De seu nome
Leonardo Torriani ou Torreano, na sua versão aportuguesada, foi um engenheiro e
arquiteto militar que chega a Lisboa na comitiva de Filipe I de Portugal e
Segundo de Espanha. Natural de Cremona, na atualidade uma comuna da região da
Lombardia, mas que na época, isto é, finais do século XVI, integrava o
famigerado Sacro Império Romano-Germano. Temos notícias da sua presença no
Termo do Concelho Senhorial de Belas, concretamente nas Águas Livres, em
Carenque, conjuntamente com o Rei D. Filipe I, que desta maneira averiguavam in loco as condições em que nasciam as
águas, a sua abundância, a sua qualidade e os custos de as voltar a conduzir a
Lisboa, bem como da sua passagem e do Rei pelo Palácio dos Senhores de Belas
[Lavanha;1622,p73].
Ora, se o seu trabalho, no termo e região de
Lisboa, que sabemos por várias nomeações para a função de aquilo, que chamamos
hoje de diretor ou engenheiro responsável de obra, acontecem entre 1594 para o
Forte de São Lourenço do Bugio; em 1597, para o Forte de São Julião da Barra e
também de São Filipe, em 1598 e que a par destes tinha, ainda, um
acompanhamento técnico das Ferrarias de Barcarena, necessariamente Leonardo
Torreano tinha de se "enraizar" ou na Corte em Lisboa, praticamente
inexistente, na época, ou em laços de família sustentáveis emocionalmente e
economicamente. Assim, Leonardo Torreano casa com uma senhora nobre, D. Maria
Manuel, filha de Paulo Afonso, cavaleiro D’El Rei e de D. Joana Cabeia Faria.
Família que contava com importantes interesses económicos nos Termos de Lisboa,
Sintra e Mafra, como se pode aferir na relação de bens ou rendimentos de uma
Capela instituída por esta família, na Paróquia de N. Senhora da Purificação,
em Oeiras, consagrada a Nossa Senhora da Piedade. Texto que transcrevemos de
seguida, e que para além da informação direta sobre quem administrou e que
meios administrou, também é esclarecedor das significativas alterações de posse
de terras, em meados de setecentos: «.....capela
instituída por D. Mécia Dias, filha de D. Diogo Martins e de D. Helena Dias. De
Oeiras, foi Moça de Camara da Rainha D. Leonor esposa de D. Manuel I; casou e
não teve filhos. Instituiu Capela de Nossa Senhora da Piedade, na Igreja
paroquial de Oeiras, que contava com os rendimentos de três casais situados
respetivamente em Cacilhas e Leão [ou
Leião, na sua forma mais recente], a
que andavam juntos outros bens. O primeiro administrador da Capela foi seu
irmão Antão Martins Cabeia; o segundo administrador o filho deste Tomé Antunes
Cabeia; ao qual sucedeu Joana Faria, sua filha, como terceira administradora,
da dita capela. A joana Faria casou com Paulo Afonso, Cavaleiro d’Rei e desse
casamento nasceu D. Maria Manuel, que foi a quarta administradora. Esta senhora
D. maria Manuel casou com o famoso Leonardo Torreano, [Engenheiro e
arquiteto de Filipe I de Portugal, que sendo de origem italiana aqui se
radicou]. O filho destes, Luís Torreano
de Faria, foi o quinto administrador. Casou com D. Isabel de Faria e tiveram um
filho de seu nome Leonardo Torreano de Faria que foi o sexto administrador;
Casou com D. Isabel Francisca da Rosa Sobrinho de quem teve uma filha por seu
nome D. Cláudia Maria Veríssima da Rosa. Esta senhora casou com Manuel Serra
Bernardes e do casamento nasceu o Leonardo Torreano de Faria, que foi o sétimo
administrador e assim estava em 1739.»
Ora os bens que integravam desde a primeira
metade do século XVI a Capela consagrada a Nossa Senhora da Piedade, instituída
da Paróquia de Nossa senhora da Purificação de Oeiras, são em parte desanexados
por sub-rogados [transferência dos direitos de posse] ao Marquês de Pombal por
D. Joana Manuel Torreano de Faria e seus imediatos. Esta senhora era casada com
Rafael Carlos Siver da Silva. A transferência de Direitos ocorreu em 16 de
Setembro de 1755. Assumem então um papel de rendimento principal, da dita
Capela, outros bens que não sabemos se já estavam incluídos desde a sua
instituição, ou se terão sido incorporados em 1755, que se encontravam no termo
de Sintra, a saber: «o Casal de Apoletim:
paga 35 alqueires de trigo; 35 alqueires de Cevada e um carneiro. O Casal de
Alvarinhos: 30 alqueires de trigo e 30 de cevada e duas galinhas. o Casal do
Arneiro do Arreguenha: 40 alqueires de trigo 40 de cevada. Casal do Godinheiro [Sem
localização precisa]: 30 alqueires de
trigo e 30 alqueires de cevada e um carneiro. Casal da Reboquia [sem
localização precisa]: 30 alqueires de trigo e 30 de cevada. Casal de Armés:
30 alqueires de trigo e 30 de cevada.»
Nos bens
desta capela, Nossa Senhora da Piedade, andam ainda arrolados outros bens de
natureza financeira nomeadamente: «.....Damião João: 8 alqueires de trigo
salvajo e duas galinhas; Cabecinho: 500 reis; Alcasoval: 12 alqueires de trigo
e duas galinha; Um juro na Casa da Moeda da Cidade de Lisboa: 120$000 reis;
Outro juro no Concelho Ultramarino: 30$000 reis» (In: Memorial Histórico de Oeiras, ou Coleção de Memórias de Oeiras, Tomo II - Instituições
de Capelas, 28ª, página 117, Edição de CMO de 1992).
Estas foram
as últimas contas prestadas pela administradora da Capela, D. Joana Manuel
Torreano de Faria, no ano de 1821, depois desta data perde-se o rasto da Capela
instituída e dos seus bens, começava-se a viver tempos de mudança e de
esvaziamento das Obras Pias.
De Leonardo
Torreano sabe-se, também, que este detinha o cargo de Engenheiro Mor do Reino
em 1598; em 1605 tinha a seu cargo a construção da fortaleza de São Salvador da
Bahia, sem que se tenha a certeza da sua presença física no Brasil, tanto mais
que um tal João Torreano, Freire Beneditino, seu filho também foi engenheiro
militar.
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