As montras da cidade de Amsterdão na
Holanda são especiais e diferentes em relação à generalidade dos países que
conheço, pois são as únicas que utilizam manequins vivos e ao natural, para
publicitarem os seus artigos, especialmente e quase em exclusividade roupa
interior. Da cuequinha ao babydoll,
do soutien às meias de liga.
Tem mais duas particularidades em
destaque e diferentes dos outros países. Não praticam um horário normal de
trabalho, pois estão em actividade quase 24 horas por dia, e fazem-se anunciar
e chamar a atenção dos clientes interessados, utilizando luzes néon
avermelhadas e bastante chamativas.
Não faço ideia onde param os
sindicatos holandeses que não controlam estes horários de trabalho, nem
fiscalizam o patronato. As trabalhadoras manequim estão terrivelmente mal
defendidas nos seus direitos, pois exibem-se em pequenos cubículos sem
condições, não permitindo grandes movimentos. Alguns dos cubículos possuem uma
cadeira, que facilita de vez em quando o descanso. Outros nem isso, obrigando à
permanência em pé do manequim, até à sua substituição por outra.
Uma coisa positiva neste processo, e
de referência, é o facto de os manequins serem de todas as raças e cores,
magras e gordas, altas e baixas, revelador de que apesar das más condições de
trabalho, não existe discriminação, nem racismo.
Quanto aos dotes e qualidades dos
manequins, existe para todos os gostos, o que se compreende, dada a
heterogeneidade do público consumidor.
A avaliar pela quantidade de lojas
abertas, a crise ainda não chegou a este sector de pronto a vestir, em especial
de roupa interior e feminina. E tudo indica ir de vento em poupa, pois o número
de casas novas abertas, alastra para outras zonas da cidade, não se confinando
à tradicional rua das montras, com o seu canal dividindo a rua em duas.
É uma rua muito frequentada por gente
de todas as idades. Inclusive faz parte do roteiro turístico da cidade, pois
cruzamo-nos frequentemente com caleches turísticas puxadas por cavalos, que
fazem o circuito completo, transportando gente de todos os níveis e faixa
etária.
Confesso que regressei de uma curta
visita a Amsterdão, maravilhado com esta forma muito original de fazer
publicidade de lingerie feminina,
utilizando manequins naturais e ao vivo. Algumas dançavam ao som de um leitor
de CD’s estrategicamente colocado no minúsculo cubículo. Sempre era a forma de
chamar mais a atenção. Iam rodando, mostrando a peça em vários ângulos.
Chegado a casa e regressado portanto
ao meu país de origem, contei estes episódios a um grupo de amigos e amigas,
que escutaram em silêncio o meu relato, mantendo um sorriso ao canto da boca, e
manifestando-se de vez em quando com uma ligeira gargalhada mal disfarçada.
Mantiveram-se em silêncio sem grandes
comentários. Rapidamente quiseram mudar de assunto e de tema de conversa, e
relataram-me as suas odisseias por cá vividas durante a minha ausência.
Despedimo-nos como bons amigos e cada
qual regressou a sua casa.
Só então e mais tranquilo, reflecti
um pouco sobre o comportamento deles, tendo concluído tratar-se pura e
simplesmente de inveja, por não poderem ter estado no País dos canais.
Enfim, cada um com o seu defeito.
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