Ao
iniciar-se na leitura desta bodega fica o magnífico leitor habilitado a
conseguir chegar ao término da mesma bodega. Portanto, excelso leitor, se por
algum motivo de força maior tiver desejos de ignorar a existência desta coisa
que por aqui vai, pode fazê-lo e ir dedicar-se a qualquer outra coisa. Se
quiser continuar a ler esta porcaria, então siga lendo.
Creio
com toda a certeza que o que escrevo é absolutamente desinteressante e até eu
próprio fico aborrecido com todo este palavreado aparvalhado. Comecei a
escrever esta palermice depois de ter rebolado o meu corpo nu ao longo do chão
da minha casa, mas só rebolei até me apetecer. Antes disso eu estava vestido e
fui discutir Nietzsche com o semáforo que fica ali ao fundo. Gosto de discutir
Nietzsche com ele e às vezes o merceeiro da esquina vem debater connosco. O
semáforo é um entendido em Nietzsche mas o merceeiro é mais Jung.
Ainda
antes de discutir Nietzsche com o semáforo, estive a pregar um prego numa
parede porque, ao longo do dia, a sombra do prego vai-se movendo pela parede.
E, por certo, o meu magnânimo leitor sabe que, para pregar um prego numa
parede, é necessário um prego e um martelo, além da parede e de alguém que
martele o prego.
Antes
do prego já não me lembro o que fiz, mas antes disso que não me lembro olhei
para um telefone. Ele não fez barulho mas eu olhei à mesma. Um telefone costuma
fazer barulho ou tocar uma cantiga. Antes de olhar para o telefone também já
não me lembro o que fiz e antes também não. E acho que antes também não.
Costumo
discutir filosofia com outros semáforos mas aquele é o mais sabido. Há um
semáforo que só vê Platão à frente e há um outro semáforo que só quer saber do
Sartre. Às vezes vou com o merceeiro da esquina ter com um desses outros mas
ele só quer saber do Jung. O merceeiro vende batatas, couves e hortaliças no
geral. Também lá tem bolachas, massas e cereais. A mercearia dele é pequena e
tem demasiadas coisas à venda e quase não há espaço para os clientes se mexerem
lá dentro e a caixa registadora é grande demais para uma mercearia tão pequena
como aquela. O merceeiro é casado com a merceeira, uma mulher antipática e que
nunca é simpática. O merceeiro e a merceeira não têm filhos porque não têm
filhos. São só eles os dois que trabalham na mercearia da esquina. Em frente da
mercearia da esquina há uma loja que vende roupa e que tem bonecos grandes na
montra para mostrar a roupa que vende e lá ao lado há uma loja que tem aqueles
bonecos que mexem e que cantam quando alguém lhes mete uma moeda. A mulher que
trabalha na loja de roupa também é antipática. Eu só gosto do merceeiro e da
filha da mulher da loja de roupa. O merceeiro é simpático mas a filha nem por
isso. A filha da mulher da loja de roupa namora com um rapazola com barba e que
diz que é muito macho porque defende a namorada. Uma ou duas vezes chamei uns
quantos nomes a esse rapazola e ele ficou muito ofendido e depois correu atrás
de mim e eu fiz queixa ao merceeiro. Depois veio a mulher da loja de roupa e
perguntou-me o que queria eu da filha dela e eu disse-lhe que não é com a filha
dela mas sim com o rapazola. Quando lhe disse isto, a mulher afastou-se e eu
procurei o moçoilo para lhe chamar mais uns quantos nomes. Depois acho que fui
falar com o merceeiro, já não me lembro bem. E antes também já não me lembro o
que estava a fazer e só me lembro de começar a escrever isto. Sei que depois
abri a porta e fechei-a e depois fui ver se estava a chover. Antes disso eu
estava sentado no sofá e antes de estar sentado no sofá, eu estava em pé.
Estive com a filha da mulher da loja de roupa e falei com ela. Perguntei-lhe se
ela acha que o rapazola é um brutamontes e ela ficou ofendida. Depois foi fazer
queixa ao rapazola que correu atrás de mim e eu corri à frente dele. Ele tem
barba e muitos músculos. Depois eu corri à frente dele e entrei para a
mercearia e fingi que era cliente mas a mulher do merceeiro expulsou-me porque
é antipática e continuei a correr à frente do rapazola. E antes disso já não me
lembro o que estava a fazer.
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