Recentemente, tive o prazer de estar presente numas Jornadas
promovidas pelos alunos e professores de uma Escola Profissional.
Para alguém, como é o meu caso, que trabalha em gestão de
Pessoas, Comunicação e Formação há cerca de 30 anos, é sempre gratificante
assistir a uma iniciativa onde jovens estudantes trocam experiências e ideias
com profissionais das áreas onde profissionalmente poderão vir a atuar,
fazendo-o com alegria genuína, com orgulho pelo caminho percorrido e onde fica
bem patente o AMOR (sim, a palavra é essa) que sentem pela sua escola e pelos
seus professores.
Gostaria, no entanto, de destacar uma das intervenções que
ali ouvi - a de uma jovem chamada Filomena, natural da Guiné e que atualmente
exerce a profissão de Assistente Social.
A Filomena contou-nos (de uma forma e com uma luminosidade no
rosto que são impossíveis de descrever por palavras) o que tinham sido estes
seus 28 anos de vida, desde que viera para Portugal, com os pais, com 4 anos de
idade. Falou-nos dos seus tempos difíceis de menina (e da sua irmã) dormindo,
com os pais, nos corredores do Metro de Lisboa ou nas barracas sujas e quentes
do Sul de Espanha onde se amontoavam os trabalhadores rurais e por onde também
passou com a família. Falou-nos de um tempo (muito) difícil onde nem entendia
porque lhe chamavam "preta da Guiné", logo ela que nem se lembrava
sequer da terra onde nascera, porque dali saíra cedo. Contou-nos como ela e a
irmã foram abandonadas pelos progenitores e acabaram a saltitar de instituição
social para instituição social. Mas, sobretudo, relatou como entendera cedo que
precisava de ter objetivos bem definidos na vida e lutar para os alcançar, sem
se deixar tolher pela falta de dinheiro, de condições ou de esperança. Por isso
logrou ser a melhor aluna da sua turma quando percebeu que precisava de obter
"aquela" bolsa de estudo para poder ir estudar para a Faculdade e como,
ao longo do tempo, conseguiu apoios para ir estudar no estrangeiro, conhecer
outras pessoas, outras culturas e tornar-se "nesta" Filomena que ali
silenciou a plateia com a sua presença simples mas tão gratificante.
Especialmente tocante o momento em que evocou o "regresso" à "sua" Guiné, depois de perdoar à mãe que a abandonou e fazer, com ela, a viagem de carro desde o Norte de África até à terra natal. Nesse regresso a Filomena entendeu que ali era o seu lugar - por mais que viajasse ou trabalhasse noutros pontos deste Mundo. Percebeu-o pelos cheiros, pelo calor, pela brisa, pela impressão de que já ali tinha estado e tudo aquilo tinha ficado impregnado no seu sangue. Decidiu ajudar e criar uma organização para ajudar mulheres que trabalham os campos, sendo elas próprias a gerir os apoios recolhidos e a disseminar os conhecimentos adquiridos.
Especialmente tocante o momento em que evocou o "regresso" à "sua" Guiné, depois de perdoar à mãe que a abandonou e fazer, com ela, a viagem de carro desde o Norte de África até à terra natal. Nesse regresso a Filomena entendeu que ali era o seu lugar - por mais que viajasse ou trabalhasse noutros pontos deste Mundo. Percebeu-o pelos cheiros, pelo calor, pela brisa, pela impressão de que já ali tinha estado e tudo aquilo tinha ficado impregnado no seu sangue. Decidiu ajudar e criar uma organização para ajudar mulheres que trabalham os campos, sendo elas próprias a gerir os apoios recolhidos e a disseminar os conhecimentos adquiridos.
O tempo passou depressa ao ouvir a Filomena. Lembrei-me de um
certo “vivaço”, com laivos de “vendedor de feira”, que surgiu em tempos na
Comunicação Social como contratado pelo Governo para divulgar um programa de
empreendedorismo para jovens - e de como a Filomena lhe daria "um
baile" de simplicidade, determinação, liderança, empenho e prazer de
viver. Ela, que tinha todos os motivos do Mundo para cair numa depressão profunda
- enxugou as lágrimas que certamente chorou e fez delas um mar de
oportunidades. Ela, que podia ser azeda, amarga, triste e derrotista - soube
perdoar, soube fazer do pouco imenso e transformou-se na borboleta que talvez
ninguém esperasse. Aos 51 anos de idade, eu aprendi imenso com a Filomena,
naquela manhã, e saí daquelas Jornadas com a sensação reforçada de que Deus se
revela aos Homens nestes momentos preciosos.
Sem comentários:
Enviar um comentário