A reportagem
é antiga, de Julho 1912. Inflamada de retórica, de ideais republicanos, épica.
Não fora o número elevado de mortos, de ambos os lados dos contendores, e quase
nos ficava a impressão de que se tratou de uma justa medieva, entre Nobres
Cavaleiros, do Rei, e Cavaleiros Vilões ou Concelhios. Mas, não! Foi uma
situação verdadeiramente perigosa para Portugal. Ensaio sequencial de ataque e
defesa, fruto de uma atitude hostil que, durante mais de uma década, a elite
política portuguesa de ambos os lados, o Republicano e o Monárquico, foram
alimentando. Pelo meio o Povo, sofrido, esgotado pelo trabalho duro do
quotidiano, foi sempre a grande vítima.
Tirando esta
triste realidade, subjacente da reportagem da Ilustração Portuguesa, número
335, de 22 de Julho de 1912, desenvolvida ao longo de 26 páginas, constatamos
que a contenda, tanto política como armada, entre os dois antagonistas,
decorreu exclusivamente em ambiente de Revancha. Do lado Monárquico, um dos
mais brilhantes oficiais do Exército, Henrique Paiva Couceiro. Figura Ilustre
da História Portuguesa, na viragem do seculo século XIX-XX. De forte cunho
tradicionalista monárquico, ideólogo a quem chamavam de paladino da Causa Real
Portuguesa. Do outro, uma elite política, heterogénea, de raiz cosmopolita,
apoiada em lojas maçónicas tanto civis como militares.
Seja como
for esta foi a segunda de três tentativas, de restaurar a monarquia. Ocorreu entre
6 e 8 de Julho de 1912. Teve como estratégia a entrada de uma coluna militar,
armada e municiada em Espanha, pela fronteira de Chaves. Para daí marchar, com
apoio da população e das forças militares locais, sobre Lisboa. No caso
concreto do Casal da Carregueira, em Belas, este funcionava como ponto de apoio
“dissimulado” e, fazendo fé na reportagem, como possível paiol. Da profusa
foto-reportagem, aliás excelente e trabalhosa dada a época, duas fotos alusivas
a populares, chamam a atenção; a primeira, mostra-nos seis indivíduos, quatro
homens e duas mulheres, uma delas perfeitamente “alheada” da situação
retratada, pois está a fazer renda. A segunda é a família do caseiro do Casal
da Carregueira, em pose estática, própria de quem não sabe o que se passa. É
caso para dizer os Saloios não tinham culpa. Mas outros tiveram e muito, foram
julgados e temos notícia disso. Os vencedores, republicanos, seriam julgados
mais tarde num golpe de 28 de Maio de 1926, cuja designação foi muito
elucidativa: Ditadura Nacional. O povo…… esse “Mouro de Trabalho” em nada “teve
voto”, mas os Saloios, também, não tiveram culpa.
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