Como dizia o Professor,
e o professo, no Colégio Militar ( e Carlos Dias, o seu nome, em Portuguesa
disciplina ), «agora vamos às palavrinhas». Para a mentalidade herdada do
Positivismo, e da Revolução Industrial, os poemas, como os sonhos, não servem
para nada. As actrizes, nos dias de antanho, eram vistas, ó ledor, como as
pécoras e pegas – e «letras são tretas» é o que diz, alfim, o materialeiro.
Para Nicolas de Malebranche, o ocasionalista, a imaginação era, literalmente,
«a louca da casa», «la folle du logis» na sua triste expressão. Não pensavam,
dessarte, os povos Antigos. Para os Egípcios, por exemplo, o deus da Palavra era, outrossim, o deus da Magia – e seguiram,
nessa esteira, os Helenos aticistas. Os nomes, por isso mesmo, são Numes, e na
escrita, polida, do Pinharanda Gomes, «quando pronunciamos uma palavra,
invocamos um espírito»: e é tal a escola e o escopo da especulação. Para
impugnar, aqui mesmo, o filisteu, não é preciso entrarmos, nós outros, na
Kabbalah operativa: basta irmos, solertes, ao biblista S. João: «Ao princípio»,
por isso, «era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus» - e era
tal o que assertava o discípulo amado. Provido, desse modo, de Logos, o homem,
aqui, é um ser comunicante – e na «communio», por isso, duma Eucaristia,
colabora, o ser humano, com Deus, no projecto ou prospecto Criacionista – pois
seguindo e segundo o Génesis bíblico, é dever, do «Adam», o criar um mundo novo
– e criá-lo, genesíaco, dando graças, e à sua imagem, semelhança e maturação…….
II
Mas o poder das
imagens, quero eu dizer, a lição do «Homo Ludens», não é restrito, nem
limitado, ao pensar religioso. Pois Sigmund Freud, o promotor da Psicanálise,
verificou, veramente, o entremez, entrenoite, do inconsciente: ele se exprime,
ou ele se expressa, através das imagens – e a Psicologia abissal foi definida,
por Anna O., como a «talking cure», uma «cura», dessarte, «através da palavra».
Qual um novo Champollion perante os hieróglifos, devolvia-se, às palavras, seu
antigo poder mágico – e nisto se baseava a hermenêutica do Freud. A essa
reacção, ou ab-reacção, deu o Sigmund, certeiro, o nome de Catarse: se bem
relembras Aristóteles, é, no espectador, a purgação das paixões, oferendada, ao
homem simbólico, através do teatro, da música e Poesia. Conjuntamente com
Freud, o método catártico foi inventado, para o tratamento da histeria, por os
nomes, jubilosos, de Josef Breuer e Pierre Janet. Pois na elação e na moção, a
Catarse é outrossim o que emocionam, proporcionam, Mistérios de Elêusis. Patética,
por isso, é a purga. Com-pensar, portanto, é pôr o penso. A Catarse é o
catarro. E o exprimir, nas ciências humanas, é um pouco o espremer. A
Psicanálise, aqui, é qual a retórica; na linguagem do sonho, o inconsciente se
revela através de metáforas, de Mitos, de metonímias e mentiras. Pois «tout
songe est mensonge», o «ça parle». Toda a Arte é mentira, ou mitomania, que
mentada, digerida e matutada, se transforma, mendace, na verdade promissora.
Onírica, portanto, a ironia; Sigmund Freud, entanto, um linguista. E é fácil
prová-lo: o complexo de Édipo, que é fulcral e crucial em aberta Psicanálise,
foi buscar o seu nome ao Sófocles, o «sócio», o Autor e promotor de «O Édipo
Rei». Que na linha de Freud, do Ernest Jones e do Jacques Lacan, a edipiana
personagem pode ser, mitologicamente, aproximada, à «persona» do Hamlet: a arte
mágica é o Mito e a situação é a mesma. Poder-se-ia ligar, em liança,
Aristóteles a Freud – e fazer, como em Jacob Levy Moreno, do psicótico e do
sonho o solerte psicodrama – e aqui eis a Teurgia. E eis, no Teatro, o
fundamento e alimento da Psicoterapia.
III
Às parábolas, aos Mitos
e às fábulas eu demando, com fulgor, o mesmo que eu pergunto aos Arquétipos,
aos símbolos, aos génios dos Arcanos: dos Arcanos, por isso mesmo, guardaremos
a doutrina. E também a Disciplina. Caminhemos, entanto, para uma Arquetipologia
ou Logoterapia. Quero assertar, e dizer: de romântica raiz, e fervor idealista,
Carl Gustav Jung, o generoso, no conhecimento da Alma deu um passo mais além do
que Sigmund Freud. Expliquemo-nos, dessarte: àquilo a que chamava, William
Blake, o «génio poético», denominou o suíço, e o sofista, Inconsciente
Colectivo: pois tanto um, como o outro, ao serem Religiões são a «fons, et
origo», das imagens, dos Mitos, das metáforas: como é facto e como é feito, os
grandes livros cultuais ( «verbi gratia», o Alcorão, a Bíblia, e o
Bhagavad-Gîtâ ), foram escritos em versos e versículos, quero eu dizer, de
forma oracular. Apelemos, então, aqui, por Paracelso, o Pansofista; o Físico só
existe pra sarar e o sanar. Se o oráculo é de oração, todo o Sacerdote é
assistido, e protegido, por o génio de Mercúrio. Sempre que um Poeta dorme, e
sempre que um Poeta sonha, os Anjos sobem e descem por a escada de Jacob – e a
escada é a «schola» e a escola é o escol. Se o Vate, linguisticamente, é
Vaticano, o Profeta ou Professor é qual o médium, medianeiro, entre Deus e os
homens – e ao proferir, o Provençal, ele está, por isso mesmo, a profetizar: e
alembramos, com Saudade, um Álvaro Ribeiro, um Swedenborg, um Délio Nobre dos
Santos; pois apostemos, por isso, no grémio, no grupo, da Cultura Portuguesa: o
paradigma e pascoal, um novo Génio, de Luso ou de Lisa, está por nascer. Muda
fonética? Kabbalah? Simples jogo de palavras? Um Poeta, que prezamos, nos dá a
resposta; para João Belo, para a Luz, ou para o Jano, «não é por acaso que nada
é por acaso».
Tomar, Cidade
Templária, 11/ 11 / 2010
AD AUGUSTA PER ANGUSTA
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