ANTÓNIO LUÍS LOPES
Vivo em Rio de Mouro há praticamente 50 anos.
Aqui cresci, aqui fiz a Escola Primária (com a saudosa Professora Isabel, que
morava numa bonita vivenda junto à estação da CP), aqui casei (na Igreja de
Nossa Senhora de Belém (em cerimónia celebrada pelo Padre Delmar Barreiros) em
Rio de Mouro Velho, aqui sepultei, no cemitério local, alguns dos meus
familiares. Por tudo isto, e tendo nascido em Lisboa, considero esta a
"minha" terra.
Lembro-me
de como era Rio de Mouro há 50 anos atrás, um pequeno aglomerado urbano a
despontar junto à velha estação do comboio, as várias quintas na Rinchoa e Rio
de Mouro Velho, o espaço eminentemente rural que o "cimento" dos anos
70 / 80 descaracterizou gradualmente. Lembro-me do vendedor de perus que, no
Natal, arrastava os bichos atrás de si, presos com cordas, andando a vendê-los
de porta em porta. Lembro-me do velho posto da UCAL onde se levava uma garrafa
de vidro para encher com leite, assim como da mercearia do Sr. Alexandre com as
postas de bacalhau "demolhado" em alguidares à porta, as sacas de
arroz, feijão e grão abertas e o azeite que a minha mãe me mandava comprar e
que era vertido para a garrafa a partir de uma velha máquina de medir azeite.
Lembro-me da taberna do Sr. João onde o meu saudoso pai me mandava comprar
vinho para o jantar (do "especial") e um maço de "High
Life", o tabaco que fumava. Lembro-me do forno da cal que existia no mesmo
sítio onde hoje está a Escola Secundária Leal da Câmara e do grande eucaliptal
em seu redor. Lembro-me do cinema ambulante (verdadeiro Cinema Paraíso) que
surgia de vez em quando e que assentava arraiais no largo junto à estação da
CP, projetando no interior da grande tenda, filmes como o "Sarilho de
Fraldas", com o António Calvário e a Madalena Iglésias ou o Spartacus, com
o Kirk Douglas, dois daqueles que me lembro de ver, depois do meu avô Luís
pedir ao dono do tal cinema que me deixasse entrar, apesar dos meus 7 ou 8 anos
estarem muito abaixo do "escalão etário" permitido... Lembro-me das
provas de motocrosse nos terrenos junto à estação da CP, do lado da Calçada da
Rinchoa, e onde mais tarde foi construída a primeira igreja (uma pequena
capela) em Rio de Mouro (Estação). Lembro-me de, naqueles meses que se
sucederam ao 25 de Abril de 1974, chegar um dia à janela da casa dos meus pais
(onde ainda hoje mora a minha mãe) e ver um "chaimite" a descer a rua
em frente, com grande alarido dos miúdos e espanto de homens e mulheres, sendo
que aquilo que se dizia era que viera "caçar" um "informador da
PIDE". Lembro-me da Amália Rodrigues a cantar num palco improvisado dentro
das garagens dos prédios na Calçada da Rinchoa onde, a seguir ao 25 de Abril,
também foram colocadas as urnas para as eleições, com longas filas de votantes
como jamais visto...
Muitas
histórias de uma terra com História.
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