Nuno
Bastos formou-se em artes plásticas e desenvolve o seu trabalho, sobretudo, na
performance e na escrita. Nas suas performances diz textos da sua autoria.
Encaro
como um aborrecimento a minha tentativa de escrever o texto que agora tendes
perante vós e não fosse a minha caneta regular o fluxo contínuo de
exteriorização e nunca teria dado início a este disparate. Teria sido mais
proveitoso lançar o meu corpo ribanceira abaixo, quebrando um osso aqui e outro
acolá ou provocando hemorragias internas devido a embates violentos contra o
solo à medida que me fosse despedaçando. Com um pouco de jeito romperia um
tendão ou enfiaria uma farpa aguçada crânio adentro ou até, talvez, vazasse um
olho. Mas parece-me que a melhor solução será a construção de um segundo
parágrafo para que este primeiro se feche.
Ora
cá está ele, o tal de segundo parágrafo que dificilmente irá adiantar alguma
coisa ao seu precedente. Sinto-me até um pouco frustrado por me supor legítimo
ao ponto de ter lhe ter dado início, mas o certo é que este segundo só se
justifica porque existe um anterior que regulou a vitalidade deste. Apesar
disso, continua a parecer-me pouco provável que eu consiga tomar-lhe a rédea e
compor nele uma bela história, daquelas que ficam nas mentes das gerações e que
passam de pais para filhos e destes para os netos. Será até descabido ver um
neto e o seu clã sentados em redor de uma fogueira, ouvindo o ancião relatar o
passado neste texto. E creio também que a melhor solução será despachar este
escrito do modo mais breve possível para que não fira os olhos de quem o lê. É
possível que lhe tenha de adicionar mais umas tantas palavras e frases de modo a
que se pareça com um texto aproximadamente legível ou algo que se perceba como
tal e que, mesmo que as palavras à vista funcionem como tampão, lhe seja
possível penetrar entre as letras e aguçar o apetite com o outro lado. Mas isso
aconteceria se, de facto, cada letra deste texto possuísse esse tal de outro
lado pois, caso não o tenha, poderá não haver qualquer necessidade de investir
no seu interior. Resta-me por agora dizer que vou a caminho do terceiro
parágrafo que começa imediatamente a seguir ao término deste, anexando a vil
esperança que nele surja algo de inefável e espantoso.
Agora
que já avanço pelo terceiro parágrafo, espero que este texto se quede por algum
término encontrado. E é, sem dúvida, conveniente que venha o ancião e me oferte
um par de chapadas em cada face para que eu pare imediatamente a escrita deste
devaneio execrável e me estenda solo abaixo, enterrando qualquer sopro que de
mim sobre.
Meus caros,
ResponderEliminarPreciso de entrar em contacto com o escultor Eduardo Sérgio (que participa no vosso blogue), por causa de um artigo que estou a escrever, no qual falo de um busto realizado por ele e que ainda se encontra em Cabo Verde, no local em que foi erigido.
O meu email é o seguinte: mindelosempre@gmail.com
Antecipados agradecimentos e cumprimentos,
JS