segunda-feira, 20 de julho de 2020

O Rádio Rata

CAÍNHAS









Nos meus bons tempos de rapaz novo, nascido e criado na Vila Velha, fazíamos ali a nossa vida, trabalho casa, casa Café Paris, sede do Hockey, por ali, eu a determinada altura com a “febre” da música, intervalei desde os meus 16 anos até ir para Angola, era só ensaios, e atuações, e consequentemente dias inteiros na Sociedade União Sintrense a ensaiar ou nas deslocações para atuar.

Tínhamos o culto da amizade, não haviam telemóveis, redes sociais e essas coisas modernas, mas, tínhamos imaginação e divertia-mo-nos.

Passávamos horas a conversar, quantas vezes juntávamos um grupo, ou mesmo conversas a dois, e íamos para o Paço andar para trás e para a frente a falar do quotidiano, de música, desporto, do Hockey de Sintra, das miúdas, e de uma quadrilhice ou outra. Não podíamos fugir, então como conseguíamos passar o tempo.

Mas, em termos de quadrilhice, ninguém batia o RÁDIO RATA, o tal que nós dizíamos que estava sempre a funcionar, 24 sobre 24 horas! E estava!

Era uma família que morava numa casa, virada para o Largo da Vila, fosse a que horas fosse se chegasse alguém, ou houvesse movimento extraordinário, lá estavam ou ela ou ele, a remexer as cortinas para quadrilhar e ver o que se estava a passar. Nós moços irreverentes, começávamos logo a gritar, RÁDIO RATA A FUNCIONAR, a curiosidade daquela gente era tanta que não largavam a “vigilância”.

Como se estava em pleno salazarismo, havia sempre aquela dúvida, se seria vigilância pidesca, ou mesmo só curiosidade.

Se algum de nós se diferenciava por ser mais esperto, curioso, ou quadrilheiro, o apelido era ser Rato, ter muita ratice, daí o Rádio Rata, porque fazia parte da nossa terminologia.

Isto podia dar pano para mangas, mas é aborrecido pormenorizar, porque embora já tenham morrido os originais, que por isso nos merecem respeito, devem ter familiares descendentes, e não vou sujar o nome de ninguém, e não tenho memória que tenham prejudicado ninguém nestas suas “pesquisas de janela”.

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