quinta-feira, 21 de maio de 2015

As montras de Amesterdão

EURICO LEOTE

As montras da cidade de Amsterdão na Holanda são especiais e diferentes em relação à generalidade dos países que conheço, pois são as únicas que utilizam manequins vivos e ao natural, para publicitarem os seus artigos, especialmente e quase em exclusividade roupa interior. Da cuequinha ao babydoll, do soutien às meias de liga.

Tem mais duas particularidades em destaque e diferentes dos outros países. Não praticam um horário normal de trabalho, pois estão em actividade quase 24 horas por dia, e fazem-se anunciar e chamar a atenção dos clientes interessados, utilizando luzes néon avermelhadas e bastante chamativas.

Não faço ideia onde param os sindicatos holandeses que não controlam estes horários de trabalho, nem fiscalizam o patronato. As trabalhadoras manequim estão terrivelmente mal defendidas nos seus direitos, pois exibem-se em pequenos cubículos sem condições, não permitindo grandes movimentos. Alguns dos cubículos possuem uma cadeira, que facilita de vez em quando o descanso. Outros nem isso, obrigando à permanência em pé do manequim, até à sua substituição por outra.

Uma coisa positiva neste processo, e de referência, é o facto de os manequins serem de todas as raças e cores, magras e gordas, altas e baixas, revelador de que apesar das más condições de trabalho, não existe discriminação, nem racismo.

Quanto aos dotes e qualidades dos manequins, existe para todos os gostos, o que se compreende, dada a heterogeneidade do público consumidor.

A avaliar pela quantidade de lojas abertas, a crise ainda não chegou a este sector de pronto a vestir, em especial de roupa interior e feminina. E tudo indica ir de vento em poupa, pois o número de casas novas abertas, alastra para outras zonas da cidade, não se confinando à tradicional rua das montras, com o seu canal dividindo a rua em duas.

É uma rua muito frequentada por gente de todas as idades. Inclusive faz parte do roteiro turístico da cidade, pois cruzamo-nos frequentemente com caleches turísticas puxadas por cavalos, que fazem o circuito completo, transportando gente de todos os níveis e faixa etária.

Confesso que regressei de uma curta visita a Amsterdão, maravilhado com esta forma muito original de fazer publicidade de lingerie feminina, utilizando manequins naturais e ao vivo. Algumas dançavam ao som de um leitor de CD’s estrategicamente colocado no minúsculo cubículo. Sempre era a forma de chamar mais a atenção. Iam rodando, mostrando a peça em vários ângulos.

Chegado a casa e regressado portanto ao meu país de origem, contei estes episódios a um grupo de amigos e amigas, que escutaram em silêncio o meu relato, mantendo um sorriso ao canto da boca, e manifestando-se de vez em quando com uma ligeira gargalhada mal disfarçada.

Mantiveram-se em silêncio sem grandes comentários. Rapidamente quiseram mudar de assunto e de tema de conversa, e relataram-me as suas odisseias por cá vividas durante a minha ausência.

Despedimo-nos como bons amigos e cada qual regressou a sua casa.

Só então e mais tranquilo, reflecti um pouco sobre o comportamento deles, tendo concluído tratar-se pura e simplesmente de inveja, por não poderem ter estado no País dos canais.

Enfim, cada um com o seu defeito.

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