Museu das Artes de
Sintra - MU.SA! Ora aí temos, bem mais cedo do que jamais imaginaríamos, o novo
espaço museológico que, aproveitando as características de um edifício tão
interessante como é o Casino, permite explorar a subtil polivalência de
propostas que ali é possível concretizar para benefício dos munícipes e
visitantes em geral.
Apesar de tão bem a conhecer, fascina-me cada vez mais esta
grande casa da Heliodoro Salgado. Depois do inicial Casino, sem quaisquer jogos
de azar, Sintra exigiu-lhe cenas de Biblioteca Municipal – onde trabalhou a
grande figura da Cultura Portuguesa que foi o filósofo Manuel Lourenço – também
de Secção de Finanças ou Escola Preparatória e, mais recentemente, Museu de
Arte Moderna-Colecção Berardo.
Enfim, para nossa permanente surpresa, as sete vidas que lhe
vamos acrescentando, dele têm feito um verdadeiro felino, flexível, adaptável a
todas as circunstâncias… E, de facto, esgalhado pelo gabarito do Arquitecto
Norte Júnior, aquele edifício tem aguentado tudo o que se lhe pede, com uma
ductilidade fora do comum.
Ora bem, cumpre lembrar que, como tem sido público e notório,
através dos artigos nestas páginas dados à estampa ao longo dos últimos meses,
estive perfeitamente convencido de que o último pedido ao Casino tinha sido
oportunamente formulado, no sentido de acolher a designada Colecção Bartolomeu
Cid dos Santos, já que decorria dos termos do Protocolo celebrado entre a
autarquia e Maria Fernanda dos Santos.
A montante do MU.SA
Praticamente, desde o início do mandato do actual executivo
autárquico, se sabe que existiam divergências de interpretação de algumas e
importantes cláusulas do referido documento contratual. Naturalmente, tal
circunstância suscitou a necessidade de recorrer aos consultores jurídicos de
ambas as partes. De acordo com as informações que obtive, embora prolongadas e
ainda não concluídas, é de prever que as negociações tenham o desfecho que mais
convirá à salvaguarda tanto dos interesses da autarquia como da cedente.
Confortável com esta explicação, considerei que, dispondo da
mais-valia de tal edifício, não era possível protelar, sine die, a ocupação do
Casino que – entretanto, tal como tenho dado conhecimento – foi devidamente
beneficiado e dotado das condições necessárias e suficientes ao funcionamento
como espaço propício à promoção de exposições de artes plásticas permanentes e
temporárias. Pois bem, tanto quanto indaguei, foi neste contexto que se
evidenciou e concluiu como a solução MU.SA se revestia da maior pertinência.
Quando me apercebi de que, surpreendentemente, e em tempo
curtíssimo de trabalhos de preparação, a Câmara Municipal de Sintra já estaria
a perspectivar a reabertura para uma data tão próxima quanto era a do dia 17 do
corrente mês de Maio, procurei inteirar-me. Logo entendendo que era esse o meu
objectivo, o Vice-Presidente Rui Pereira, também Vereador com o Pelouro da
Cultura, sugeriu-me integrar o pequeno grupo que, no passado dia 9, se deslocou
ao Casino em visita de reconhecimento.
Se, em boa hora o fez, ainda em melhor aceitei eu o convite
porque, só assim, teria o privilégio de partilhar opiniões e impressões
indispensáveis à redacção destas linhas. Em primeiro lugar, gostaria de
sublinhar o facto de, já há alguns anos, ser este um projecto cuja
eventualidade de concretização foi objecto de frequente troca de impressões
entre técnicos dos serviços, tal como, participante activa da visita, a Dra.
Conceição Carvalho, assessora do Conselho de Administração da SintraQuorum,
teve oportunidade de recordar.
A verdade é que, ultimamente, esta mesma hipótese de montar
um museu no Casino ganhou novo realce depois de ter sido ventilada por Fernando
Castelo, no seu blogue Retalhos de Sintra, num texto em que propunha, além da
exposição das obras de pintura do valiosíssimo espólio municipal, também a
possibilidade de constituir um núcleo museológico com as peças oportunamente
doadas pela escultora Dorita de Castel-Branco e considerar mais outro espaço
para a realização de exposições temporárias.
Ao reconhecer o seu manifesto interesse, o Vice-Presidente
Rui Pereira, durante a conversa que comigo manteve antes da aludida visita, não
perdeu a oportunidade de me dar a entender como aquela proposta fora
determinante para a efectivação do projecto e, portanto, como a autarquia está
atenta às sugestões dos cidadãos.
A visita
Integrei-me, então, no tal grupo visitante que, contando com
a já mencionada Dra. Conceição, era composto pela Dra. Ana Santos, adjunta do
gabinete da Vice-Presidência, Dr. Carlos Vieira, Chefe da Divisão de Cultura,
Pintor Vitor Pi, fotógrafo Nuno Antunes, foi guiado pelo Coordenador do Núcleo
de Museus e Galerias de Arte da CMS, Mestre Jorge Martins, cuja estratégia e
coerência de opções teve oportunidade de connosco partilhar.
Uma das notas salientes é a presença da obra de Dorita, já
que não se limita à ocupação do núcleo museológico que, no rés-do-chão, à
direita de quem acede ao interior do edifício lhe é totalmente afecto. De
facto, quer na esplanada exterior quer no primeiro andar, algumas das suas
peças sublinham as afinidades de um percurso que o visitante deverá entender,
como será a da tapeçaria de grandes dimensões que, na parede fronteira, ao cimo
da escadaria, naquele impositivo patamar do primeiro andar, é um marco da
distribuição da pintura, da escultura e da fotografia do importante acervo do
município de Sintra.
À direita, teremos uma zona de homenagem a Emílio Paula
Campos, a quem é consignado o devido reconhecimento e destaque. Á partir daí se
parte para uma viagem que, através das sucessivas e contíguas salas, nos levará
à obra de consagrados, como Júlio Pomar, Milly Possoz, Cristino da Silva ou de
Adriano Costa, o pintor de Sintra, na apreciação de Fernando Pamplona no seu
“Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses”.
Obra de Júlio Pomar de 1942 no MU.SA
Neste piso, um lógico circuito vai privilegiando a paisagem,
desde obras figurativas, até à abstracção, num bem encadeado novelo de
conotações, igualmente circulando por uma componente espacial em que se
articulam obras premiadas no Concurso D. Fernando II, finalizando com a
vertente da fotografia. Depois de descer e retomar o rés-do-chão, eis um espaço
afecto às exposições temporárias – a primeira das quais dedicada a Vitor Pi – e
o Lab.Art, zona de lugar à vanguarda, cuja primeira iniciativa contemplará a
instalação “Entrentrente” de Jorge Cerqueira.
Pendentes
Não poderia deixar de aproveitar a oportunidade para lembrar
que, ininterruptamente, entre 2005 e 2013, o “World Press Cartoon” viveu 9
edições, de início, no Centro Cultural Olga Cadaval e, posteriormente, no
Casino. Trata-se de um evento anual do maior interesse que já está
indissociavelmente ligado a Sintra e que Sintra não tem qualquer vantagem em
perder para um enquadramento alheio.
Final e compreensivelmente, o grande destaque de pendência
para a Colecção Bartolomeu Cid dos Santos. Como é sabido, além do espólio do
grande artista, cujo magistério na Slade School de Londres ainda hoje é
reclamado pelos maiores gravadores mundiais, a Colecção integra um núcleo de
obras assinadas pelos mais prestigiados pintores portugueses contemporâneos,
tais como Paula Rego, Vieira da Silva ou Júlio Pomar, bem como peças do também
seu amigo Francis Bacon, um conjunto perfeitamente deslumbrante que, não tenho
a mínima dúvida, passarão a constituir um extraordinário polo de atracção
cultural em Sintra. Tendo sido prevista para o Casino, há que lhe equacionar a
melhor solução.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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