Existe em Galamares um cine-teatro datado do princípio do
século, onde durante anos, mercê da generosidade do visconde de Monserrate se
realizaram récitas musicais, teatro amador, cinema, etc, num espaço romântico
de fim de século, com balcão e plateia, decorado com pinturas murais e baixos
relevos.
O restauro deste espaço foi importante. Trata-se do único
espaço público de Galamares, ali tocou Viana da Mota em 1923,e se fez teatro
desde 1920.
Sobre o mesmo teatro e sua actividade, escrevia o “Ecco Artístico” em Dezembro de 1924:
“Todos os que frequentam a pitoresca villa de Cintra conhecem o
verdejante logarejo de Gallamares, na estrada nova de Collares.Situado entre
quintas e prados floridos, a sua disposição é lindíssima, apresentando toda
esta região um aspecto rústico e cheio de frescura, que caracteriza o nosso
campo.
Pois n’esta pequenina
aldeia,semi escondida entre arvoredos, existe um theatro há pouco
construído,digno de ser anotado nas colunas do Ecco(….).A ideia da construção
do theatro data de 1916.O Sr Guilherme Oram, intelligente administrador das
propriedades do Visconde de Monserrate é a alma d’esta iniciativa artística.
Grande amante de tudo o que se relacione com o theatro, já há muitos annos que
nas épocas das ferias da escola de Monserrate organisava recitas no salão
d’essa escola, recitas em que se representavam comedias mais ou menos
applaudidas. D’essas noites bem passadas veio a verdadeira origem da
construcção d’um pequeno theatro onde se
podessem entreter as principaes famílias d’aquelles sítios,aliando-lhe o
sympatico fim de tirar os operários das vias do jogo e da taberna, por isso que
lhes proporcionava um passatempo agradável, pois Guilherme Oram pensou e pensa
em organizar um orpheon para aquella gente humilde e trabalhadora poder cantar
os cânticos das nossas províncias, as quadras nascidas na alma triste e
romântica do nosso povo.
O theatro em pouco
tempo appareceu, tendo trabalhado n’elle com raro denodo os operários de
Monserrate, sob a direcção de Guilherme Oram.Antonio Graça, mestre dos pintores
da casa Monserrate,pintou os panneaux da salla e o panno de boca. Infelizmente,
este artista morreu pouco tempo depois da inauguração do theatro. Os restantes
scenarios teem sido pintados por Júlio Fonseca e Garibaldi Martins, que teem
demonstrado muita habilidade e fino gosto.
O sr.Oram(foto ao lado) com o seu
ideal artístico assim realizado, tem organizado recitas muito interessantes, e
já neste theatro deu um recital de piano o pianista Vianna da Motta.
O verão passado fomos
pela primeira vez ao theatro Monserrate, em uma noite em que se representou uma
revista em 2 actos e 3 quadros, intitulada Sem pés nem cabeça, crítica
engraçada aos costumes e pessoas conhecidas de Cintra, original de José
Teixeira. Este novel escriptor soube produzir uma revista cheia de ditos
engraçados e de profunda crítica, sem nunca usar d’um termo picante, obsceno,
caso raro entre nós!
Todos os amadores
representaram com distinção, tendo havido números muito bem cantados; no entanto,
devemos destacar D.Lily Pereira Teixeira, D.Delfina Domingues, D.Umbelina
Silva, D. Amália Cardoso, José Teixeira, Francisco Cardoso e Urbano James.
Os compéres foram
Guilherme Oram e Eduardo Fructuoso,que mais pareciam artistas feitos do que
simples amadores.
A sra D.Maria do Carmo
Cunha Fructuoso acompanhou no piano todos os trechos da revista, com a maxima
correcção.
Do guarda roupa,que era
luxuoso,encarregou-se a Exma Sra D.Maria Oram.
O theatro,que tinha uma
enchente,representada pelas principaes famílias que estavam em Cintra,em
Collares e na Praia,applaudiram com enthusiasmo, havendo muitas chamadas
especiaes aos principaes interpretes, aos srs Oram e José Teixeira.
Para este inverno e
futuro verão já se preparam outras recitas”
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