Fui ali a Roma e voltei.
Levava no bolso um papel amarfanhado tal qual emigrante desdentado.
Peguei
nos ténis e num mapa e caminhei. Não vi metros, nem bicicletas, vi
scootters com fartura e taxistas civilizados e simpáticos ( bizarro
...) Desmanchei a ilusão que trouxera dos filmes americanos onde se
retratam os italianos como famílias numerosas aos gritos e aos
encontrões num desenrolar de massa colorida; antes; comi salada e
compreendi que Família numerosa conheço eu dentro das 4 paredes da minha
própria casa.
Em Roma reina o silencio, os
solteiros bem vestidos, as mulheres muito giras e nada que se apresente
como um possível e eventual "filho".
Fui à
fonte das moeditas ( fonte di trevi ) para pedir um desejo mas fugi
rapidamente com a vontade sincera e inabalável de não voltar ali. Eram
pessoas e mais pessoas a banharem-se que nem umas loucas com jeans
velhos e t-shirts usadas sem glamour; absolutamente nenhum, debaixo de
uns reais e concretos 40 graus que queimavam qualquer sonho ou objecto
de ilusão. Eram turistas e mais turistas a treparem costas acima, braços
abaixo pelas pernas e pelas cinturas à procura de uma fotografia
pseudo-perfeita de estátuas de homens musculosos brancos e nus a
espirrar uma Arte que já se foi. Eu; comprei um postal por cinquenta
cêntimos numa "barraca" vazia mais à frente e dei-me por .:
verdadeiramente feliz*
Já desiludida com a
cidade de sonho onde se filmou o famoso "Roman holiday" e o mais recente
"From Rome with Love" caminhei semi-triste rumo ao lado oposto de tudo o
que tinha escrito no dito papelito amarelado e amarfanhado e foi então
que encontrei a "luz"; tal qual papa franciscano; uma livraria à moda
absolutamente antiga. Daquelas que cheira realmente a livros colados com
cola branca. Entrei e sentei-me num suspiro profundo de entrega a um
banco branco almofadado e com a forma real e enformada de um rabo;
usado; portanto . Folheei quilogramas de bichos amigos, uns de cada
dura, outros lindamente ilustrados, todos eles traduzidos na língua bela
e cantante que é, de facto, o italiano. Não fui incomodada nenhuma vez
por uma pressa irritante e suplicante de uma eventual e possível venda,
Antes, fui acolhida. Não fui assediada, nem empurrada; antes; encontrei
espaço no Espaço para me Transpor e repor em cenários de magia,
mergulhei fundo nas fontes imaginarias do meu ser e jamais fui
interrompida; prometi-me assim proteger-me.:
Jamais voltar a visitar sítios cuja a expectativa é demasiado elevada.
Jamais
ouvir opiniões alheias sobre esses mesmo sítios onde essas mesmas
pessoas com opiniões ( não desfazendo ) foram tão felizes e assim, sem
mais nem menos, entendi que trazia no peito uma enorme angustia, essa
sim, tão real. Saudades imensas da minha casa, não só das paredes
"endiabradas" mas das árvores envolventes, da magia mágica, do
misticismo místico, do fantástico inocente e ao mesmo tempo perverso que
é a minha pequena e grande cidade, vila aldeia ilha de Sintra , minha
mãe, meu útero, minha caverna gruta aveludada com musgo e humidade .
Amo-te terra Permeável e inalterada que Permanece para sempre assombrada
pelas bruxas com fama justa de mal fadadas, que desabrocha em vida a
cada segundo debaixo dos meus pés. Hei-de morrer cheia de reumático e
artrites, é certo mas a sorrir um sorriso desdenhosamente quente com
aquilo que te sei; sobre.
Roma é lindo sim,
sobretudo fora dos mapas traçados onde existem italianos a viver a
Itália, de verdade "" mas Sintra é e sempre será a minha Sintra* serra
preferida e favorita .
Coisas... de menina.
Portanto .
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