nada esperes. na mesa em frente ele levanta-se,
ela permanece, depois ele regressa e ela parte,
não aguardes compreensão, não escutes a porta
a bater. nada desejes. trazes esse cão negro da
ansiedade pela trela mas é ele quem te guia, ao
balcão alguém pede um café, a manhã passa,
a vida passa, a rua passa, lá fora a sombra passa
mas nada esperes, o que te prometeram foi
anzol, o que te mostraram foi ilusão, quebra-se um
copo na cozinha e há um riso de cacos no ar.
andamos há quarenta anos nisto, acorda, acorda,
não sei se ouvi num sonho ou foi agora,
nada é certo, nada é nosso, nada nos mostra
a chave da paz que perseguimos. o cão negro rosna.
não queria perder a fé nos homens agora que a
recuperei de Deus mas todos os dias o sol ameaça
desaparecer de vez e é por isso que vivo no medo.
nada esperes, então. Iludiram-te. Enganaram-te.
Nunca é tarde para prender a trela àquele poste
lá fora. E ir embora.
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