Até
nem precisaria de convidar o Presidente Basílio Horta para nos acompanhar na
subida. Desde que iniciou o mandato como Presidente da Câmara, já tantas vezes
terá feito este percurso que esta chamada de atenção apenas lhe servirá de
revisão da matéria. É a íngreme, sinuosa, belíssima e célebre Rampa da Pena,
permanente objecto da ofensa resultante de circulação acumulada de milhares e
milhares de automóveis que, ao longo de anos, todos os dias, a prejudicam de
todas as formas.
Directo
ao assunto, o que preocupa é o estado da estrada, nomeadamente, as bermas ou a
ausência das mesmas, as pedras soltas, grandes pedregulhos ameaçando queda, os
muros destruídos, meio tombados, escalavrados, árvores descarnadas, lixo
acumulado, em suma um desleixo de bradar aos céus que nos deixa
irremediavelmente envergonhados, desolados.
A
pé, como não raro o fazemos, a sensação é de total frustração, bem simbólica de
todo um estado de coisas, muito mais geral, que afecta todo o país. No entanto,
em Sintra, protagoniza uma lamentável atitude de ataque e de desrespeito pelo
património – que, ali, só podia e devia estar sendo defendido – como em
qualquer outro local, onde as memórias de cada um se cruzam e confundem com
experiências e vivências do passado e no presente, só possíveis porque o
espírito do lugar isso mesmo propicia.
“(…)
A estrada sinuosa vai contornando a serra como um abraço. Abóbadas de verdura
protegem-na do Sol, separam o viajante ciosamente da paisagem circundante. Não
se reclamem horizontes largos quando o horizonte próximo for uma cortina
cintilante de troncos e folhagens, um jogo infinito de verdes e de luz. (…)”
[José
Saramago, Viagem a Portugal, p. 173, 1ª ed., Círculo de Leitores, Lisboa, 1981]
Sabem
os meus leitores de há muitos anos que radicais motivos de defesa do ambiente
me têm determinado à proposta do encerramento ao trânsito de veículos
particulares para acesso aos pontos altos da Serra de Sintra. Contam-se por
dezenas, muitas, tanto no Jornal de Sintra como noutras publicações, também nas
redes sociais, as vezes em que tenho abordado esta matéria, louvando-me de
exemplos bem conhecidos por essa Europa fora. Neuschwanstein? Claro que sim,
por uma imediata analogia. Mas, tantos, tantos outros, onde o acesso motorizado
é totalmente impossível.
Teria
de recuar à década de noventa do século passado para vos lembrar a última
oportunidade em que aquela sábia medida foi concretizada. Aconteceu durante o
mandato de Edite Estrela que bem pode orgulhar-se de ter subscrito uma atitude
tão corajosa como culta e civilizada. Na sequência daquela benéfica prática,
aconteceu a lamentável reabertura do acesso a tais veículos, acabando por
incentivar e, paradoxalmente, potenciar a sua circulação com a instalação de
parques de estacionamento nas cercanias do Parque…
Parques
dissuasores de estacionamento, estrategicamente instalados nas zonas de
Ramalhão, Ribeira e Lourel, em articulação com carreiras de transportes
públicos para todos os destinos turísticos, incluindo os alternativos – desde
os veículos eléctricos ao funicular e às hipomóveis galeras de grande dimensão
– eis algumas das soluções que, muito mais cedo do que tarde, não podem deixar
de ser adoptadas em Sintra.
Actualmente,
sempre continuando a advogar a urgente concretização destas medidas, também sou
de opinião que será mais criterioso aguardar pela sua operacionalização para,
só então, encerrar definitivamente a Rampa da Pena. Entretanto, impõe-se que a
Câmara Municipal de Sintra providencie à imediata beneficiação da estrada em
relação aos aspectos referidos. Por todos os meios ao seu alcance. E, por
favor, sem delongas nem desculpas.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
Completamente de acordo Dr. João Cachado. Há que preservar a nossa serra e libertá-la do trânsito particular. Será uma medida radical como diz, uma medida que desagradará a muita gente mas absolutamente necessária. Um abraço amigo.
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