quinta-feira, 30 de maio de 2013

As palavras já não chegam

ANTÓNIO LUÍS LOPES










As palavras já não chegam
para construir a porta por onde
o futuro entrará,
nelas nos deitamos e acordamos
com a boca seca, com a pele
em fogo e nada,
nada,
nada

houve um tempo das palavras
gritadas na rua, fechadas no medo,
encobertas nas lágrimas,
pressentidas nos outros,
com elas cantámos,
refizemos a história e achámos
que haveria um final feliz

mas escorreram como gotas
de uma morrinha pelas pedras da
calçada, a festa dos nossos risos e abraços
e planos e flores na lapela
fica agora encarcerada em caixotes de
papelão no sótão de casa

já não chega deixá-las romper por entre
os dentes, tropeçando na língua
e procurando o eco da praça cheia da ansiedade
colectiva, agora andam perdidas como
crianças num centro comercial
repleto de fantasmas

este é o tempo de colher as pedras
que germinaram das muitas palavras que
fizemos nossas e apedrejar
o medo antes que ele nos transforme
em meras palavras

Sociólogo; Formador na área Comportamental e de Gestão de Recursos Humanos; colaboração escrita, em prosa e poesia, em diversos órgãos de Comunicação Social (Diário de Notícias, Diário Popular, Jornal de Sintra, Cidade Viva, etc); menção honrosa no Concurso Literário Manuel Laranjeira, Poesia, CM Espinho, 1986; 1º prémio de poesia nos Jogos Florais Junta de Freguesia da Ameixoeira (tema - a Guerra), 1997; blogue pessoal: vivo-em-sintra.blogspot.pt; membro da Plataforma Freguesias SIMtra; deputado municipal na AM Sintra e membro da Comissão Nacional do PS

1 comentário:

  1. É isso mesmo:"apedrejar o medo antes que ele nos transforme em meras palavras"

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